#06 - OUTURBRO 2023
Editorial Gaio #5
Niraldo de Oliveira Santos
Membro da EBP/AMP
Chegamos à edição #5 do Boletim Gaio, o que indica que estamos, aproximadamente, a um mês das Jornadas R.I.S.o. Do lançamento, no mês de abril, até aqui, foram muitas as vias abertas em torno do tema. Um apanhado de perguntas, hipóteses e elaborações, vindo de diversos colegas da EBP e do Campo Freudiano, deu corpo aos números anteriores do Gaio e pode ser lido e utilizado na produção dos muitos trabalhos enviados para as Mesas Simultâneas. O tema, como havíamos apostado desde o momento inicial, pôde provocar ressonâncias e causou o desejo de investigação em nossa comunidade.
Na edição atual, esta verve não só se manteve à altura, como já aponta para o que serão nossas discussões durante as Jornadas. Vejamos…
Na rubrica Escrita Gaia, o texto de Marcus André Vieira (EBP/AMP) traz contribuições contundentes acerca do riso em nossa época pois, como nos diz Marcus, é um “tema inesgotável e essencial em nossos dias”. No texto, é o valor do riso (sua função e seus usos tanto na cultura quanto na clínica psicanalítica) que MAV destaca, e que transformo em perguntas para aguçar o interesse do leitor: É possível abordar o chiste a partir de sua função de nomeação? É possível produzir um significante de gozo “coletivo”? O “riso em si” abre a porta para o inconsciente real? O chiste pode fazer função de borda, com efeitos de litoral? O riso, quando os S1 se apresentam como anticiência e não mais apoiados na crença no pai, aponta para uma possível vitória sobre o supereu e sobre o gozo do discurso capitalista? Trata-se, de acordo com Marcus, da defensável tese lacaniana de que uma análise tende a aumentar o número de risadas. Vale a pena apostar!
Cassandra Dias Farias (EBP/AMP) pondera: “Rir de tudo é desespero”, lembrando, em seu texto, as vertentes do humor e do riso na segregação e na psicose, mostrando aí o índice do real no riso. Cassandra nos mostra, a partir da arte (música e teatro), a importância do caráter moebiano entre pranto e riso, tecendo uma espécie de elogio à alternância. É também pela via da arte (literatura) que Flávia Leibovitz (Associada ao CLIN-a) retoma a articulação entre o riso e o fora (também furo) do sentido, evidenciando este aspecto do riso que pode cingir algo do gozo. Com o texto “Viva o humor, porque, sem o humor não haveria humoristas!” nossas colegas integrantes da Comissão de Livraria – Perpétua Gonçalves e Priscila Viviani – retomam Freud e destacam a importância do humor para o laço social, uma “conexão” que, por vezes, em sua face política, é bem sucedido em mobilizar os mais diversos afetos. As autoras destacam a obra de Alfred Jarry, “Ubu Rei”, para mostrar que o riso “pode nos ajudar a atravessar as estradas escuras”, tanto por aqui quanto na “Polônia”!
Em um Esp de um riso temos a contribuição de José Wilson Braga Júnior (Associado à CLIPP), comentando um trecho de “A significação do falo”[1], a partir da pergunta “O que faz rir na Comédia dos Sexos?”. Wilson nos lembra, então, como o falo se presta a uma espécie de balé entre os parceiros, onde se evidenciam os movimentos de mascarar e desmascarar a falta no outro (e sua dimensão cômica, que provoca identificação em quem assiste/presencia), não sem a função privilegiada que parte da dialética entre ter e ser. Parafraseando o título do texto de Perpétua e Priscila, podemos dizer aqui: Viva a não-relação sexual, porque, se ela existisse, não haveria semblantes!
“Sorria!”, “Diga ‘X!’”. Na rubrica Estão fazendo arte Marcella Oliveira evoca a obra do fotógrafo Walter Firmo para, com ela, questionar o que do riso se apreende na captura da imagem no instante do registro. O que se experiencia no corpo aí? O que uma máquina fotográfica provoca no instante do clique? Podemos seguir o texto com estas perguntas e com a noção de objeto a apresentada por Lacan. Quem sabe, a partir daí, possamos retomar à outra pergunta presente neste número e nos anteriores – questão fundamental para nós, psicanalistas, aquela acerca do gozo para além da linguagem. Ainda nesta rubrica, vocês encontram o link para o áudio da potente entrevista/podcast sobre “O coro e o cômico” realizada com Fábio Cordeiro (diretor de teatro, ensaísta e ator), conduzida por nossos colegas Magno Azevedo e Elisangela Miras, da Comissão de Arte e Cultura destas Jornadas. Segundo eles, trata-se de um refrescante “mergulho no universo do R.I.S.o” em direção às XII Jornadas da EBP-SP.
Por fim, depois de instar a ler, ver e ouvir, encerro com o convite para uma experiência imersiva. Na rubrica Acontece na cidade, a Comissão de Acolhimento nos recomenda a ida à Pinacoteca do Estado de São Paulo para conferirmos a exposição “Marta Minujín: Ao vivo”. Sim, é arte que causa e que também nos faz rir. Vamos?!