Boletim Fora da Série das Jornadas da Seção SP - Número 05 - Novembro de…
Comentário sobre “Mulheres e discursos”. Rio de Janeiro, Contra Capa. (Coleção Opção Lacaniana).
Uma poética do falo à mulher que não existe
Heloisa Silva Teixeira (Associada ao CLIN-a)
Brousse se refere ao falo como “opera-dor” de uma perda que dá suporte ao sujeito quando este é uma mulher. Haveria a presença de uma “dor”, indizível, no lugar de um vazio, uma inexistência, litoral de ausência em que se pode escrever algo. Uma escrita feminina, litorânea e literária, uma a uma, ou Uma-sozinha, às escondidas.
Uma perda que supõe um vazio de algo alí desde antes a ser reencontrado depois e que faz apelo a um significante que o constitui em si mesmo e o causa.
Seria o gozo Outro que estaria escondido e até impedido nas mulheres? Ou a mulher, ela mesma, que como objeto se esconde. Que desperte o subversivo que nos concerne a fim de fazer-se ver e fazer algo com o ilimitado do gozo como tal!
Como o falo se encontra com o mistério do corpo feminino?
Por uma poética, tomamos o falo como literalmente Outro, com função de escabelo para uma escrita onde o corpo feminino vai se fazendo como peças soltas, retalhos que vão se alinhavando, texto-tecitura que enlaça o corpo do Outro.
Efeito feminizante de um “já sabido”, sempre sintomático e mutante. Letras de amor como o que cai de um dizer que faz litoral, como o mais vivo de um saber novo para que algo ande.
Que vazio é este que se esconde ao meu lado?
Som de fundo, eco eloquente
Qual berrante emana e derrama
Espinho insano em mim se encerra
Como lava quente toca a carne quieta
O que estaria atrás, como causa?
Insisto de vez nestes percalços
Segurando firme na mão do desejo
Saio de dentro do oco, deixo pegadas
Pedaços de letras escondidas no porão
E então, poesia, te encontro ao me fazer mulher
Das letras guardadas, perdidas estavam
Amassadas e esquecidas, no fundo rasgado
Entorpecidas de sentidos e ideais
Emaranhadas em tecidos, amordaçadas
Letra indizível, tornar-se-a litoral
Esguia, lânguida e sorrindo
Eu, mulher, olho a som-bra que me desenha
Som barrado que ecoa por entre as letras
Subverto cada sentido que me amor-daça
Escondo o que não existe, a mulher desalinhada