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A presença do discurso do analista faz (des)conexão com o discurso institucional?(1)
Natália Cassim
“Nós não fazemos diferença, em psicanálise,
entre a realidade psíquica e a realidade social.
A realidade psíquica é a realidade social”
J. –A. Miller(2)
O Hospital de Amor é uma instituição de saúde filantrópica brasileira especializada no tratamento e prevenção de câncer com sede em Barretos-SP, e era nomeada Hospital de Câncer de Barretos anteriormente. Em uma manobra institucional rígida, o significante câncer foi apagado em decorrência da imposição do novo significante: amor. O sujeito está excluído desta associação significante, uma vez que essa decisão não foi discutida em nenhum âmbito. No lugar da “morte” (câncer) impôs-se a “vida” (amor). Uma tensão que se acirra entre morte x vida sem advir o sujeito, o falar sobre e diante disso.
A partir daí aceitou-se o convite da instituição, que era elaborar um trabalho com os colaboradores da pediatria do hospital Infantil. Um dos efeitos do discurso institucional foi percebido no impacto da morte dos pacientes, que era recalcado em decorrência do amor, e não era verbalizado. Este engodo retorna na forma de adoecimento. Em 2003, diz Laurent: “Neste primeiro sentido de torção, há de início a instituição. O sintoma vem em segundo lugar, (como) consequência do funcionamento institucional(…)”(3).
A partir disso, foi realizado um diagnóstico inicial, ouvindo um a um dos colaboradores, operando um espaço que movimentou os corpos e deu voz às palavras que não se ouviam. Emergiram questionamentos sobre a fantasia que estava recalcada (morte x vida) aparecendo um dizer que implicou o sujeito/instituição. Afirma Viganó que “o analista se encontra no lugar de escutar aquilo que se diz, na estrutura mesma do dito – qualquer que seja a intenção do sujeito (…)”(4).
O discurso institucional que se ampara no discurso do mestre, espera uma resposta assertiva dos colaboradores. Afirma Pommier que “o mestre recobre a posição do sujeito que ignora seu próprio saber (…)”(5). Se o sujeito do inconsciente tende a ser excluído na instituição, o ato analítico, por sua vez, o incluí, na medida em que favorece o bem dizer.
A instituição demanda da praticante da psicanálise uma contabilização dos colaboradores atendidos; a sustentação do discurso analítico faz desconexão com a fala rechaçada pelo mestre que tudo normatiza, sustentando a lógica do um a um. A sustentação deste trabalho fez circular um novo discurso que incidiu na introdução de um novo saber, um novo amor, no qual o dizer dos colaboradores pôde incluir a morte e não rechaçá-la, imperativamente, em função do “amor”.
Conclui-se que o enigma com relação à mudança de nome da instituição recorreu ao domínio do mestre inscrito no acirramento da morte x vida; uma vã tentativa de suavizar/apagar o câncer com amor. Se o sujeito nunca é mais do que suposto, é a aposta no laço com a singularidade que pode permitir uma localização digna a essa nova nomeação, que pode dar lugar a um novo amor-hospital. Frente a essa abertura, que se enlaça ao desejo da praticante, tem-se a presença do entusiasmado na construção do “saber fazer” dentro da instituição.
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1 N.A.: Texto elaborado a partir das discussões no cartel: “Trânsferências: (Des)conexão?
2 MILLER,J.A. Intervenção no PIPOL 4. In: Marie-Hélène Brousse, “A transferência nos dispositivos da psicanálise aplicada”, Entrevários: Revista de Psicanálise. CLIN-a. São Paulo. 2009, p. 25.
3 LAURENT, É. “Dois aspectos da torção entre sintoma e instituição”, Os Usos da Psicanálise – Primeiro encontro do Campo freudiano. Rio de Janeiro: Contra Capa. 2003, p. 87.
4 VIGANO, C. “O uso da transferência na instituição”, Seminário proferido em Mendrizio – Itália. 1996, p. 1.
5 POMMIER, G. “Freud Apolítico?”. Porto Alegre: Artes Médicas. 1989, p. 45.