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Comentário sobre “Mulheres e discursos”. Rio de Janeiro, Contra Capa. (Coleção Opção Lacaniana). 

Uma poética do falo à mulher que não existe

Heloisa Silva Teixeira (Associada ao CLIN-a)

Brousse se refere ao falo como “opera-dor” de uma perda que dá suporte ao sujeito quando este é uma mulher. Haveria a presença de uma “dor”, indizível, no lugar de um vazio, uma inexistência, litoral de ausência em que se pode escrever algo. Uma escrita feminina, litorânea e literária, uma a uma, ou Uma-sozinha, às escondidas.

Uma perda que supõe um vazio de algo alí desde antes a ser reencontrado depois e que faz apelo a um significante que o constitui em si mesmo e o causa.

Seria o gozo Outro que estaria escondido e até impedido nas mulheres? Ou a mulher, ela mesma, que como objeto se esconde. Que desperte o subversivo que nos concerne a fim de fazer-se ver e fazer algo com o ilimitado do gozo como tal!

Como o falo se encontra com o mistério do corpo feminino?

Por uma poética, tomamos o falo como literalmente Outro, com função de escabelo para uma escrita onde o corpo feminino vai se fazendo como peças soltas,  retalhos que vão se alinhavando, texto-tecitura que enlaça o corpo do Outro.

Efeito feminizante de um “já sabido”, sempre sintomático e mutante. Letras de amor como o que cai de um dizer que faz litoral, como o mais vivo de um saber novo para que algo ande.

Que vazio é este que se esconde ao meu lado?

 

Som de fundo, eco eloquente

Qual berrante emana e derrama

Espinho insano em mim se encerra

Como lava quente toca a carne quieta

O que estaria atrás, como causa?

 

Insisto de vez nestes percalços

Segurando firme na mão do desejo

Saio de dentro do oco, deixo pegadas

Pedaços de letras escondidas no porão

E então, poesia, te encontro ao me fazer mulher

 

Das letras guardadas, perdidas estavam

Amassadas e esquecidas, no fundo rasgado

Entorpecidas de sentidos e ideais

Emaranhadas em tecidos, amordaçadas

Letra indizível, tornar-se-a litoral

 

Esguia, lânguida e sorrindo

Eu, mulher, olho a som-bra que me desenha

Som barrado que ecoa por entre as letras

Subverto cada sentido que me amor-daça

Escondo o que não existe, a mulher desalinhada

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