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O GIDE DE LACAN – CSPonline#14
ECOS DO XXI ENCONTRO BRASILEIRO DO CAMPO FREUDIANO (São Paulo, 25, 26, 27 – novembro de 2016)
O GIDE DE LACAN
Maria Helena Barbosa (EBP/AMP)
Como atividade preparatória para o XXI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, com o tema Adolescência, a idade do desejo, retornamos Sobre o Gide de Lacan, de Jacques-Alain Miller, agora visando a adolescência.
Através de Gide, Jacques Lacan apresenta uma abordagem clínica da juventude como um processo determinante para o sujeito, valorizando instâncias e funções que não estão presentes na infância, modificando nossas referências no que diz respeito à própria estruturação subjetiva como considerada a partir do período pré-edípico e edípico.
Nesse texto, Miller assinala dois momentos do caráter decisivo da imiscuição do adulto na criança, acontecimentos que na vida de Gide concorrem para a solução do que será a passagem da infância à idade adulta.
O primeiro é o episódio da sedução pela tia de Gide – do desejo do Outro no gozo do Um. Diz respeito à intrusão do desejo, o sujeito se descobre transmudado como desejante. Miller aponta que: “É por termos, de um lado, a incidência negativa, que o desejo, em sua positividade, vem de fora à maneira de uma intrusão violenta”. (1)
O segundo é a mensagem de Goethe – da palavra do Outro no Sujeito. Um outro lugar do que vem de fora, em que as palavras de Goethe emprestam um selo simbólico, colocando um ponto de basta na proliferação imaginária das personagens gideanas. Aqui, o ideal do eu, o outro como falante, que mantém uma relação simbólica, encontrou na mensagem de Goethe um novo lugar que lhe permitiu estar melhor articulado com o eu ideal, formação essencialmente narcisista, do registro do imaginário.
Lacan (2) se refere à “composição do sujeito” (3), “construção de André Gide” (4), “fabricação da máscara” (5), para introduzir a “dimensão da persona” (6), termo que perdemos em Lacan e que Miller recupera em seu Gide.
Como um fio percorrendo todo seu texto, Miller diz que para acompanharmos a abordagem feita por Lacan, a tese da máscara é fundamental “porque a máscara, longe de mascarar o segredo, ela é o próprio segredo. A máscara desvela. (…) A máscara é o significante que faz dizer: ‘o segredo está atrás’. É no que ele é enganador. Ao mesmo tempo, ela revela o segredo, ela é sua evidência” (7).
Assim, articulando a letra e o desejo, ele aponta que: “Basta seguir a construção metonímica da persona para ter a forma humana do desejo. O que o sujeito dissimula, é aquilo mesmo pelo qual ele o revela. A máscara desmascarada. Esta teoria da máscara é, do ponto de vista clínico, absolutamente essencial, tanto mais que Lacan não retornará a ela de maneira tão extensa. Ela traz esta lição: o imaginário humano é feito de tal forma que acredita fazer máscara com as marcas simbólicas que leva com evidência, das próprias operações de recalcamento que realizou. O recalcamento não está por trás, está por cima, cada um o traz sobre sua máscara” (8).
NOTAS
(1) Miller, J-A, Sobre o Gide de Lacan, Opção Lacaniana nº22, p.33.
(2) Lacan, J., Juventude de Gide ou a letra e o desejo, Escritos, p.749.
(3) Idem, ibidem, p.755.
(4) Idem, ibidem, p.768.
(5) Idem, ibidem.
(6) Idem, ibidem.
(7) Miller, Op. Cit., p.23.
(8) Idem, ibidem, p.40.