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Paola Salinas (EBP/AMP)

O tabu da virgindade é abordado e justificado devido à hostilidade e ao desejo de vingança que o defloramento provocaria. Ao desenvolver correlações sobre o tema, Freud destaca a frigidez como aspecto importante na vida sexual da mulher, articulando ao Édipo e ao complexo de castração. Associa tal hostilidade, na base do tabu, à inveja do pênis e ao protesto de masculinidade.

A valorização da virgindade seria a extensão do direito de propriedade à mulher, incluindo seu passado, o que é natural e indiscutível para o homem da época; daí a incompreensibilidade do tabu presente nos povos primitivos, os quais, para evitar a hostilidade do defloramento, o fariam em rituais antes do casamento.

Tal valorização se associa à servidão sexual, dependência de uma pessoa com quem há envolvimento sexual, base do matrimônio, explicada em função da repressão sexual feminina, chegando ao sacrifício dos interesses pessoais.

Contudo, tal valorização também ocorre nos povos primitivos, ao ponto do defloramento ter se tornado tabu, proibição de cunho religioso frente à presença de um perigo, ainda que psicológico, segundo a definição freudiana.

Freud toma o horror à efusão de sangue e a angústia frente a todo ato primeiro, como possíveis motivos para o tabu. Contudo, destaca a importância do defloramento em relação à resistência sexual vencida e o fato de ocorrer apenas uma vez. Estamos diante de um acontecimento intenso e único, que tem o peso de um ato.

Este ato traz uma nova significação pelo furo no saber que engendra, presença de algo incompreensível e inquietante, por vezes tratado em rituais de passagem.

Crawley fala da abrangência do tabu em quase toda a vida sexual: “quase poderia se dizer que a mulher é um tabu em sua totalidade. Não somente em situações derivadas da sua vida sexual, menstruação, gravidez, parto e puerpério”2, exemplificando pela necessidade de afastamento das mulheres, em alguns povos, na época de caça, guerra ou colheita.

Verificamos nesse afastamento um temor fundamental à mulher. Esta ocupa o lugar de enigma, e algo disso persiste. A mulher encarna tal diferença em seu corpo.

Neste ponto, Freud fala do narcisismo das pequenas diferenças: “cada indivíduo se diferencia dos demais por um tabu de isolamento pessoal que constitui as pequenas diferenças entre as pessoas, que quanto ao restante são semelhantes, e constituem a base dos sentimentos de estranheza e hostilidade entre eles”3. Poderíamos hipotetizar a repulsa narcisista à mulher.

Embora Freud diga que o tabu com a mulher em geral não esclarece o tabu da virgindade, abre uma questão sobre o lugar do feminino.

Os motivos levantados não explicam o tabu, a intenção de negar ou evitar ao marido algo que seria inseparável do primeiro ato sexual, mesmo que dali surja uma ligação intensa da mulher com o marido.

A gênese do tabu tem uma ambivalência original, que podemos articular à alteridade que a mulher representa. A relação entre o primeiro coito e a frigidez, estaria de pleno acordo com o perigo psíquico que o defloramento traz à tona. O gozo, pelo avesso, a frigidez, marca um funcionamento pulsional outro, articulado à proibição frente à sexualidade feminina.

Freud destaca a ofensa narcísica que o coito pode assumir pela destruição do órgão (hímen) e pela perda do valor sexual da mulher dele decorrente. Com maior importância fala do poder da distribuição inicial da libido, a fixação intensa da libido em desejos sexuais infantis. Nas mulheres, a libido estaria ligada ao pai ou ao irmão, sendo o marido sempre um substituto.

Destaca a inveja do pênis anterior à fase da escolha do objeto amoroso, mais próxima do narcisismo primitivo do que do objeto de amor. Haveria, portanto, algo do narcisismo feminino em jogo nesta hostilidade, hipótese que podemos aprofundar.

__________________________ 1 FREUD, S. “O tabu da virgindade (Contribuições à psicologia do amor III) (1918 [1917]). In: Edição Standard. Vol. XI, Imago: Rio de Janeiro. 1970. 2 _______. Op. Cit. P. 183. N.A.: Freud refere-se à Crawley (1902), Ploss and Bartels (1891), Frazer (1911) e Havelock Ellis [1913]. 3 _______. Op. Cit. P. 184.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E MARCADORES DE LEITURA

Jornadas Fora da Série – Subversões – Boletim 05

Imagem: Pixabay

Referências bibliográficas

Lacan, J. (1960/1998). “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 807-842.

“Mas o que não é mito, e que Freud no entanto formulou tão logo formulou o Édipo, é o complexo de castração.

Encontramos neste complexo a mola mestra da própria subversão que aqui tentamos articular com sua dialética. Pois, propriamente desconhecido até Freud, que o introduz na formação do desejo, o complexo de castração já não pode ser ignorado por nenhum pensamento sobre o sujeito.” (p. 835)

“Aquilo a que é preciso nos atermos é que o gozo está vedado a quem fala como tal, ou ainda, que ele só pode ser dito nas entrelinhas por quem quer que seja sujeito da Lei, já que a lei se funda justamente nessa proibição.” (p. 836)

Lacan, J. (1958/1998). “A direção do tratamento e os princípios de seu poder”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 591-652.

Quem analisa hoje?

“O psicanalista certamente dirige o tratamento. O primeiro princípio desse tratamento, o que lhe é soletrado logo de saída, que ele encontra por toda parte em sua formação, a ponto de ficar por ele impregnado, é o de que não deve de modo algum dirigir o paciente.” (p.592)

Qual é o lugar da interpretação?

“Nossa doutrina do significante é, para começar, disciplina na qual aqueles a quem formamos se exercitam nos modos de efeito do significante no advento do significado, única via para conceber que, ao se inscrever aí, a interpretação possa produzir algo novo.” (p. 600)”

Como agir com seu ser

“À medida que se desenvolve uma análise, o analista lida alternadamente com todas as articulações da demanda do sujeito. Mas só deve, como diremos mais adiante, responder aí a partir da posição da transferência.” (p. 625)

É preciso tomar o desejo ao pé da letra

“O desejo é aquilo que se manifesta no intervalo cavado pela demanda aquém dela  mesma, na medida em que o sujeito, articulando a cadeia significante, traz à luz a falta-a-ser com o apelo de receber seu complemento do Outro, se o Outro, lugar da fala, é também o lugar dessa falta.” (p. 633)

Lacan, J. (Novembro, 2015). “Nota sobre o Pai”. Opção Lacaniana, (71): p.7.

“Parece-me que em nossa época o vestígio, a cicatriz da evaporação do pai é o que poderíamos situar sob a rubrica e o título geral de segregação. “(p. 7)

“Acreditamos que o universalismo, a comunicação de nossa civilização homogeneíza as relações entre os homens. Eu penso o contrário: que o que caracteriza nosso século – e não podemos deixar de perceber isto – é uma segregação ramificada, reforçada, que se sobrepõe em todos os graus, e não faz senão multiplicar as barreiras.” (p. 7) 

Lacan, J. (1968-1969/2008). O Seminário, livro 16: de um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

“O enunciado de que o Outro não encerra saber algum, nem já presente, nem a surgir num estatuto de absoluto, não encerra nada de subversivo.” (p. 62)

“O Outro fornece apenas a textura do sujeito, ou seja, sua topologia, aquilo mediante o qual o sujeito introduz uma subversão, sem dúvida, mas que não é apenas a dele. No sentido em que a destaquei e a coloquei no título de um escrito, tratava-se da subversão do sujeito em relação ao que se havia enunciado até aquele momento. Mas a subversão de que se trata aqui é a que o sujeito certamente introduz, mas da qual se serve o real, que, nesta perspectiva, define-se como o impossível. Ora, no ponto exato em que ele nos interessa, só existe sujeito de um dizer.” (p.64)

Lacan, J. (1972-1973/1985).  O Seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

“[…]. O significado acha seu centro onde quer que vocês o carreguem. E, até nova ordem, não é o discurso analítico, tão difícil de sustentar em seu descentramento, e que ainda não teve entrada na consciência comum, que pode de modo algum subverter o que quer que seja.” (p. 59)

“A subversão, se ela existiu em algum lugar e em algum momento, não é ter-se trocado o ponto de rotação do que gira, é ter-se substituído o isso gira por um isso cai.” (p. 59)

Lacan, J. (1967/2003). “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”. In Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 248-264.

“Pode alguém duvidar agora de que, ao relacionar com o sujeito do cogito aquilo que nos revela o inconsciente, de que, ao haver definido a distinção entre o outro imaginário, familiarmente chamado pequeno outro e o lugar de operação da linguagem, postulado como sendo o grande Outro, eu indique com bastante clareza que nenhum sujeito é suponível por outro sujeito, se esse termo tiver que ser tomado pelo lado de Descartes?” (p. 252)

“O que nos importa aqui é o psicanalista em sua relação com o saber do sujeito suposto, não secundária, mas direta.” (p. 254)

“A passagem de psicanalisante a psicanalista tem uma porta cuja dobradiça é o resto que constitui a divisão entre eles, porque essa divisão não é outra senão a do sujeito, da qual esse resto é a causa.” (p. 259)

Lacan, J. (1970/2003). “Radiofonia”. In Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 400-447.

“Que o sujeito não seja aquele que sabe o que diz, quando efetivamente alguma coisa é dita pela palavra que lhe falta, bem como no ímpar de uma conduta que ele julga ser sua, isso torna pouco confortável alojá-lo no cérebro com que ele parece se socorrer, sobretudo quando ele dorme (aspecto que a atual neurofisiologia não desmente) – é essa, evidentemente, a ordem de fatos que Freud chama de inconsciente.” (p. 403)

“O inconsciente, como se vê, é apenas um termo metafórico para designar o saber que só se sustenta ao se apresentar como impossível, para que, a partir disso, confirme-se ser real (entenda-se, discurso real).” (p. 423)

Freud, S. (1898-1935/2018). “Sobre a Sexualidade Feminina (1931)”. In Amor, Sexualidade, Feminilidade. Obras Incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p. 285-311.

I

“[…] essa fase de ligação com a mãe permite suspeitar de uma íntima relação com a etiologia da histeria, o que não deve surpreender, se percebemos que ambas, a fase e a neurose, pertencem ao caráter singular da feminilidade, e, além disso, que podemos encontrar nessa dependência da mãe o gérmen da futura paranoia na mulher. Pois esse bem parece ser o medo [Angst] surpreendente, mas sistematicamente encontrado, de ser morta (devorada?) pela mãe.” (p. 288)

II

“[…]. Só um terceiro desenvolvimento, bastante indireto, desemboca na normal configuração feminina final, a que toma o pai como objeto e assim encontra a forma feminina do complexo de Édipo. Portanto, o complexo de Édipo na mulher é o resultado final de um longo desenvolvimento; ele não é destruído pela influência da castração, mas criado por ele; ele escapa das intensas influências hostis que atuam no homem como destruidoras e, inclusive, muito frequentemente, não é absolutamente superado pela mulher.” (p.291)

Freud, S. (1933-1932/ 1986) “Feminilidade”. In Obras completas de Sigmund Freud, vol. XXII. Rio de Janeiro: Editora Imago, p. 113-134.

“[…]. De acordo com sua natureza peculiar, a psicanálise não tenta descrever o que é uma mulher – seria esta uma tarefa difícil de cumprir -, mas se empenha em indagar como é que a mulher se forma, como a mulher se desenvolve desde a criança dotada de disposição bissexual.” (p. 117)

“A descoberta de que é castrada representa um marco decisivo no crescimento da menina. Dai partem três linhas de desenvolvimento possíveis: uma conduz à inibição sexual ou à neurose, outra, à modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade, a terceira, finalmente, à feminilidade normal.” (p. 126)

Freud, S. (1924/1986) “A dissolução do complexo de Édipo”. In Obras completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Editora Imago, p. 191-199.

“[…]. Se a satisfação do amor no campo do complexo de Édipo deve custar à criança o pênis, está fadado a surgir um conflito entre seu interesse narcísico nessa parte de seu corpo e a catexia libidinal de seus objetos parentais. Nesse conflito, triunfa normalmente a primeira dessas forças: o ego da criança volta as costas ao complexo de Édipo.” (p. 196)

“Uma criança do sexo feminino, contudo, não entende sua falta de pênis como sendo um caráter sexual; explica-a presumindo que, em alguma época anterior, possuíra um órgão igualmente grande e depois perdera-o por castração. Ela parece não estender essa inferência de si própria para outras mulheres adultas, e sim, inteiramente segundo as linhas da fase fálica, encará-las como possuindo grandes e completos órgãos genitais – isto é, masculinos. Dá-se assim a diferença essencial de que a menina aceita a castração como um fato consumado, ao passo que o menino teme a possibilidade de sua ocorrência.” (p. 198)

Miller, J-A. (Fevereiro, 2005) Uma fantasia. Opção Lacaniana (42), p. 7-18

“Vemos aqui onde conduz minha fantasia. E não posso fazer outra coisa senão prosseguir, o que me leva a pensar que o discurso da civilização hipermoderna tem a estrutura do discurso do analista!” (p. 9)

“Hoje, se isso for verdade, se minha fantasia conduz a algum lugar – o que ainda está para ser visto -, o discurso da civilização não é mais o avesso da psicanálise. É seu sucesso. Bravo! Bela jogada! Mas, de saída, isso põe em questão tanto o meio da psicanálise, isto é, a interpretação, quanto seu fim e até mesmo seu começo.” (p. 10)

Miller, J-A. (2011) “A salvação pelos dejetos”. In Perspectivas dos Escritos e Outros Escritos de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, p. 227-233

“O que é o dejeto? O termo tem muitas ressonâncias para aqueles que, mesmo que rapidamente, percorrem o ensino de Lacan. É o que é rejeitado e especialmente rejeitado ao cabo de uma operação onde só se retém o ouro, a substância preciosa a que ela leva. O dejeto é o que os alquimistas chamavam de caput mortuum. É o que cai, é o que tomba quando, por outro lado, algo se eleva.” (p. 228)

“Quando o gozo é elevado à dignidade de Coisa, ou seja, quando ele não é rebaixado a indignidade do dejeto, ele é sublimado, ou seja, socializado. O que chamamos de “sublimação” efetua uma socialização do gozo. O gozo é socializado, quer dizer, integrado ao laço social, ao circuito das trocas. Ele é colocado a trabalho no discurso do Outro e para o seu gozo.” (p. 229)

Miller, J-A. Questão de Escola: Proposta sobre a Garantia. In: Opção Lacaniana online nova série. Ano 8, n° 23, julho 2017, p. 1-5

O algoritmo do mestre

“Seguindo Lacan, o capitalismo substitui o significante-mestre pelo sujeito dividido no lugar acima e à esquerda do esquema, que é o lugar do semblante. Em termos políticos, dizemos “individualismo democrático”.” (p.1)

O psicanalista no plural

“Que relação o psicanalista quer manter com o discurso do mestre entendido em toda a sua generalidade? Ele não é reconhecido como tal no discurso do mestre e não demanda esse reconhecimento; pelo contrário, até pede que não seja reconhecido.” (p. 2)

Miller, J-A. (Agosto, 2004). Lacan e a política. In: Opção Lacaniana (40), p. 7-20.

“[…]. A desidealização da política não é um infortúnio da democracia, mas seu destino, sua lógica, e, se assim posso dizer, seu desejo.” (p.14)

“[…]. A psicanálise […]. é, portanto, incompatível com toda a ordem do tipo totalitário, que reúne nas mesmas mãos o político, o social, o econômico e até mesmo o religioso. Ela tem parte interessada com a liberdade de expressão e com o pluralismo.” (p.15)

“[…]. Uma revolução é feita para retornar ao ponto de partida.

A psicanálise não é revolucionária, mas ela é subversiva, o que não é semelhante, e pelas razões que já esbocei, ou seja, porque ela vai contra as identificações, os ideais, os significantes mestres.” (p. 16)

Laurent, E. (2016). “O falasser político”. In O avesso da biopolítica. Uma escrita para o gozo. Rio de Janeiro: Contra Capa, p. 201-219.

“[…] se a formulação “a política é o inconsciente” tem validade, é para a política segundo Freud, a política articulada ao pai.

Em contrapartida, o dito de Lacan  ― “o inconsciente é a política” ― parte não do pai, e sim do inconsciente como o que está “a ser definido” […], já que nos levam a considerar o acontecimento de corpo no inconsciente político.” (p. 201)

“A extensão da perspectiva do inconsciente político ao falasser nos leva aos limites do questionamento psicanalítico sobre a relação do sujeito com o discurso. Ao centrá-lo sobre o acontecimento de corpo e não sobre uma identificação, aceitamos seguir Lacan na zona em que o sujeito se mantém fora da garantia do “complexo de Édipo”.” (p. 219)

“O discurso psicanalítico é um instrumento poderoso para que o questionamento sobre os discursos, os corpos e seus gozos, assim como sobre suas potencialidades delirantes,  seja partilhado pelo maior número possível de sujeitos do corpo político.” (p. 219)

 

Laurent, E. (Dezembro, 2013) O racismo 2.0. Opção Lacaniana, (67): p. 31-35.

“[…]. O racismo efetivamente muda seus objetos à medida que as formas sociais se modificam, mas, segundo a perspectiva de Lacan, sempre jacente em uma comunidade humana, a rejeição de um gozo inassimilável provém de uma barbárie possível.” (p. 32)

“Se Lacan insistiu nessa dimensão do racismo na “Proposição…”, foi para enfatizar que todo conjunto humano comporta em seu cerne um gozo desgarrado, um não-saber fundamental sobre o gozo que corresponderia a uma identificação. O psicanalista é simplesmente aquele que deve saber isto para constituir a comunidade daqueles que se reconhecem como psicanalistas.” (p. 34)

Laurent, E. (2018). “La servidumbre voluntaria y la pregunta por la mujer en el siglo XXI”. In: Feminismos: variaciones, controversias. Olivos: Grama Ediciones, p. 73-76.

“[…]. Esta denuncia de Beauvoir, de que la mujer, pura existencia, no tendría otro ser que aquel que el discurso de los hombres pronuncian sobre ella, es lo que Lacan llamó la difamación de las mujeres”. (p. 73)

 La tentación histérica de Occidente

“Lo que hay, sobre todo del lado occidental, es la manera de defender el “para todo”, que es el estatuto de la histeria. […]. Lo que solo es sostenible por Una mujer, el sujeto histérico se encarniza en querer que las propuestas sean tales que puedan ser dichas “para toda mujer”. Que frente al “para todo hombre”, frente a la función fálica que define el “todo hombre”, respondería en espejo el “todo mujer”. Eso es la paridad histérica, una manera de preservar también, aunque no al modo de la tiranía machista, la función de LA mujer” (p. 74-75).

Introducir hombres y mujeres en la singularidad de su síntoma

“En consecuencia el discurso psicoanalítico trata de operar sobre este discurso para que hombres y mujeres den un paso más allá en lo que sería el desvelamiento de su relación, ya no para defender el “para todos”, de un lado y de otro, sino para introducirles en la singularidad de su síntoma, para que éste se convierta en el operador del programa de goce que es a la vez síntoma y fantasma pero que, sobre todo, trata de situarse en la articulación y más allá de la clínica en tanto que ella establece categorías generales más o menos extensas. El síntoma es a la vez un operador de disolución de los “para todos”” (p. 75).

Brousse, M-H. O que é uma mulher? Entrevista com Marie-Hélène Brousse In: Latusa Digital. Ano 9, n° 49, Junho de 2012, p. 1-39

O segundo ponto: a questão da identificação

“A passagem que Lacan vai realizar, vamos dizer, a revolução lacaniana, consiste em considerar novamente a questão do feminino, mas, dessa vez, a partir da questão do gozo: não a partir da questão do emblema, da insígnia, não pela questão do fetiche, da mascarada, não pela questão das identificações, e sim a partir da questão do gozo.” (p.14)

“Para resumir, diria, então, que esse gozo feminino no qual o ensino de Lacan desemboca, perto de seu final, é um gozo outro, é um gozo, portanto, que não é ligado a um órgão, que não está ligado às representações e à ordem significante, que está, portanto, para além do sentido sexual ou do sexo como sentido. É, por conseguinte, a problematização de uma posição feminina para além da função paterna.” (p. 19)

“Portanto, podemos dizer que, para Lacan, há um mais além do Édipo e é a partir do mais além do Édipo — o que quer dizer, não sem o Édipo, vocês podem senti-lo — há um mais além do Édipo que permite definir alguma coisa da ordem do feminino, simplesmente isso não se define em termos de poder, não se define em termos de grupo, não se define em termos de emblema e de identificação.” (p. 20)

Brousse, M-H. (Agosto, 2013) Em Miami, ou o sintoma como sex-symbol. In: Opção Lacaniana, (66): p. 79-83.

“Joan Cpjeck, ontem à tarde, utilizando o método da análise dos discursos, mostrou em sua conferência porque o discurso feminista tinha rejeitado e rejeita ainda hoje a psicanálise: esse discurso recusa o que ela chamou de “the promiscuity of sexe” (“a promiscuidade do sexo”). Tentarei, utilizando o método clínico, mostrar porque o feminismo é um modo de fazer sintoma desta mesma “promiscuidade do sexo.” (p.79)

“Como ressaltou magistralmente Miller em uma conferência dada nos EUA, na Kent State University, o Édipo freudiano, quer dizer, o complexo de castração, é uma máquina de produzir uma identificação e uma escolha de objeto.” (p. 80)

“Passar do feminismo como sintoma ao sintoma analítico é passar do discurso do mestre ao discurso analítico. Este último não coloca no lugar de poder um significante, homem ou mulher, por exemplo, mas um objeto pulsional, qualquer que seja, para um dado sujeito. O discurso analítico não gere, portanto, os grupos sociais. Ele visa os uns, sozinhos. A definição do feminino que Lacan dá no Seminário Mais ainda é uma tentativa de subverter o julgamento universal. É, a meu ver, a única possibilidade de pôr em xeque a segregação, sem, nela, negar a necessidade lógica.” (p.83)

Bassols, M. O feminino, entre centro e ausência  In: Opção Lacaniana online nova série. Ano 8, n° 23, julho 2017, p. 1-15

 Borda, limite e fronteira

“[…]. Uma borda que tende ao infinito, um limite que deixa sempre aberta a série de seus elementos. De fato, o que chamamos de corpo falante e seus orifícios se apresentam muitas vezes na experiência subjetiva, seja no sonho ou na experiência de um gozo estranho, com esta dimensão de borda sem limites. Esta dificuldade de localização do feminino que necessita recorrer a uma lógica e a uma topologia distintas da lógica binária do significante e do espaço métrico do contável, tem muito em comum com o espaço e a posição do analista tal como Lacan a situou na experiência analítica.” (p.3)

 A bússola do objeto

[…] “Quando falamos de litoral não há “entre”, não há reciprocidade nem há relação proporcional possível entre os dois espaços. Esta é a não relação entre os sexos produzida pelo campo do gozo. O feminino não sabe de fronteiras.” (p.7)

 Solidão à segunda potência

“O espaço do feminino se produz, existe, entre centro e ausência, entre o centro simbolizado pelo falo e a ausência mais radical, a que se produz na solidão do gozo feminino quando o sujeito se confronta com sua própria ausência. É a solidão, se me permitem dizer assim, elevada à segunda potência, difícil de alcançar. Na realidade é uma ausência e uma solidão para ninguém, porque é ausência só para outra ausência.” (p.8)

Holguin, C. (Septiembre de 2017) En la política de los seres hablantes, el analista es un arma. In: Bitácora Lacaniana 6, Revista de Psicoanálisis de la Nueva Escuela Lacaniana, Olivos: Grama Ediciones, p.19.

“Al tiempo que se interroga, cómo hacer existir el psicoanálisis hoy, cómo podrá sobrevivir el psicoanálisis confrontado a la inexistencia del A y el retorno “sensacional” del amo, donde predominan los actos de segregación, exterminio y violencia, que amenazan el discurso analítico y la democracia que es su condición; se propone que el campo de la política aparezca como un nuevo frente de acción para el psicoanalista. Debe el psicoanálisis conservar la misma distancia frente a la política que antes?” (p.19)

“Es una convocatoria al analista-ciudadano. Tomar posición pública, además de redoblar la apuesta hecha por Lacan frente al malestar de la civilización: retoma “la política” como inherente al psicoanálisis.” (p.20)

“Para hacer existir el psicoanálisis, y que no se rindan las armas frente a los impasses de la civilización, Lacan propone a través de su metáfora bélica, un analista-arma y una Escuela-base-de-operaciones. Que un analista pueda responder a la altura de la civilización que le corresponde y que su Escuela sirva de resguardo al malestar propio de ella, fue la preocupación de Lacan, que hacemos nuestra.” (p.21)

Marcadores de leitura

Comentário sobre O Seminário, livro 17: o avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Antônio Alberto Peixoto de Almeida (Associado ao CLIN-a)

O gozo, em Lacan  , é, antes de tudo, sexual – o que tem diversas incidências na vida do sujeito. Dentre as muitas exposições, o autor elabora a teoria dos discursos tendo este elemento como mote principal. Ela gira em torno de quatros elementos fundamentais: $, a, S1 e S2.

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Comentário sobre “Psicologia de grupo e análise do ego”. In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Editora Imago, p. 79-154.  

Tissiane Gushiken da Silva (Associada ao CLIN-a)

O que se mantém nos grupos é que os discordantes do enamoramento com determinadas ideias, ideais ou líderes, são considerados inimigos, dignos de ódio e repulsa. Muito evidente na polarização vista em comentários e na “cultura de cancelamento” . Na era digital, pode haver um líder, uma ideia para todos, ou para cada um, ou seja, cada um o toma a sua maneira e faz um uso dele, simultaneamente, o álibi é o grupo.

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Comentário sobre “Intuições Milanesas II”. In Opção Lacaniana online nova série. Ano 2, nº 6, novembro 2011, p.1-21

Gabriela Ponte Rodrigues (Associada ao CLIN-a)

“Ao lado do corpo anatômico, seria possível colocar em questão o corpo vivo, distingui-lo dele. Sobre o corpo vivo, na medida em que ele fala e que a palavra condiciona seu gozo, talvez fosse possível dizer que ele faz o destino. Mas nessa passagem do seu Seminário, Lacan realiza um deslocamento de “a anatomia é o destino” para o “inconsciente é a política”.

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Comentário sobre “Mulheres e discursos”. Rio de Janeiro, Contra Capa. (Coleção Opção Lacaniana). 

Heloisa Silva Teixeira (Associada ao CLIN-a)

Brousse se refere ao falo como “opera-dor” de uma perda que dá suporte ao sujeito quando este é uma mulher. Haveria a presença de uma “dor”, indizível, no lugar de um vazio, uma inexistência, litoral de ausência em que se pode escrever algo. Uma escrita feminina, litorânea e literária, uma a uma, ou Uma-sozinha, às escondidas.

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Breve comentário sobre o texto “A subversão feminina” – ou por que lê-lo

Flávia Machado Seidinger Leibovitz (Associada ao CLIN-a)

Por obra deste boletim, temos a sorte de ler traduzido o texto de Gabriela Camaly (EOL/AMP). Venho reiterar a indicação, buscando que singular ele agrega às subversões plurais no litoral em que traça entre a política dos feminismos e a política da psicanálise.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E MARCADORES DE LEITURA

Jornadas Fora da Série – Subversões – Boletim 04

Referências bibliográficas

 Lacan, J. (1960/1998). “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 807-842.

“O que nos qualifica para proceder por essa via é, evidentemente, nossa experiência dessa práxis. O que nos determinou a isso, como atestarão os que nos seguem, foi uma carência da teoria, reforçada por um abuso em sua transmissão, os quais, por não deixarem de ser perigosos para a própria práxis, resultam, tanto um quanto o outro, numa ausência total de status científico. Formular a questão das condições mínimas exigíveis para tal status não era, talvez, um ponto de partida desonesto. Constatou-se que ele leva longe.” (p. 808)

“Mas o francês diz: Là où c’était… Sirvamo-nos do benefício que ele nos oferece de um imperfeito claro. Lá onde isso era, estava no instante exato, lá onde isso era, estava um pouquinho, entre a extinção que ainda brilha e a eclosão que tropeça, [Eu] posso vir a sê-lo, por desaparecer de meu dito.

Enunciação que se denuncia, enunciado que renuncia a si mesmo, ignorância que se dissipa, oportunidade que se perde, que resta aqui senão o vestígio do que é realmente preciso que exista para cair do ser?” (p. 816)

“É portanto preciso levar muito mais longe, diante de vocês, a topologia que elaboramos para nosso ensino neste último lustro, ou seja, introduzir um certo grafo que prevenimos garantir apenas, entre outros, o emprego que faremos dele, tendo sido construído e ajustado a céu aberto para situar, em sua disposição em patamares, a estrutura mais amplamente prática dos dados de nossa experiência. Ele nos servirá aqui para apresentar onde se situa o desejo em relação a um sujeito definido por sua articulação pelo significante.” (p. 819)

Lacan, J. (1969-70/1992). O Seminário, livro 17: o avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Aula I – Produção dos quatro discursos

“Há uma relação primitiva entre o saber e o gozo, e é ali que vem se inserir o que surge no momento em que aparece o aparato do que concerne ao significante. É desde então concebível que, desse surgimento do significante, releiamos sua função.” (p.16)

 

“Portanto, prossigo. É na juntura de um gozo – e não de qualquer um, ele sem dúvida deve permanecer opaco -, é na juntura de um gozo privilegiado entre todos – não por ser o gozo sexual, pois o que esse gozo designa por estar na juntura é a perda do gozo sexual, é a castração -, é em relação à juntura com o gozo sexual que surge, na fábula freudiana da repetição, o engendramento daquilo que lhe é radical, e dá corpo a um esquema articulado literalmente. Tendo surgido S1, primeiro tempo, repete-se junto S2. Desse estabelecimento de relação surge o sujeito que algo representa uma certa perda, a respeito da qual vale a pena haver feito esse esforço em direção ao sentido para compreender a ambiguidade.” (p.16-17)

Aula VIII- Do mito à estrutura

“Na verdade, não se trata só da morte do pai, mas do assassinato do pai, como igualmente colocou muito bem no título de sua interrogação a pessoa de quem estou falando. É aí, no mito de Édipo tal como nos é enunciado, que está a chave do gozo.” (p. 113)

“O mito de Édipo, no nível trágico em que Freud se apropria dele, mostra precisamente que o assassinato do pai é a condição do gozo. Se Laio não for afastado – no decorrer de uma luta em que, aliás, não é seguro que por este passo Édipo vá herdar o gozo da mãe –, se Laio não for afastado, não haverá esse gozo. Mas será à custa desse assassinato que ele o obtém?” (p. 113)

“Tal como se enuncia, não mais no nível do trágico, com toda a sua leveza sutil, mas no enunciado do mito de Totem e Tabu, o mito freudiano é a equivalência entre o pai morto e o gozo. Eis o que podemos qualificar com a expressão operador estrutural.

Aqui, o mito se transcende por enunciar, na qualidade de real – pois este é o ponto em que Freud insiste –, que isso aconteceu realmente, que é o real, que o pai morto é aquele que tem o gozo sob sua guarda, é de onde partiu a interdição do gozo, de onde ela procedeu.” (p. 116)

“O discurso do mestre nos mostra o gozo como vindo ao Outro – é ele quem tem os meios. O que é linguagem não o obtém a não ser insistindo até produzir a perda de onde o mais-de-gozar toma corpo.

Primeiro, a linguagem, mesmo a do mestre, não pode ser outra coisa senão demanda, demanda que fracassa. Não é de seu êxito, é de sua repetição que se engendra algo que é uma outra dimensão, que chamei de perda – a perda de onde o mais-de-gozar toma corpo.” (p.117)

“[…]. Não há outro ato a não ser o ato que se refere aos efeitos dessa articulação significante e que comporta toda a sua problemática – com, por um lado, o que comporta, ou melhor, o que é, de queda da própria existência do que quer que possa ser articulado como sujeito, e, por outro lado, o que ali preexiste como função legisladora.” (p.118)

“A verdadeira mola propulsora é esta aqui – o gozo separa o significante-mestre, na medida em que se gostaria de atribuí-lo ao pai, do saber como verdade. Tomando o esquema do discurso do analista, o obstáculo constituído pelo gozo se encontra ali onde desenhei o triângulo, ou seja, entre o que pode se produzir, da forma que for, como significante-mestre, e o campo de que o saber dispõe na medida em que se propõe como verdade.” (p.122)

 

Lacan, J. (1966/2017). Acerca da estrutura como imisção de uma alteridade prévia a um sujeito qualquer (Conferência em Baltimore). Opção Lacaniana 77, p. 9-22

“Onde está o sujeito? É necessário situá-lo com um objeto perdido. Mais precisamente, esse objeto perdido é o suporte do sujeito e, frequentemente, é algo bem mais abjeto do que vocês gostariam de considerar.” (p. 13)

“Quando esse sujeito repete algo de particularmente significativo, vocês sabem que ele está ali, naquela coisa obscura que às vezes chamamos de trauma, às vezes de prazer requintado. O que acontece? Se a `coisa´ existe nessa estrutura simbólica, se esse traço unário é decisivo, então o traço de mesmidade está ali. Para que a `coisa´ buscada esteja aqui em vocês, é necessário que o primeiro traço seja apagado, pois o próprio traço é uma modificação. É o apagamento de toda diferença e, neste caso, sem o traço, a primeira `coisa´ está simplesmente perdida.” (p. 16)

“[…]. Em todo caso, o sujeito é o efeito dessa repetição na medida em que ela requer o fading, a obliteração do primeiro fundamento do sujeito, razão pela qual este, estatutariamente, é sempre apresentado como uma essência dividida.” (p. 17)

“Mas a relação desse sujeito barrado com esse objeto a é a estrutura sempre reencontrada na fantasia que sustenta o desejo, na medida em que o desejo não é senão o que designei pelo termo ‘metonímia de toda significação’.” (p. 19) 

Freud, S. (1925-26/1988). Psicologia de grupo e análise do ego. In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Editora Imago, p. 79-154.  

“[…]. Desse modo, uma religião, mesmo que se chame a si mesma de religião do amor, tem de ser dura e inclemente para com aqueles que a ela não pertencem. Fundamentalmente, na verdade, toda religião é, dessa mesma maneira, uma religião de amor para todos aqueles a quem abrange, ao passo que a crueldade e a intolerância para com os que não lhes pertencem, são naturais a todas as religiões.” (p. 110)

“[…]. E, no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmo modo que nos indivíduos, só o amor atua como fator civilizador, no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo.” (p. 114)

“A identificação é conhecida pela psicanálise como a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa.” (p. 115)

“[…]. Um grupo primário é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do Ego e, consequentemente, se identificaram uns com os outros em seu ego.” (p. 126)

“[…]. Mesmo os que não lamentam o desaparecimento das ilusões religiosas do mundo civilizado de hoje, admitem que, enquanto estiveram em vigor, ofereceram aos que a elas se achavam presos a mais poderosa proteção contra o perigo da neurose.” (p. 152) 

Freud, S. (1930-29/1988). “O mal-estar na civilização”. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, p. 65-148.

“[…]. Normalmente, não há nada de que possamos estar mais certos do que do sentimento de nosso eu, do nosso próprio ego. O ego nos aparece como algo autônomo e unitário, distintamente demarcado de tudo o mais. Ser essa aparência enganadora –  apesar de que, pelo contrário, o ego seja continuado para dentro, sem qualquer delimitação nítida, por uma entidade mental inconsciente que designamos como id, à qual o ego serve como uma espécie de fachada –, configurou uma descoberta efetuada pela primeira vez através da pesquisa psicanalítica, que de resto, ainda deve ter muito mais a nos dizer sobre o relacionamento do ego com o id.”  (p. 74-75)

“[…]. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens.” (p.  84-85)

“O elemento de verdade por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão tão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo. – Homo homini lupus.” (p. 116)

“[…]. A ética deve, portanto, ser considerada como uma tentativa terapêutica – como um esforço por alcançar, através de uma ordem do superego, algo até agora não conseguido por meio de quaisquer outras atividades culturais.” (p. 145).

“[…]. Os homens adquiriram sobre as forças da natureza um tal controle, que, com sua ajuda, não teriam dificuldades em se exterminarem uns aos outros, até o último homem. Sabem disso, e é daí que provém grande parte de sua atual inquietação, de sua infelicidade e de sua ansiedade.” (p. 147).

Miller, J-A. Intuições Milanesas I. In Opção Lacaniana online nova série. Ano 2, nº 5, julho 2011, p. 1-15

“[…]. Eis a proposição: “Não digo ‘a política é o inconsciente’, mas simplesmente ‘o inconsciente é a política’.” (p. 2)

“[…]. O totalitarismo foi uma bela esperança que encantou as massas do século XX e cuja lembrança nós, do século XXI, quase perdemos. Era a esperança de suprimir a divisão da verdade, de instaurar o reino do Um na política, conforme o modelo da “Psicologia das massas”. No nível dessa aspiração à concórdia, à harmonia, à reconciliação, o totalitarismo é impecável, como ecoam seus termos no discurso do Presidente Schreber.” (p. 5)

“A definição do inconsciente pela política tem raízes profundas no ensino de Lacan. “O inconsciente é a política” é um desenvolvimento de “O inconsciente é o discurso do Outro”.” (p. 6)

“[…] – Depois vem a transição em que Lacan realiza uma subversão de Freud, via a subversão do Nome-do-Pai, que ele pluraliza e também desloca quando atribui a operação de recalcamento não ao interdito mas ao próprio fato da linguagem; via a subversão do conceito de desejo ligado ao interdito, conceito que ele substitui pelo de gozo – bem mais do que a falta; ele enfatiza o que preenche a falta; via estabelecimento da noção de objeto a, que permanece atrelado ao tema da falta, mas na qual o que prevalece é o que vem preencher a falta.” (p. 10) 

Miller, J.-A. “Intuições Milanesas II”. In Opção Lacaniana online nova série. Ano 2, nº 6, novembro 2011, p.1-21

“Ao lado do corpo anatômico, seria possível colocar em questão o corpo vivo, distingui-lo dele. Sobre o corpo vivo, na medida em que ele fala e que a palavra condiciona seu gozo, talvez fosse possível dizer que ele faz o destino. Mas nessa passagem do seu Seminário, Lacan realiza um deslocamento de “a anatomia é o destino” para o “inconsciente é a política”. E o explica: “o que liga os homens entre eles, o que os opõe, deve ser motivado pela lógica que tentamos articular” – e naquele tempo, se tratava da lógica da fantasia. “O inconsciente é a política” provém do que liga e opõe “os homens” – entre aspas – entre eles, ou seja, o inconsciente provém do laço social.” (p.4-5)

“No próprio movimento de produzir a fórmula “o inconsciente é a política”, Lacan faz a Bergler uma objeção fundamental, que situa muito bem a posição política que ele sustentou e animou em seu ensino, a saber: mas porque então ele precisaria ser mais aceito do que rejeitado? Por que precisaria fazer o que era necessário para ser aceito? Por acaso a mesa em que desejaria ser aceito seria sempre benéfica? O que está por trás é a metáfora do Banquete e daqueles que não são aceitos em seu festim. Isso situa bem a posição de subversão de Lacan que, é preciso reconhecer, permanece atual.” (p. 6)

“O pai. Podemos ver tudo o que ainda atrela a psicanálise ao mito do pai e que a sociedade, em modificação na época da globalização, deixou de viver sob o reinado do pai. Em nossa própria linguagem, dizemos que a estrutura do todo cedeu à do não-todo: a estrutura do não-todo comporta precisamente que não exista mais nada que faça barreira, que esteja na posição do interdito.” (p. 10)

“Essa clínica do não-todo é aquela em que florescem as patologias descritas como centradas na relação com a mãe, ou ainda centradas no narcisismo, mas que seriam provenientes do registro pré-edípico, quando se dispunha da hierarquia anterior, e que ganharam de qualquer forma sua independência. Qualificar isso de pré-edípico é evidentemente muito limitado.” (p. 19)

“[…]. Além disso, Lacan nos indicou outras vias para abordar a clínica contemporânea como clínica do não-todo. Ele nos indicou a via do nó. Não que em si mesmo o nó seja “levitatório”, mas ele constitui de fato uma maneira de responder à estrutura do não-todo, pois essa clínica nos apresenta uma série infinita de arranjos a partir de três rodinhas de barbante.” (p. 19)

Laurent, E. Afectos y Pasiones del cuerpo social. In Neurosis del siglo XXI? El psicoanálisis: Revista de la Escuela Lacaniana de Psicoanálisis n° 30-31. Disponível em  http://elpsicoanalisis.elp.org.es/

“[…], Lacan aprehende la cuestión del lazo social por otro bies, independientemente de la religión, en el discurso y en los discursos, donde como recuerdo de la identificación con el padre sólo subsiste el S1, la lógica del significante amo. Hace un barrido completo de las mitologías freudianas, abriendo el panorama para reducir esto a su hueso lógico. Los matemas S1, S2, a y S barrado bastan para dar cuenta del lazo social como tal y de los discursos que pueden sostenerse en nuestra civilización.”

“[…]. En este sentido, poner el acento en estos fenómenos de masa que prescinden de la identificación al padre, presentan al padre como ficción o fundan las operaciones de regulación del goce sin la garantía del padre, nos permite seguir las relaciones del sujeto con el acontecimiento de cuerpo en los discursos religiosos. Nos recuerda que el desvanecimiento de los ideales, de los grandes relatos, no deja al sujeto en el vacío hedonista con la única posibilidad de llenarse con los objetos del mercado. Deja todo su sitio a una certeza de goce, uno por uno, una por una, y el discurso del psicoanálisis será cada vez más el reverso del discurso del amo si permite precisamente descifrar los modos de goce que se proponen más allá de los mecanismos engendrados por la generalización de la falta-en-gozar de la plusvalía.”

Brousse, M.-H. (2019). “Mulheres e discursos”. Rio de Janeiro, Contra Capa. (Coleção Opção Lacaniana). 

Escondido

O objeto escondido das mulheres

“Então, qual o objeto escondido de “uma mulher”? O falo, antes de tudo! Aliás, ele próprio está oculto desde a Antiguidade, e permanece misterioso. Ou, como disse Lacan em sua conferência em Baltimore: “Onde está o sujeito? É necessário situá-lo como um objeto perdido. Mais precisamente, esse objeto perdido é o suporte do sujeito” (Lacan, 1966:13). O falo como objeto perdido é o suporte do sujeito falante quando este é “uma mulher”. Às vezes, até a loucura…” (p. 40)

Filósofos

Lacan e os Filósofos.

Por que Lacan leu tantos filósofos?

[…] “No que concerne ao texto freudiano, Lacan busca, de acordo com uma posição crítica, uma solução não mais exclusiva, e sim inclusiva, que lhe permite partir do que é anterior para abordar o futuro pelo qual nós já fomos tomados. Essa subtração, que supõe uma transferência com o saber “não todo”, é a mesma que sustentou com os filósofos eleitos como parceiros. Lacan leu esses autores do passado à luz do real mais contemporâneo, surpreendente, este desconhecido que se anuncia a partir de seus sinais antes fugidios. Ele lê Aristóteles, Descartes, Kant e Hegel como trajetórias encerradas pelo real de seu tempo.” (p. 49)

“A formalização do discurso segundo o matema de quatro lugares e quatro funções, e a rotação que os caracteriza, permite a Lacan situar a filosofia. Trata-se do discurso do mestre, do qual o discurso analítico é justamente o avesso. A filosofia é, portanto, não uma visão do mundo ou um sistema, mas sim um fenômeno de discurso que situa em posição de agente um significante mestre funcionando à moda de um imperativo do gozo promovido como verdade e sentido num momento histórico preciso e numa determinada língua”. (p. 50)

Lantejoulas

Bem à vista

“Subversões: quando não há mais o pai, todo mundo pode brilhar”  (p. 86)

“[…] Uma única diferença ainda resiste à lantejoula: a diferença sexual. A lantejoula é mais das “Umas-sozinhas” do que dos “Uns-sozinhos” que são os indivíduos contemporâneos.” (p. 88)

Mãe

Fora do sexo.

Extensão do circuito da mãe

“Hoje, ser mãe é ser parent, pois é também ser pai: um parent é um “pai-mãe”. A época dos Uns-sozinhos, época dos solteiros, mesmo quando estão num casal, talvez em dois casais, ou seja, três ou quatro ligados temporariamente pelo um da criança, objeto desejado, torna obsoleto o significante mãe, no sentido em que se definia no sistema familiar tradicional.” (p. 99)

Miami

Em Miami, ou o sintoma como símbolo sexual

[…] “Atravesso minha escuta, como Lacan testemunhou isso para ele próprio, a ouvir falasseres inventarem seu gênero e, submetendo-se à lógica de seu saber inconsciente, assumirem a escolha de seu modo de gozar. Desagregação. Jamais nos desembaraçamos de nosso sintoma, nós o tornamos operatório.” (p. 112)

Realismo

[…] “Proponho assim que, agora que estamos numa época de abertura da questão da verdade, Aciência busca impor-se no lugar em que Édipo havia respondido “o Homem”. Ela faz calar e apresenta-se como um imperativo, mesmo que, evidentemente, não deixe de existir concorrência. Mas esse lugar de significante mestre faz com que lhe falte o real que ela pretende comandar, o real do gozo, e faz transformar a verdade em sentido.” (p. 123)

Religião

To exorcise that good old god

“O discurso analítico, após dar a Lacan a capacidade de prever um fenômeno social inédito, permite, se seguirmos a sua orientação, elucidar esse fenômeno que o espírito iluminista tende a ordenar na categoria das superstições e do obscurantismo, e que o marxismo, nova religião do paraíso sobre a terra, e o cientificismo positivista, nova religião dos milagres da ciência, fracassaram em vencer, a despeito de sua ambição em consegui-lo. Eles obtiveram muito mais o resultado oposto, provocando um recrudescimento da aspiração à transcendência. Que esclarecimento a psicanálise pode fazer incidir sobre os fenômenos psíquicos em ação na transformação do nome, real, em realidades temporais?” (p. 131) 

Camaly, G. (2018). “La subversión femenina”. In: Feminismos: Variaciones, Controversias. Buenos Aires: Grama Ediciones, p. 99-108.

“Desde su origen – y tal vez hoy con mayor empuje – los movimientos feministas encarnan la puesta en cuestión de los dispositivos de poder que regulan y normativizan la vivencia de la sexualidad, las construcciones de saber, las referencias identitarias y los modos de gozar. El discurso femenino ha introducido un obstáculo a la homogeneización fálica del mundo cambiando las reglas de juego. En este sentido, cuando el decir femenino se introduce en el discurso universal procede en contra de todas las tentativas de uniformización produciendo la subversión de los presupuestos existentes.” (p. 106).

“No obstante los logros de los movimientos feministas, se evidencia que el malestar femenino persiste bajo múltiples formas. El psicoanálisis sabe que este malestar no depende de los modos sociales de opresión del género sino que, más allá de las luchas sociales que es necesario sostener, se anuda a un imposible de soportar. En este punto, pueden plantearse dos perspectivas: la primera, que se trata de un malestar en el que subsiste un imposible de decir y la segunda, que insiste la búsqueda de un reconocimiento por parte del Outro.” (p. 106).

“[…] Ese malestar,  al que Lacan circunscribió y elaboró como “goce femenino”, hace obstáculo a todas las formas de inscripción en el Otro. Ellas, al estar confrontadas con el no tener desde el origen, están menos amenazadas por la castración y más cercanas al uso de los semblantes. A esto se suma que la sexualidad femenina no puede ser reducida a la lógica fálica debido a la afectación de un goce en más imposible de significantizar. Por eso, Lacan aborda la sexualidad femenina a partir de la dualidad de los goces que habita a una mujer y del modo en el cual cada una se arregla con ese imposible de soportar, una experiencia de goce en la que puede perderse a ella misma. Por eso mismo, las mujeres pueden estar también más cerca del sin límite del goce y de la locura pero también más propensas a inventar soluciones singulares ante el goce imposible de negativizar que se presenta siempre haciendo agujero en el Outro.” (p. 107).

[…] “En este sentido, lo femenino opera una cierta subversión del orden simbólico que tiene que hacer las cuentas con lo real de la sexualidad. La dignidad de la diferencia femenina es un buen modo de nombrar un cierto saber hacer con lo imposible de decir del goce y con la diferencia irreductible entre los sexos.” (p. 107).

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Comentario sobre “A ciência e a verdade”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 869-892.
Wo Es war, soll Ich werden

Magno Azevedo

Zuider Zee é um golfo localizado nos países baixos – suas águas vêm do gélido e glacial Mar do Norte. Uma grande e engenhosa operação foi montada para que a região fosse reestruturada com divisões e diques de proteção submetida, assim, a civilização.  As terras que estavam submersas puderam emergir e, a partir disso, surgiu uma possibilidade de saber fazer algo com o que antes era indeterminado.

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Comentário sobre “O futuro de uma ilusão”. In: Obras completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro: Editora Imago, p. 13-63
Ilusões e subversão

Marcella Pereira de Oliveira (Associada ao CLIN-a)

O tema da ilusão me remeteu à canção de Marisa Monte: “Uma vez, eu tive uma ilusão e não soube o que fazer, não soube o que fazer… com ela, não soube o que fazer. E ela se foi, porque eu a deixei, porque eu a deixei? Eu só sei que ela se foi…” A ilusão foi embora, sem que ela percebesse.

Sobre ilusão e subversão, é possível pensar na primeira como um motor a um ato, para que este possa sair do âmbito de automatismo e ganhar um efeito subversivo. No âmbito das estruturas de grupo, as ilusões permitem atos criativos cujo efeito subversivo podem ser criações de novos discursos, os quais conduzem a estruturações culturais. Penso que toda criação comporta um ato subversivo.

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Comentário sobre Perspectivas dos Escritos e Outros Escritos de Lacan. Rio de Janeiro: Zahar.
Entre Desejo e Gozo: Segunda Lição – p. 35.

Rubens Antônio Fogassi Berlitz (Associado ao CLIN-a)

O desejo do analista, tal como Lacan propõe na “direção do tratamento”[1], se diferencia radicalmente do conceito de contratransferência, este muito absorvido no campo do imaginário,  enquanto o desejo do analista não se restringe a ordem simbólica, mas aponta para o real em jogo na análise.

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Comentário sobre A Sociedade do sintoma: a psicanálise, hoje. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2007
Capítulo IV: Incidências da psicanálise na sociedade contemporânea
O analista cidadão

Veridiana S. Paes de Barros (Associada ao CLIN-a)

O texto “O analista cidadão[1]” de Laurent é bastante provocativo, pois convoca os psicanalistas a subverterem o lugar do analista pautado em uma prática standard, crítica, alienada das questões do mundo. O autor incentiva que o papel do analista não seja encerrado atrás do divã, e ainda sustenta uma posição útil, que intervém nas políticas públicas.

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Comentário sobre O inconsciente é a política. 2ª edição. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise.
Primeira conferência. O analista e o político: “Alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”

Luciana Ernanny Legey (Associada ao CLIN-A)

Um ano antes do Seminário “O inconsciente é a política” proferido por Marie- Hélène Brousse em São Paulo (2002), Jacques-Alain Miller teria subvertido a ordem se manifestando – após anos de silêncio a outro público, que não a comunidade analítica – através de suas Cartas à opinião esclarecida. Discutia-se internacionalmente que era o momento de defesa da psicanálise frente ao avanço de psicoterapias e outros discursos relacionados à saúde mental. O discurso analítico deveria se tornar conhecido.

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Jornadas Fora da Série – Subversões – Boletim 03

Lacan, J. (1960/1998). “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 807-842.

“O douto que faz ciência é também um sujeito, ele próprio, e até particularmente qualificado em sua constituição, como o demonstra o fato de a ciência não ter vindo ao mundo sozinha (de o parto não ter sido sem vicissitudes, e de ter sido precedido por alguns fracassos: abortos ou prematuração).

Ora, esse sujeito que deve saber o que faz, ao menos segundo se presume, não sabe o que, de fato, nos efeitos da ciência, interessa a todo mundo. Ao menos assim parece no universo contemporâneo – onde todos se encontram em seu nível, portanto, quanto a esse ponto de ignorância.

Isso, por si só, justifica que se fale de um sujeito da ciência. Afirmação à qual pretende igualar-se uma epistemologia da qual se pode dizer que, nesse aspecto, ela mostra mais pretensão do que sucesso.” (p. 808)

“Assim, é de outro lugar que não o da Realidade concernida pela Verdade que esta extrai sua garantia: é da Fala. Como é também desta que ela recebe a marca que a institui numa estrutura de ficção.

O dito primeiro decreta, legifera, sentencia, é oráculo, confere ao outro real sua obscura autoridade.

Tomem apenas um significante como insígnia dessa onipotência, ou seja, desse poder todo em potência, desse nascimento da possibilidade, e vocês terão o traço unário, que por preencher a marca invisível que o sujeito recebe do significante, aliena esse sujeito na identificação primeira que forma o ideal do eu.’’ (p. 822)

 Lacan, J. (1965-1966/1998). “A ciência e a verdade”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 869-892.

“Assim, não esgotei o que concerne à vocação de ciência da psicanálise. Mas foi possível notar que tomei como fio condutor, no ano passado, um certo momento do sujeito que considero ser correlato essencial da ciência: um momento historicamente definido, sobre o qual talvez tenhamos de saber se ele é rigorosamente passível de repetição na experiência: o que foi inaugurado por Descartes e que é chamado cogito.

Esse correlato, como momento, é o desfilamento de um rechaço de todo saber, mas por isso pretende fundar para o sujeito um certo ancoramento no ser, o qual sustentamos constituir o sujeito da ciência em sua definição, devendo este termo ser tomado no sentido de porta estreita.” (p. 870)

“Dizer que o sujeito sobre quem operamos em psicanálise só pode ser o sujeito da ciência talvez passe por um paradoxo. É aí, no entanto, que se deve fazer uma demarcação, sem o que tudo se mistura e começa uma desonestidade que em outros lugares é chamada de objetiva: mas que é falta de audácia e falta de haver situado o objeto que malogra. Por nossa posição de sujeito, sempre somos responsáveis.” (p.873)

“Eis por que era importante promover, antes de mais nada, e como um fato a ser distinguido da questão de saber se a psicanálise é uma ciência (se seu campo é científico), exatamente o fato de que sua práxis não implica outro sujeito senão o da ciência.

É preciso reduzir a este grau o que vocês me permitirão induzir, através de uma imagem, como a abertura do sujeito na psicanálise, para apreender o que ele ali recebe da verdade.

O ponto em que encontrei vocês hoje, por ser aquele em que os deixei no ano passado – o da divisão do sujeito entre verdade e saber – é para eles um ponto conhecido. É aquele a que Freud os convida, sob o apelo do Wo Es war, soll Ich werden, que retraduzo, mais uma vez, para acentuá-lo aqui: lá onde isso estava, lá, como sujeito, devo [eu] advir.” (p. 878)

Freud, S. (1927/1987) “O futuro de uma ilusão”. In Obras completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro: Editora Imago, p. 13-63.

“Podemos, portanto, chamar uma crença de ilusão quando uma realização de desejo constitui fator proeminente em sua motivação e, assim procedendo, desprezamos suas relações com a realidade, tal como a própria ilusão não dá valor à verificação.” (p. 40)

“Tendo identificado as doutrinas religiosas como ilusões, somos imediatamente defrontados por outra questão: não poderão ser de natureza semelhante outros predicados culturais de que fazemos alta opinião e pelos quais deixamos nossas vidas serem governadas? Não devem as suposições que determinam nossas regulamentações políticas serem chamadas também de ilusões? E, não acontece que, em nossa civilização, as relações entre os sexos sejam perturbadas por uma ilusão erótica ou um certo número dessas ilusões? E, uma vez despertada nossa suspeita, não nos esquivaremos de também perguntar se nossa convicção de que podemos apreender algo da realidade externa pelo emprego da observação e do raciocínio no trabalho científico, possui um fundamento melhor.” (p. 43)

“[…]. Vemos que um número estarrecedoramente grande de pessoas se mostram insatisfeitas e infelizes com a civilização, sentindo-a como um jugo do qual gostariam de se libertar; e que essas pessoas fazem tudo que se acha em seu poder para alterar a civilização, ou então vão tão longe em sua hostilidade contra ela, que nada têm a ver com a civilização ou com a restrição do instinto. Nesse ponto, será objetado contra nós que esse estado de coisas se deve ao próprio fato de a religião ter perdido parte de sua influência sobre as massas humanas, exatamente por causa do deplorável efeito dos progressos da ciência.” (p. 46)

“[…]. Finalmente, tentou-se desacreditar o esforço científico de maneira radical, com o fundamento de que, achando-se ele ligado às condições de sua própria organização, não poderia produzir nada mais senão resultados subjetivos, ao passo que a natureza real das coisas a nós externas permanece inacessível.” (p. 63)

Miller, J.-A. (2011) Perspectivas dos Escritos e Outros Escritos de Lacan. Rio de Janeiro: Zahar.

 Segunda lição

“Esse desejo do analista, o desejo de obter a diferença absoluta, não tem a ver com pureza alguma, porque essa diferença nunca é pura, ela está, ao contrário, conectada a alguma coisa em relação à qual Lacan não hesitava em chamar de sujeira [saloperie]. Essa diferença está sempre conectada a uma sujeira que contraímos do discurso do Outro e que repelimos, da qual não queremos saber. Há um matema para isso, o objeto a. Na prática, porém, não se pode nunca deduzi-lo, ele se apresenta. Há um matema, ou seja, um assunto de geometria, mas, na prática é, sempre, uma coisa de fineza. Só se capta de um relance, quando, ao final de um tempo para compreender, uma certeza se precipita e se condensa num É isso. Sem dúvida, eventualmente, mais de uma vez. Mas, enfim, enquanto vocês não obtiverem um É isso, não adianta brincar de fazer o passe. O que Lacan chamava de passe requeria a captação de um É isso na sua singularidade. Enquanto vocês pensarem pertencer a uma categoria, renunciem a tentar o passe.” (p.35)

Terceira lição

“É bonito dizer falar a língua do Outro. Mas é preciso começar aprendendo a língua do Outro. Em análise, vocês partem, primeiro, do fato de que lhes falam uma língua estrangeira e de que aquilo que vocês podem dizer é também uma língua estrangeira para seu paciente. Portanto, é preciso tempo para que lhes venha o sentido da língua do Outro. É o que significa o aforismo de Lacan, segundo o qual a interpretação visa à causa do desejo. 

Significa que a interpretação visa ao gozo, ou, mais precisamente, ao mais-gozar, que é o princípio e a mola do sentido. Na interpretação não se trata somente de substituir um sentido por outro, num quiproquó. Trata-se de diferenciar esse quiproquó para, por algum viés, mirar, fazer ressoar, vibrar o gozo que mantém fechado, se me permitem, o não quero saber nada disso do sujeito, de maneira a fazê-lo ceder um pouquinho do gozo deste seu não quero saber nada disso. 

O aforismo de Lacan surpreende porque se pensa que a interpretação visa ao significante, visa à fala. Esse aforismo, porém, assinala que a interpretação visa a aquém dela.” (p. 52-53)

Décima quinta lição

“Aqui, nesse ponto, introduz-se uma negatividade. Não no nível do se goza. A negatividade introduz-se no nível do onde. Isso se goza, porém, não se deveria gozar isso assim. Ou seja: no gozo que não mente há uma interferência da verdade mentirosa. Então, aqui, o que opera o significante? É que ali onde não há significante não se pode ter certeza de haver gozo. Deve-se então supor que o significante não tenha apenas efeitos de significado, mas também efeitos de gozo, que seriam semelhantes a quê? Ao que encontramos nos sinos quando se produz uma fissura: a cada vez que se bate o carrilhão, continua-se escutando a fenda do sino.

Pois bem, o gozo é fissura do sino.

Se a interpretação é medida pelo gozo, então ela é solicitada não por seus efeitos de sentido, mas por seus efeitos de gozo.

[…], então somos forçados a elaborar a interpretação como um modo de dizer especial, um modo de dizer que não é da dimensão do significante, não é da dimensão da verdade, mas acentua, no significante, a materialidade, o som.” (p. 203)

Laurent, E. (2007). A Sociedade do sintoma a psicanálise, hoje. Rio de Janeiro: Contra Capa.

IV Incidências da psicanálise na sociedade contemporânea

 O analista cidadão

“Os analistas têm de passar da posição de especialistas da desidentificação para a de analista cidadão. Um analista cidadão no sentido que esse termo pode ter na moderna teoria democrática. Os analistas precisam entender que há comunhão de interesses entre o discurso analítico e a democracia, e precisam entendê-lo verdadeiramente! Há que se passar do analista reservado, crítico, a um analista que participa, a um analista sensível às formas de segregação, a um analista capaz de entender qual foi sua função e qual lhe corresponde agora.” (p.143)

“Nesse sentido, o analista, mais que um lugar vazio, é aquele que ajuda a civilização a respeitar a articulação entre normas e particularidades individuais. O analista, mais além das paixões narcísicas das diferenças, tem de ajudar, junto de outros, sem pensar que é o único que está nessa posição. Assim, com outros, há de contribuir para que não se esqueça, em nome da universalidade ou de qualquer outro universal, tanto humanista quanto anti-humanista, a particularidade de cada um. […] Dito de outro modo, é preciso recordar que não se deve tirar de alguém sua particularidade, a fim de misturá-lo com todos no universal, em razão de algum humanitarismo ou qualquer outro motivo.” (p. 144-145)

“Os analistas devem opinar sobre coisas precisas, a começar pelo campo das psicoterapias, a partir do qual se pode incidir de certo modo na saúde mental, e isso sem esquecer as novas formas de consideração ou transformação científica dos ideais, mais precisamente, do pai como ideal.” (p. 147)

 A sociedade do sintoma

“[…]. Trata-se, sobretudo, de suportar a inconsistência do Outro, sua ausência de garantias, sem ceder ao imperativo de gozo do supereu. O importante não é o aparente alívio do sujeito, mas o peso de sua relação com o gozo. Quando o sujeito está aliviado dos deveres da crença, como gozar sem que isso seja sua única obrigação? O psicanalista deve permanecer atópico em relação à corrente principal da civilização que o arrasta. Ele não se contenta em encantar-se com a “liberação” dos costumes, pois percebe o seu avesso, o novo império do gozo.” (p. 171-172)

“[…]. Há, portanto, dois tipos de relação com o gozo, ambos necessários: querer mais gozo e querer a particularidade do sintoma. Também seria insensato atacar, de cabeça baixa, o hedonismo de massa e o fetichismo da mercadoria generalizada. Dependemos dos objetos e das fantasias ready made fornecidas pela civilização, para deles extrairmos uma mais-valia de gozo. Dizer “não” consiste em impedir que o pronto-para-gozar generalizado não esteja à escuta da particularidade de nosso sintoma. Seu envelope formal é contingente, não pertence a todos. Nesses termos, a serenidade do sujeito “igual em presença dos objetos de gozo” é não perder de vista a singularidade do caminho que lhe é próprio.” (p. 173)

“[…]. Trata-se de indicar a via pela qual se pode viver o que não pode ser vivido do não-todo. O insuportável do sintoma pode se transformar em ponto de apoio para que o sujeito reinvente seu lugar no Outro. Essa invenção, no entanto, não supõe fazer existir o Um desse Outro. O Outro do sintoma é despedaçado. Os tipos de sintoma se distribuem em séries justapostas, díspares, sem constituir mundos, civilizações-unas. Em um sentido, contudo, o sintoma depende da civilização. Há novos sintomas toda vez que os significantes mestres se deslocam no Outro.” (p. 175)

“Nesse sentido, o programa de ação do psicanalista pode ser nomeado com a fórmula: fazer acreditar no sintoma. Encontrar a forma de endereçar-se à angústia do sujeito é fazê-lo entender que os sintomas inéditos de nossa civilização são legíveis. E eles o são a partir do estranho uso que o discurso psicanalítico faz do significante mestre. A psicanálise desencanta da boa maneira.” (p. 176)

“[…]. Assim, continuamos a nos inspirar na ética da psicanálise, que visa tornar o mundo possível para um sujeito, ao lhe revelar o quanto os reflexos de lalíngua já correm pelas ruas. O inconsciente que está aí é um saber-fazer com lalíngua e continua a assegurar o sujeito de uma nova certeza. Ele pode se virar com isso tão bem quanto crê fazê-lo com a imagem do seu corpo. Lacan opunha a dimensão imaginária do corpo à de acontecimento de corpo. A captura do sujeito por sua imagem produz a sociedade do espetáculo. Ela se fundamenta na pseudogarantia de que a essência do sujeito estaria aí. Reduzir o Nome-do-Pai a um sintoma (Lacan, 1975-6: aula de 18 de novembro de 1975) é fazer do sintoma o fundamento da sustentação do Outro. A ética da psicanálise é a de uma “sociedade do sintoma”.” (p. 177)

Brousse, M-H. (2002/2018). O inconsciente é a política. 2ª edição. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise.

Primeira conferência

O analista e o político: “Alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”

“Diferentemente, a psicanálise – por considerar o monstruoso não como uma particularidade de alguns e sim como encontrável em todos os humanos, mesmo que com modalidades diferentes, mas certamente para todos – coloca então no centro do sujeito um ponto de horror que o faz vacilar. Eis aí o retrato de Freud, aquele que não recuou diante disso, diante do horror. Podemos dizer que cada analista não deve recuar diante do horror, pois, dessa maneira, o mais horrível é o mais humano e, portanto, passível de ser analisado. Isso conduz a pensar a relação entre o analista e o político não apenas na vertente do saber, mas na vertente do ato, ou seja, a forma de responder através do ato a esse ponto central. Daí a necessidade de rever a noção de neutralidade analítica.” (p. 31-32)

“[…]. A meu ver, é isso que dá ao analista o dever de política: devolver ao sujeito a escolha, a escolha de decidir, ou melhor, a escolha decidida dessa relação com o significante-mestre.” (p.35)

Segunda conferência

A psicanálise no tempo dos “mercados comuns e dos processos de segregação”

“A clínica mostra que querer atribuir ao pai essa função de significante-mestre, já que é o significante que regula e produz gozo – ou melhor, que gerencia, que administra o gozo –, não corresponde ao real que a experiência analítica impõe, quer seja a experiência das psicoses, das neuroses ou das perversões.

O que mostra a clínica? Que não conseguimos nos livrar do gozo atribuindo-o ao pai ou ao mestre. E, de fato, o gozo, as experiências de gozo, a satisfação da pulsão, portanto, separam o saber da verdade.” (p. 51)

“[…]. A política da psicanálise, que é de nossa responsabilidade, nos levará a nos interrogarmos sobre a política, sobre a vida pública em geral, assim como a economia, isto é, inscrever nossa prática, nossa clínica no contexto que a determina.” (p. 70)

Terceira conferência

O futuro da psicanálise depende da “insistência do real”

“De maneira precisa, o futuro da psicanálise está ligado ao fracasso do atendimento à demanda terapêutica na medida em que damos à  terapêutica o sentido de satisfação do mestre em sua relação com o real. O futuro da psicanálise, portanto, é o de permanecer sintoma. Mas sintoma de quê? Aqui Lacan nos mostra que o laço vital da psicanálise é com o real e não com o simbólico.” (p. 91)

“Concluindo, o futuro da psicanálise, me parece, depende de sua capacidade de implementar essa nova aliança do real com o semblante e de mostrar que o gozo como tal não existe para um falasser. Nossa civilização é atualmente caracterizada pela passagem ao ato e também pelo acting-out. Nela, a meu ver, a psicanálise tem a função de apresentar-se como uma prática do ato. Um ato consiste em colocar-se, o próprio ato, de acordo com o texto e também em colocar o sentido conforme o texto.” (p. 92)

Père version, Perversion, Père-formance. A função paterna à prova de equivocidade

“[…]? Proponho-lhes considerar que fazer de uma mulher objeto a que causa seu desejo é fazer dessa mulher o objeto da fantasia que é, efetivamente, sempre perversa. Por aí mesmo – e não pela Lei – se produz um limite ao gozo, uma vez que a fantasia é uma forma de organização que instaura um ordenamento e localiza, na fixidez de um dispositivo, o sujeito e o objeto. Ligar o pai à Pai-versão é mostrar que a função paterna não se apoia na lei e no ideal do eu, mas na fantasia do pai carnal, que coloca em seu cenário sexual uma mulher em posição de objeto.” (p. 113)

Democracias sem Pai

“[…]. A tese segundo a qual “a política é o inconsciente” é freudiana e reenvia sempre, em última instância, ao pai. A outra formulação, ao contrário, não reconduz ao pai, mas ao discurso do Outro barrado e à questão da verdade – o tratamento analítico nos faz tocá-la com o dedo –, que não é senão incompleta e modificante, ou seja, dividida.” (p. 131)

Bassols I Puig, M. (2015) A psicanálise, a ciência, o real. Rio de Janeiro: Ed. Contracapa.

  1. CIÊNCIA, DESEJO, FEMINIDADE

O inconsciente, feminino, e a ciência

“[…]. Nenhum resultado científico pode definir a sede da linguagem. A outra impossibilidade nas ciências modernas concerne à consciência: o sujeito cartesiano, fundamento da ciência, não pode ser encontrado no sistema nervoso. Linguagem e consciência são, portanto, os dois signos, na ciência moderna, de um real que não pode ser localizado, mensurado.” (p. 147)

“[…]. O sonho freudiano da mancha branca se inscreve justo no centro, no umbigo da ciência moderna, para retornar de mil e uma maneiras em cada uma de suas escritas. Era essa a razão que levava Lacan a falar do sujeito foracluído pela ciência, uma vez que se trata de um sujeito que retorna de uma maneira ou de outra no sintoma da ciência moderna.” (p. 150)

“Em seu discurso de Roma, Lacan afirmou: “a ciência avança sobre o real, ao reduzi-lo ao sinal./ Mas ela também reduz o real ao mutismo” (Lacan, 1953a: 136-7). Assim, quanto mais a ciência ganha, avança sobre seu real, em que tudo parece escrito, mas esse real não cessa de se escrever, mais esse real permanece mudo, mais ele se torna sem sentido, mais o sujeito do significante e do gozo é foracluído para retornar como resposta do real; e mais a psicanálise encontra seu sujeito confrontado com o real do inconsciente, com seu próprio real, que não cessa de não se escrever. Quanto mais a ciência avança em seus impasses, mais se encontra o sujeito como resposta do real.” (p. 155)

“[…]. O inconsciente freudiano é o apagamento de todo traço operado pelo significante, é a página em branco. O que resta, o que não cessa de não se escrever nesse apagamento, é o “inconsciente real”, como Lacan o indicou uma vez em seu último ensino e Jacques-Alain Miller o fincou, para usá-lo como base de uma maneira inteiramente nova de ler Lacan, valendo-se dessa bússola.” (p. 156)

Marcadores de leitura

Comentário sobre “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 831-833.

Kátia Ribeiro Nadeau (Associada à CLIPP)

O sujeito subvertido é aquele que se assujeita à lei do significante.

Lacan propõe neste texto a idéia de que existe um lugar a partir do qual se fala, estruturado a partir dos elementos estruturais (i(a) a imagem especular, o Outro, a demanda, a castração, o desejo, o significante da falta no Outro, o gozo, a fantasia, o ponto de basta, o eu e o I(A) o ideal do eu) que permitem discernir a posição do sujeito com uma articulação significante ordenados no grafo do desejo.

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Comentário sobre “Do “Trieb” de Freud e do desejo do psicanalista”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 865-868.

José Wilson R. Braga Júnior

Minha pontuação está centrada no questionamento de Lacan: “Qual pode ser o desejo do analista? Qual pode ser o tratamento a que ele se dedica?”, no texto-resumo de um colóquio realizado em Roma, algumas semanas após sua “excomunhão” da IPA e dias antes de retomar seu seminário, numa crítica a uma técnica “psicologizante” voltada para os “bons sentimentos”. O desejo do analista vem aqui subverter a noção da posição do analista como neutralidade benevolente ou indiferença – esta crucial na escuta analítica, mas não na condução do tratamento.


Comentário sobre O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., p.160 e 169.

Silvia Jacobo

A passagem da mitologia pulsional à pulsão como conceito fundamental traz como consequência a promoção do gozo na estrutura mesma do inconsciente: a realidade do inconsciente é a realidade sexual. Lacan compara a pulsão com uma montagem à maneira da colagem surrealista e procede a sua desmontagem. A pulsão não cessa, é sempre parcial, o mistério do encontro da palavra com o corpo faz que a sexualidade participe da vida psíquica em consonância com a estrutura de hiância que é a do inconsciente. O inconciente é tropeço, discontinuidade, falha, borda diante do real da sexualidade.

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Comentário sobre “As pulsões e seus destinos”. Obras incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte: Autêntica Ed., 2017, p.23-24 e 33.

Fernanda Cristina Gomes de Carvalho (Associada ao CLIN-a)

Logo no início do artigo As pulsões e seus destinos, Freud chama a pulsão de “conceito fundamental”[i], a qual atua como uma “força constante” no “interior do organismo”[ii]. Em seguida acentua que a pulsão é uma exigência de trabalho imposta à mente em virtude de sua relação com o corpo.

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Comentário sobre “Além do princípio do prazer”. In História de uma neurose infantil: (“O homem dos Lobos”): Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.204, 224, 228, 238.

Flávia Corpas (Associada ao CLIN-a)

“O que não podemos alcançar voando, devemos alcançar claudicando”.

Assim termina Além do princípio do prazer que, segundo Lacan, Freud escreveu para “reencontrar o sentido de sua experiencia”. Dos impasses colocados pela repetição dos sonhos nas neuroses traumáticas, passando pelo famoso fort-da, Freud chega a algo que insiste e se manifesta no tratamento psicanalítico, podendo ser observado nos sonhos, nos jogos infantis e na análise…

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Jornadas Fora da Série – Subversões – Boletim 02

Lacan, J. (1960/1998). “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 807-842.

“O biologismo de Freud nada tem a ver com a abjeção pregadora que lhe chega às lufadas da oficina psicanalítica.

E seria preciso fazer vocês vivenciarem o instinto de morte que ali se abomina para colocá-los no diapasão da biologia de Freud. Pois eludir o instinto de morte da sua doutrina é desconhecê-la em caráter absoluto.

Pela abordagem que lhes preparamos, reconheçam na metáfora do retorno ao inanimado, do qual Freud reveste todo corpo vivo, a margem para-além da vida que a linguagem assegura ao ser pelo fato de ele falar, e que é justamente aquela em que esse ser investe na posição de significante não somente o que se presta  a isso em seu corpo, por ser permutável, mas esse próprio corpo. Onde se evidencia então que a relação do objeto com o corpo não se define, de modo algum, como sendo de uma identificação parcial que devesse totalizar-se nele, uma vez que, ao contrário, esse objeto é o protótipo da dotação de sentido do corpo como pivô do ser.” (p. 817)

“Mas, se nosso grafo completo nos permite situar a pulsão como tesouro dos significantes, sua notação como (S/<>a) mantém sua estrutura, ligando-a à diacronia. Ela é o que advém da demanda quando o sujeito aí desvanece. Que a demanda também desaparece é evidente, exceto que resta o corte, pois este continua presente no que distingue a pulsão da função que ela habita: ou seja, seu artifício gramatical, muito patente nas reversões de sua articulação com a fonte e com o objeto (Freud quanto a isso, é inesgotável).” (p. 831-32)

“O que o grafo nos propõe agora situa-se no ponto em que toda cadeia significante se honra ao fechar sua significação. Se é preciso esperar tal efeito da enunciação inconsciente, é aqui em S (A barrado), e há que lê-lo: significante de uma falta no Outro, inerente à sua função mesma de ser o tesouro do significante. Isso, na medida em que o Outro é solicitado (che vuoi) a responder pelo valor desse tesouro, isto é, a responder, certamente, de seu lugar na cadeia inferior, mas nos significantes que constituem a cadeia superior, ou seja, em termos de pulsão.” (p. 832-833)

Lacan, J. (1964/1998). “Do “Trieb” de Freud e do desejo do psicanalista”. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 865-868.

“… o desejo vem do Outro, e o gozo está do lado da Coisa.

O que o sujeito recebe dele de esquartejamento pluralizante, eis ao que se aplica a segunda tópica de Freud. Mais uma oportunidade para não se ver o que deveria impressionar nela: que as identificações determinam-se ali pelo desejo, sem satisfazer a pulsão.

Isso porque a pulsão divide o sujeito e o desejo, o qual só se sustenta pela relação, que ele desconhece, dessa divisão com um objeto que a causa. Tal é a estrutura da fantasia.

Por conseguinte, qual pode ser o desejo do analista? Qual pode ser o tratamento a que ele se dedica?” (p. 867)

Lacan, J. (1964/1985). O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

“Se Freud nos faz esta observação de que o objeto na pulsão não tem nenhuma importância, é provavelmente porque o seio deve ser revisado por inteiro quanto à sua função de objeto.

A esse seio, na sua função de objeto, de objeto a causa do desejo , tal como eu trago sua noção – devemos dar uma função tal que pudéssemos dizer seu lugar na satisfação da pulsão. A melhor fórmula nos parece ser esta – que a pulsão o contorna. Encontraremos sua aplicação a propósito de outros objetos. Contorna, devendo ser tomado aqui com a ambiguidade que lhe dá a língua portuguesa, ao mesmo tempo turn, borda em torno da qual se dá a volta, e trick, volta de uma escamoteação.” (p. 160)

[…] É preciso bem distinguir a volta em circuito de uma pulsão do que aparece – mas também por não aparecer, – num terceiro tempo. Isto é, o aparecimento de ein neues Subjekt que é preciso entender assim – não que ali houvesse um, a saber, o sujeito da pulsão, mas que é novo ver aparecer um sujeito. Esse sujeito, que é propriamente o outro, aparece no que a pulsão pôde fechar seu curso circular. É somente com sua aparição no nível do outro que pode ser realizado o que é da função da pulsão.” (p. 169)

Freud, S (1915/2017). “As pulsões e seus destinos”. Obras incompletas de Sigmund Freud.  Belo Horizonte: Autêntica Ed., p. 15-69.

 “Voltando-nos agora do lado biológico à observação a partir da vida anímica, então nos aparece a “pulsão” como um conceito fronteiriço entre o anímico e o somático, como representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo que alcançam a alma, como uma medida da exigência de trabalho imposto ao anímico em decorrência de sua relação com o corporal.” (p. 23-24)

“Para uma classificação geral das pulsões sexuais podemos dizer o seguinte: são numerosas, advém de múltiplas fontes orgânicas, agem inicialmente de forma independente umas das outras e só depois se reúnem em uma síntese mais ou menos acabada. A meta a que cada uma delas aspira é a obtenção do prazer do órgão.” (p. 33)

Freud, S. (1920/2010). “Além do princípio do prazer”. In História de uma neurose infantil: (“O homem dos Lobos”): Além do principio do prazer e outros textos (1917-1920). São Paulo: Companhia das Letras, p. 161-239.

V.

“Seria contrário à natureza conservadora dos instintos que o objetivo da vida fosse um estado nunca antes alcançado. Terá de ser, isto sim, um velho estado inicial, que o vivente abandonou certa vez e ao qual ele se esforça por voltar, […]. Se é lícito aceitarmos, como experiência que não tem exceção, que todo ser vivo morre por razões internas, retorna ao estado inorgânico, então só podemos dizer que o objetivo de toda vida é a morte, e, retrospectivamente, que o inanimado existia antes que o vivente.” (p. 204)

VI.

“Partimos de uma nítida separação entre instintos do Eu = instintos de morte e instintos sexuais = instintos de vida. Dispusemo-nos a incluir os chamados instintos de autoconservação entre os instintos de morte, algo que depois retificamos. Desde o princípio nossa concepção era dualista, e hoje é mais claramente dualista do que antes, desde que não mais denominamos os opostos instintos do Eu e instintos sexuais, mas instintos de vida e de morte.” (p. 224)

“O fato de havermos reconhecido como tendência dominante da vida psíquica, talvez da própria vida dos nervos, o esforço de diminuir, manter constante, abolir a tensão interna dos estímulos […], tal como se exprime no princípio do prazer – é um dos nossos mais fortes motivos para crer na existência de instintos de morte.” (p. 228)

VII.

“Nossa consciência nos transmite, desde o interior, não apenas as sensações de prazer e desprazer, mas também uma peculiar tensão que pode ela mesma ser prazerosa ou desprazerosa. […] Também nos chama a atenção que os instintos de vida tenham bem mais a ver com nossa percepção interna, pois se apresentam perturbando a paz, trazendo tensões cuja eliminação é sentida com prazer, enquanto os instintos de morte parecem realizar seu trabalho discretamente. O princípio do prazer parece mesmo estar à serviço dos instintos de morte.” (p. 238)

Miller, J.A. (1994-1995/2005). SILET Os paradoxos da pulsão, de Freud a Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

“[…] ali onde há recalque, ali onde o sujeito não é identificável por um significante, ele pode ser circunscrito ao nível da pulsão na presença do objeto.

A pulsão aparece como vocabulário, léxico, tesouro dos significantes – expressão preferida por Lacan para não encerrar a pulsão no imaginário da lista de elementos que encontramos no dicionário –, da cadeia significante no inconsciente. Uma vez desbravado o aparato que envolve essa tese, “A subversão do sujeito” expõe que o inconsciente fala em termos de pulsão.” (p. 265-266)

Miller, J-A. (Dezembro, 2004) Biologia lacaniana e acontecimentos de corpo. Opção Lacaniana, (41): p. 7-67.

“[…] há uma segunda condição, que se junta à condição de corpo, para que obtenhamos qualquer coisa como a condição suficiente. É a condição de significante, se nos regularmos por esta fórmula de Lacan, de que o significante é causa do gozo.

Eis a perspectiva – a vida condição do gozo, a condição de corpo, a condição de significante – com a qual conto avançar nesta biologia lacaniana.” (p.19)

“[…] Se o sintoma é uma satisfação da pulsão, se ele é gozo condicionado pela vida sob forma do corpo, isto implica que o corpo vivo é prevalente em todo sintoma.” (p.19)

“O que força Freud a pensar na morte como destino do vivo alcançado por uma repetição, que é uma tendência para a morte? O que o força a introduzir esta concepção? O que força Freud a pensar nisso, diz Lacan, não é a morte dos seres vivos, mas o vivido humano, expressão que, mais ou menos, ele precisa como sendo a troca humana, a inter-subjetividade, o fato da língua.” (p. 21)

Miller J.A. (2000). “El lenguaje, aparato del goce” In Conferencias en Nueva York y Cursos en París. Buenos Aires: Colección, p.119-139.

“La pulsión es palabra

Una vez aparejada la pulsión, la pulsión en el esquema de comunicación, satisface tan poco las exigencias de dar cuenta de lo que se trata, que ya se hace necesaria esta extracción del concepto del goce. Y Lacan hace un agregado que concierne al goce en tanto tal, el goce como algo completamente diferente a aquello de lo que se trata en el concepto de pulsión. No habla para nada del goce como un mensaje que tiene su tesoro de significantes, su punto de almohadillado, etc. Tenemos un desarrollo sobre el goce como tal. Indudablemente, se las arregló al conectarlo especialmente sobre ese S(A barrado), ese punto de almohadillado.” (p.131)

Brousse, M-H. (1997). “A pulsão I” In Feldstein, R., Fink e Jaanus, M. (orgs.) Para ler o Seminário 11 de Lacan: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, p. 115-124.

“Logo, a pulsação do inconsciente é a demanda do Outro, e a realidade social está ligada à demanda do Outro, sendo o desejo o resultado. De certo modo, Lacan provê aqui uma nova articulação entre necessidade, pulsão e desejo, sendo a pulsão definida em termos de demanda do Outro. Em “Subversão do sujeito e dialética do desejo”, ele também enfatiza essa articulação entre pulsão, necessidade e desejo. Não existe pulsão sem a demanda do Outro. E quando se introduz a demanda do Outro introduz-se o Outro como combinatória de significantes. Introduz-se também o princípio do sacrifício do gozo, introduz-se deste modo o desejo; porque o desejo se origina não do que se tem, mas daquilo que falta. É por isso que Lacan diz, na época, que “a pulsão nunca é senão uma pulsão parcial (Escritos 1998, p. 863).” (p. 123)

Laia, S. (Novembro, 2016) “Subversão do sujeito…” Opção Lacaniana, (74): p. 68-71.

 “A pulsão, porém – termo-chave da citação que nos serve aqui de título – , não implica propriamente uma “regularidade” capaz de garantir uma “ordem” como aquela que viria do Outro e, a meu ver, devido à pluralidade e à plasticidade concernentes à sua montagem, é apresentada, então, como “tesouro ‘dos’ significantes.”(p.68)

 “O modo como o que é vivo ganha corpo nos investimentos pulsionais faz Lacan afirmar que o Outro – lugar no inicio do seu ensino e no primeiro patamar do grafo do desejo, associado a uma ordem e não propriamente a um corpo – é requisitado a responder, “em termos de pulsão”, o que antes se encontrava como “tesouro do significante”. Nessa “requisição”, ‘uma dimensão corporal’ é conferida ao Outro.” (p. 69)

“A citação-título deste texto não deixa de ser uma espécie de antecedente, a meu ver, da definição lacaniana das pulsões como “no corpo, o eco do fato de que há um dizer”. É bem mais conhecida a formulação de que “o sujeito é mais falado do que fala”.

“[…] se há Outro de onde provém esse “dizer”, trata-se de um Outro solicitado a responder “em termos de pulsão”, ou seja, em significantes referentes ao que se goza, ao que se satisfaz pulsionalmente e não ao que se é sujeitável ou mesmo subjetivável.[…]. Trata-se de um dizer que se impõe – e não exatamente como um “discurso” – porque desarticula, dessubjetiva, a-cefaliza o “sujeito” em questão, tal como em uma “colagem surrealista” associada, por Lacan, à “montagem da pulsão”.

Portanto, é decisivo ressaltar, na definição apresentada no Seminário 23, que as pulsões não são diretamente o “fato de que há um dizer” que toma o corpo como um “parasita”, uma “excrecência”, um “câncer”: elas são o eco relativo à existência desse dizer.” (p. 70)

Marcadores de leitura

Subversão do sujeito

Maria de Lourdes Mattos (EBP/AMP)

Nesse texto, Lacan se propõe a apresentar o que foi a subversão implementada por Freud. A discussão com a ciência e a filosofia, sempre incluída em seu ensino, ao mesmo tempo que fundamenta, marca a distância entre a psicanálise e as duas áreas, na relação do sujeito com o saber.

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Comentário sobre o escrito “Posição do inconsciente”

Milena Vicari Crastelo (EBP/AMP)

Posição do inconsciente, texto originado das intervenções no Congresso de Bonneval, porta a marca do corte, o corte do tempo. Da intervenção em 1960, até sua retomada em 64.

Para comentar esta citação, me sirvo do seminário 11, contemporâneo a este escrito, onde Lacan formaliza a articulação do inconsciente freudiano e a pulsão, uma nova aliança entre significante e gozo.

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Comentário sobre “O Chiste e sua relação com o inconsciente”

Perpétua Medrado (Aderente EBP-SP)

No texto, de 1905, Freud questiona a formação dos sintomas neuróticos e vê nos sonhos, atos falhos e chistes, mecanismos idênticos, estreitando o laço entre o chiste e o inconsciente. Revela interesse no cômico e conceitua o chiste como uma das formações do inconsciente. Traz o exemplo do efeito cômico de ‘Familionário’ em que parte da palavra ‘familiar’ é condensada e desaparece, enquanto a outra se imiscui com a palavra ‘milionário’. O efeito depende da interpretação da palavra sem sentido.

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Jornadas Fora da Série – Subversões – Boletim 01

Lacan, J. Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: Escritos, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1998, p. 807-842.

“[…] para deixar claro, para as finalidades de formação que nos são próprias, o que acontece com a questão do sujeito, tal como a psicanálise propriamente a subverte.

O que nos qualifica para proceder por essa via é, evidentemente, nossa experiência dessa práxis.

É propriamente a subversão que tentaremos definir […]”. p. 808.

“Uma vez reconhecida à estrutura da linguagem no inconsciente, que tipo de sujeito podemos conceber-lhe?”. p. 814.

“Qual seja, a maneira certa de responder à pergunta “Quem está falando?”, quando se trata do sujeito do inconsciente. Pois esta resposta não poderia provir dele, se ele não sabe o que diz e nem sequer o que está falando, como nos ensina a experiência da análise”. p. 815.

Lacan, J. Posição do inconsciente no Congresso de Bonneval (1960, retomado em 1964). In: Escritos, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1998, p. 843-864.

“O efeito de linguagem é a causa introduzida no sujeito. Por esse efeito, ele não é causa dele mesmo, mas traz em si o germe da causa que o cinde. Pois sua causa é o significante sem o qual não haveria nenhum sujeito no real. Mas esse sujeito é o que o significante representa, e este não pode representar nada senão para outro significante: ao que se reduz, por conseguinte, o sujeito que escuta.

Com o sujeito, portanto, não se fala. Isso fala dele […]”. p. 849.

“O sujeito, o sujeito cartesiano, é o pressuposto do inconsciente, como demonstramos no devido lugar.

O Outro, é a dimensão exigida pelo fato de a fala se afirmar como verdade.

O inconsciente é, entre eles, seu corte em ato.” p. 853.

Freud, S. (1905) O Chiste e sua relação com o inconsciente. Obras Completas, volume 7. São Paulo: Companhia Das Letras, 2017.

A. Parte Analítica

I – Introdução

[1]

“É significativa, pois, a descrição do chiste feita por Lipps. “O chiste diz o que tem a dizer nem sempre em poucas, mas sempre em palavras de menos, isto é, em palavras que, segundo uma lógica estrita ou o modo comum de pensar e falar, não seriam suficientes para dizê-lo. No fim das contas, ele pode inclusive dizer o que tem a dizer silenciando” (Lipps, p. 90).” p.23.

C. Parte Teórica

VI – A Relação do Chiste com o Sonho e o Inconsciente

[…] “O Chiste tem, de maneira destacada, a natureza de algo que nos “ocorre” involuntariamente. Um minuto antes, digamos, não sabemos ainda o chiste que faremos, e que só precisará ser dotado de palavras.” p. 239.

Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, volume. V. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

VII (E) – Os processos primário e secundário- recalcamento

“Portanto, somos levados a concluir que dois tipos fundamentalmente diferentes de processos psíquicos participam da formação dos sonhos. Um deles produz pensamentos oníricos perfeitamente racionais, com a mesma validade que o pensamento normal; já o outro trata esses pensamentos de um modo que é excepcionalmente desconcertante e irracional.

Por conseguinte, tomamos da teoria da histeria a seguinte tese: uma cadeia de pensamento normal só é submetida a esse tratamento psíquico anormal que vimos descrevendo quando um desejo inconsciente, derivado da infância e em estado de recalcamento, se transfere para ela.” p. 623-24.

“Não é sem intenção que falo em “nosso” inconsciente, pois o que assim descrevo não é a mesma coisa que o inconsciente dos filósofos ou mesmo o inconsciente de Lipps. Neles, esse termo é usado simplesmente para indicar um contraste com o consciente: a tese que eles contestam com tanto ardor e defendem com tanta energia é a tese de que, à parte os processos conscientes, há também processos psíquicos inconscientes.

Mas que papel resta em nosso esquema para a consciência, outrora tão onipotente e que ocultava tudo o mais? Apenas a de um órgão sensorial para a percepção de qualidades psíquicas.” p. 639-40.

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