Boletim Fora da Série das Jornadas da Seção SP - Número 05 - Novembro de…
Surpresa na cena da cidade
Cristiana Gallo (EBP/AMP)
Os grafites de Banksy surpreendem.
Irrompem na cena da cidade e reviram a perspectiva do olhar para a cena colocada em questão. Antes e agora, durante a pandemia, o olhar é capturado.
Absorvido o efeito da surpresa, podemos promover a palavra e tecer histórias a partir dali, mas é importante dizer que no prícípio estava a surpresa, algo entre imaginário e real, e as palavras chegam depois.
As Jornadas Subversões, estas “Fora da série”, também produziram um efeito de surpresa inicial, na sequência absorvido. Algo entre dois tempos.
O “Fora da série” traz a recordação da série que se cruza com algo que chega de fora, surpreendendo. O que será “Fora da série”?
Fora da surpresa, poderia-se dizer que as Jornadas, assim apresentadas, introduziram-se no tempo, como resposta precisa ao momento que atravessamos – o da pandemia. O “Fora da série” entre o possível e o necessário ao momento.
Contudo, o “Fora da série”, enquanto algo que se destaca e particularmente destacado da conjugação entre os termos do possível e necessário, tomado como interpretação, instaura um corte, apresentando-se como acontecimento imprevisto. O que ressoava indistintamente encontra um ponto de detenção no acontecimento, tal como Miller nos indica em “A erótica do tempo”.
Aí teríamos o “Fora da série” elevado à própria surpresa.
A pandemia do Covid-19 parece nos deixar entre os termos do já previsto pela ciência e o efeito de surpresa, do incalculável que a cada um atravessa:
‘Mas isto não é possível!’ É precisamente esse momento que lhe confere um valor de real. Há como um forçamento do círculo dos possíveis por parte do acontecimento. Se a surpresa é intrínseca ao acontecimento, isto se deve à própria posição da contingência com relação ao impossível. Evidentemente, em seguida absorvemos a surpresa, e dizemos que, por ter acontecido, isto era possível. Alargamos o círculo do possível, e dizemos que a surpresa foi um erro. Isso, porém, não reduz em nada o real do acontecimento que provoca a surpresa[1].
O “Fora da série” entre possível e impossível, entre resposta ao tempo e também nos chegando de fora, emergindo como a própria provocação, parece interessar a nossa discussão, naquilo que a subversão do sujeito coloca em questão – os furos do sentido e a relação do sujeito com seus objetos ou o objeto que ele é em sua relação com o Outro.
“Pois esse sujeito, que acredita poder ter acesso a si mesmo ao se designar no enunciado, não é outra coisa senão um objeto desse tipo”[2].