Boletim Fora da Série das Jornadas da Seção SP - Número 05 - Novembro de…
Comentário sobre O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise
Comentário sobre O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., p.160 e 169.
Silvia Jacobo
A desmontagem da pulsão
A passagem da mitologia pulsional à pulsão como conceito fundamental traz como consequência a promoção do gozo na estrutura mesma do inconsciente: a realidade do inconsciente é a realidade sexual. Lacan compara a pulsão com uma montagem à maneira da colagem surrealista e procede a sua desmontagem. A pulsão não cessa, é sempre parcial, o mistério do encontro da palavra com o corpo faz que a sexualidade participe da vida psíquica em consonância com a estrutura de hiância que é a do inconsciente. O inconciente é tropeço, discontinuidade, falha, borda diante do real da sexualidade.
Lacan retoma a noção freudiana do objeto perdido a partir do qual o sujeito se realiza na sua divisão, trata-se do objeto que causa o desejo, a presença de um vazio que a pulsão contorna inaugurando uma topologia de borda homóloga à estrutura do inconsciente. Ao dar destaque para o circuito da pulsão, é de sua trajetória que será extraído o lugar lógico para o objeto, a sua invenção, o objeto a.
No texto “Os seis paradigmas do gozo”, Miller destaca a comunidade de estrutura entre o inconsciente e o funcionamento da pulsão, indicando que a frase chave deste Seminário é que algo no aparelho do corpo é estruturado da mesma maneira que o inconsciente. Na sua resposta a Marcel Ritter, Lacan reduz o real pulsional a sua função de buraco, do que se trata é do vivo do corpo. Será no Seminário 23 que se produz um deslocamento do circuito da pulsão ao eco: “as pulsões são, no corpo, o eco do fato de que há um dizer”[1] Há ressonâncias que dão conta do mistério do encontro entre lalíngua e o corpo. Uma análise será a oportunidade de extrair o vivificante desse encontro sempre traumático.
[1] Lacan, J. O Seminário Livro 23: O Sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p.18.