#06 - OUTURBRO 2023
Witz – o prazer da surpresa e a surpresa do prazer
Witz – o prazer da surpresa e a surpresa do prazer
Marco Aurélio Monteiro Peluso
Participante da Comissão de Referências Bibliográficas
“O que lhes disse da vez passada concernia ao Outro, esse bendito Outro que, na comunicação do Witz, virá completar – de certa maneira preencher – a hiância constituída pela insolubilidade do desejo. Podemos dizer que o Witz restitui o gozo à demanda essencialmente insatisfeita, sob o duplo aspecto, aliás idêntico, da surpresa e do prazer – o prazer da surpresa e a surpresa do prazer.”1
Assim Lacan aborda o chiste em seu Seminário “As formações do inconsciente”2 . Relaciona-o ao Outro, sem o qual não se completa, e ao desejo, cuja insolubilidade essencial será, “de certa maneira”, preenchida por esse dizer.
No caso do analisante ser o autor do chiste, o papel do Outro que, “de certa maneira”, preenche a hiância do desejo cabe ao analista. Ao ser colocado nessa posição – posição, por definição, de quem preenche a hiância do desejo –, não estaria o analista respondendo à demanda?
E no caso do analista ser o autor do chiste, não haveria o risco do mesmo? Afinal, se “o Witz restitui o gozo à demanda essencialmente insatisfeita”3, não estaria o analista, novamente, respondendo à demanda?
Lacan responde: “O Outro é indispensável para o fechamento do circuito que o discurso constitui…”. “Esse circuito é a autenticação, pelo Outro, daquilo que, em suma, é uma alusão ao fato de que nada na demanda, desde que o homem entrou no mundo simbólico, pode ser alcançado, a não ser por uma sucessão infinita de passos-de-sentido. O homem, novo Aquiles perseguindo uma outra tartaruga, está fadado, em razão da captação de seu desejo no mecanismo da linguagem, a essa aproximação infinita e nunca satisfeita, ligada ao próprio mecanismo do desejo, que chamaremos simplesmente de discursividade”4.
A possibilidade que se apresenta a um analista, então, é utilizar esse “circuito”, tanto de um lado como do outro, de maneira a acentuar a “aproximação infinita e nunca satisfeita” que o gozo restituído pelo Witz permite evidenciar.