O esp de um ato Niraldo de Oliveira Santos (EBP/AMP) Chegamos ao último Boletim Travessias.…
Ato analítico e supervisão
Sofia Guaraguara (NEL, NLS e AMP)

Partirei de uma pergunta: o que é um psicanalista? Talvez seja uma pergunta aberta…
A este respeito, Miller, em Donc, pontua: “por isso Lacan chama de inocente o analisante que começa, esse que não sabe o que já está escrito no ticket de entrada para a análise”[1]. Isto é, para que haja um analista é necessário um percurso analítico que reduza sua inocência.
Como assinala Miller, “na conclusão do tratamento está o que o analista extrai, o que ele alcançou, o que lhe saiu mal, o ponto em que permaneceu o analisante”[2]. Desde então, cada um descobre sua resposta singular, particular, isto é, seu estilo, seu sinthome que se foi desvelando em sua análise, decifrando seu inconsciente e com a leitura de seu corpo falante.
Poderíamos dizer que o desejo de saber está latente na formação contínua de cada analista.
Ato analítico
Para que haja ato analítico, há de existir um analista. Retomo uma citação do argumento das Jornadas[3]: “A tarefa do psicanalista é a psicanálise, diz Lacan, e o ato é aquilo mediante o qual o psicanalista se compromete a responder por ela”[4]. Deste modo, o ato analítico marca um antes e um depois.
Em uma frase fundamental, Freud diz: “Pouco a pouco aprendi a utilizar essa dor despertada como bússola”[5]. Poderíamos dizer que ele se deixou ensinar, passou da observação à escuta da palavra. Antes disso, Freud observava, depois decifrava, interpretava, tratava o sintoma.
Supervisão
A docilidade do analista permite consentir ao controle, isto é, saber-se dividido pelo desejo.
“Isto é de fato decisivo: o controle, para nós, é um controle desejado”[6]. É sua consequência que permite retificar, esclarecer e constatar o ato analítico. É o que intervém tanto no caso, como o que incide na formação contínua do analista.
A análise e a supervisão são pilares fundamentais da formação do analista, junto à Escola: “E o analista pode querer essa garantia, o que, por conseguinte, só faz ir mais além: tornar-se responsável pelo progresso da Escola, tornar-se psicanalista da própria experiência”[7].
Em poucas palavras, a docilidade do analista também permite consentir ao controle, e o ato analítico é produto da análise.