#06 - OUTURBRO 2023
Boletim Gaio #02
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#02 – MAIO 2023
Editorial
Élida Biasoli
Associada ao Clin-a
Coordenadora da Comissão de Boletim das XII Jornadas da EBP – SP
Foi dada a largada para as XII Jornadas da EBP – SP. Na atividade de abertura, muita empolgação e indagação sobre o riso, tema até então pouco investigado pela comunidade analítica e que agora ganha o centro das atenções. Curioso que não é de agora esse certo desinteresse em relação ao humor, ao cômico, ao chiste. Ernest Jones lamenta o fato de o texto freudiano menos explorado pelos psicanalistas posteriormente ser Os chistes e sua relação com o inconsciente. Ele acredita que isso se deva por ser um texto muito apurado, que apresenta um raciocínio cerrado, pedindo considerável concentração para ser plenamente apreciado. Contudo Lacan relança o olhar sobre o assunto em alguns momentos de seu ensino, o que poderemos consultar nessa edição do Gaio 2, na parte das Referências Bibliográficas.
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Escrita Gaia
Um sorriso para Lia
Iordan Gurgel
AME da EBP/AMP
Se uma das possibilidades de tratar uma psicose passa por esta indicação de Freud, por que não pensar que o humor pode bem servir a este propósito?
Para atender o pedido de escrever um texto sobre o riso, tema das Jornadas da EBP-SP, optei em tomar a psicose como referência e demonstrar, via um caso clínico, a estabilização que se produziu a partir de um efeito cômico de um significante, tendo como resultado a construção de um sinthoma. Se trata de tomar o humor como estratégia de estabilização de uma psicose.
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O chiste, o declínio da paróquia e as vicissitudes da ironia para a psicanálise
Laura Rubião
Membro da EBP / AMP
Freud situou o vasto domínio do riso e suas declinações: o humor, o cômico e a tirada espirituosa (Witz), não apenas como manifestações da cultura, mas como índices da presença do inconsciente em sua articulação com o discurso do Outro.
A plena realização de um chiste depende da paróquia, nos dirá Lacan. Ele opera a partir do uso compartilhado do tesouro dos significantes, condição primordial da incidência do Outro do sentido como base de sustentação de um discurso estabelecido.
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Entre fossos e janelas, caminham o real, o objeto e o WITZ?
Cláudia Reis
Membro da EBP/AMP
Em recente entrevista, o ator Marco Nanini faz uma série de articulações que a nós, que estamos às voltas com o tema do R.I.S.o, interessam muito. Fala a respeito do ridículo e o riso, do improviso e o tempo da plateia bem como do sofrimento real do comediante “que tem que ter uma chave na comédia senão fica muito pesado”. O entrevistador destaca um episódio da recém lançada autobiografia de Nanini, em que este fora visitar o pai que estava em estado terminal devido ao avanço de um câncer. Ao sair do hospital, vai para o teatro onde atuava em uma comédia, deixando o pai em agonia. Nanini comenta: “Foi isso aí, foi impactante. Eu fiz a comédia direitinho mas eu tava com aquilo na garganta e durante um improviso eu disse: meu pai está morrendo, vocês estão rindo! Era verdade e eles morreram de rir. Eu aí vi que é isso mesmo, a vida é assim.”
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O riso do chiste e seu mais além
Cristiano Alves Pimenta
Membro EBP/AMP
Lacan, ao abordar as formações do inconsciente, em seu O seminário livro 5: as formações do inconsciente, parte do chiste, a chamada “piada”, para formalizar a estrutura metafórica e metonímica do inconsciente. O estudo do chiste, mais precisamente, de sua elaboração, permite a Lacan formular uma diferenciação essencial entre uma mensagem que se elabora e o código. O código é o campo das significações já estabelecidas, é o campo do Outro limitado pelo que já está consolidado na linguagem comum. A mensagem do chiste, por seu lado, é o que não tem lugar no campo do código, ela está, diz Lacan “em flagrante violação do código”. Com o auxílio de seus primeiros esboços do “grafo do desejo”, com seus vetores de retroação, Lacan formula que um chiste consiste na introdução de uma mensagem, cujo sentido é não sabido, no campo do código. O chiste se consuma, com seu efeito de prazer e riso, quando essa mensagem é reconhecida, “sancionada” pelo Outro do código.
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O bater de asas da borboleta: a interpretação e seu efeito multiplicador
Nancy Greca Carneiro
Membro da EBP/AMP
O que é hoje a interpretação analítica? Ao tratar do que faz rir no curso “A fuga do sentido”, Miller apresenta, no efeito surpresa do chiste, uma razão renovada necessária para considerar a interpretação analítica, na ruptura da causalidade onde “estamos frente a uma situação em que uma pequena causa produz um efeito desproporcional”.
Inicio pela questão: o que faz rir a um, ao outro faz matar. Em seu texto “O retorno da blasfêmia”, Miller aponta que a questão “será saber se o prazer pelo riso, o direito a ridicularizar, o desprezo iconoclasta, são tão essenciais ao nosso modo de gozar como o é a submissão ao Um na tradição islâmica”. Do que se ri? Pode-se rir de tudo? Ele segue: “Há que manter unidos os signos de uma comunidade. Em nenhuma parte, nunca, desde que há homens e estes falam, foi lícito dizer tudo”.
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Eixos Temáticos
Atividade Preparatória – Eixo I – SÓ RISO?!
Cartel responsável:
Maria Cecília Galletti Ferretti (+1)
Camila Colás
Carmen Silvia Cervelatti
Daniela de Camargo Barros Affonso
Jovita Carneiro de Lima
O riso em Lacan traz fortemente a questão do gaio saber. Em “Televisão” localiza o gaio saber como o oposto da tristeza, sendo ele próprio uma virtude. Nietzsche, em seu livro “O gaio saber”, afirma que “um só homem sem alegria é o suficiente para criar em toda uma casa um mal humor contínuo e envolvê-la em uma nuvem negra”. Em tempos de prevalência do real o gaio saber se distancia do sentido.
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Esp de um riso
Maria Bernadette S. de S. Pitteri
Membro da EBP/AMP
Hipócrates
O Cartaz das Jornadas da EBP-SP, ilustrado com o quadro de Antoine Coypel retrata o riso de Demócrito, filósofo pré-socrático, materialista, que estabeleceu as bases do atomismo a partir da ideia de que todas as coisas são compostas por partículas minúsculas e indivisíveis (átomos), além de propagar o conceito de que o universo seria habitado por infinitos mundos. Desde a antiguidade registram-se anedotas de que ele ria de tudo e de todos, o que o levou a ser conhecido durante o Renascimento, como “o filósofo que ri”.
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Estão fazendo arte
O homem que ri
Marcia Eliane Rosa
Participante da Comissão de Arte e Cultura das XII Jornadas da EBP – SP
O romance de Victor Hugo, “O homem que ri”, publicado em 1869, nos faz olhar para complexas questões sobre o riso e o humor. A história traz como personagem principal Gwynplaine(o homem que ri), um homem deformado a partir de uma cirurgia forçada, realizada ainda na infância, que transforma seu rosto deixando-o permanentemente distorcido em um sorriso perto do grotesco. A condição física do personagem pode ser vista como uma metáfora para seu estado emocional de sofrimento e uma sensação de isolamento e alienação. No entanto, apesar de sua condição trágica, também é retratado como alguém que tem um senso de humor e é capaz de rir de si mesmo e das situações absurdas que enfrenta.
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Acontece na Cidade
Comissão de Acolhimento
No coração da cidade de São Paulo está em cartaz a peça “Freud e o Visitante”. A terceira adaptação da peça no Brasil, escrita pelo dramaturgo belga Éric-Emmanuel Schmitt, é encenada pelo Grupo Tapa e está em cartaz no Teatro Aliança Francesa até 04 de junho.
A história se passa em 1938, no momento em que os alemães invadem e perseguem os judeus austríacos. Dentre eles, Freud e sua família. Em uma noite, enquanto Anna Freud é levada pela Gestapo para um interrogatório, Freud recebe uma visita. Seria ela, um fugitivo louco, Deus ou o próprio inconsciente de Freud?
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Envio de Trabalhos
Data limite para envio dos trabalhos: 10 de setembro de 2023
Orientações:
- Os textos devem ter, no máximo, 5.000 caracteres (com espaços), escritos em Times New Roman 12, justificado, espaçamento simples, com notas (referências) no fim de página.
- Colocar no Cabeçalho o título do trabalho, o nome do(a) autor(a) e o Eixo Temático no qual o trabalho se insere.
- Os textos devem ser enviados em formato Word, anexado ao e-mail, colocando como assunto: “Jornadas R.I.S.o – envio de trabalhos”.
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RSRSRS
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INSCRIÇÕES
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COMISSÕES
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CARTÉIS
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