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Resenha: Miller, J.-A. (2015). “A criança entre a mulher e a mãe”
Opção Lacaniana online nova série Ano 5 nº 15 novembro 2014. Disponível em: http://opcaolacaniana.com.br/nranterior/numero15/index.html
A criança entre a mulher e a mãe é o título de um Colóquio, em 1996, em Lausanne, organizado pelo Grupo de Estudos de Genebra, em que Jacques-Alain Miller fez esta intervenção.
Miller desenvolverá a posição da criança em relação aos pais, tomando como referência o Seminário 4, A relação de objeto, onde Jacques Lacan demonstra que o objeto só encontra seu justo lugar na psicanálise ao dispor-se à função de castração. Esta demonstração compreende três tempos e desdobra-se em três escansões que são desenvolvidas através de casos e artigos de Freud.
Primeiramente, Lacan se vale dos artigos A organização genital infantil e Psicogênese de um caso de homossexualidade feminina, o caso da jovem homossexual, para apresentar como “as consequências do incômodo da decepção, devido à falta do dom paterno no objeto criança, como substituto da falta fálica, podem até levar o sujeito a fazer da mulher o objeto eletivo de um amor com o qual censura o pai”.
Em segundo, toma Três ensaios sobre a sexualidade e O fetichismo para tratar da relação de objeto na “perversão masculina, na qual o objeto fetiche é apresentado debatendo-se sobre a tela que vela o falo que falta à mulher”.
No terceiro tempo, com Análise de uma fobia em um menino de cinco anos, o pequeno Hans, Lacan ilustra como “convergem os dois primeiros: a substituição da criança ao falo, evidenciada na psicogênese freudiana da homossexualidade feminina, e a identificação do menino ao objeto imaginário do desejo feminino”.
Miller precisa que a lição do Seminário é que, na relação mãe/criança, a função do pai sobre o desejo da mãe não é suficiente para permitir ao sujeito um acesso normativo à sua posição sexual. “É preciso, ainda, que a criança não sature, para a mãe, a falta em que se apoia o seu desejo (…), que o objeto criança não deve ser tudo para o sujeito materno, mas que o desejo da mãe deve se dirigir para um homem e ser atraído por ele”.
Por um lado, a criança possui o valor de substituto fálico e, por outro, divide, no sujeito feminino, a mãe e a mulher. “Se o objeto criança não divide, ou ele sucumbe como dejeto do par genitor, ou, então, entra com a mãe numa relação dual… Há, assim, uma divisão bastante simples: a criança preenche ou a criança divide”.
A partir desta divisão, Miller organiza quais são os consequentes desdobramentos e as intervenções do analista. No par pai/mãe, o sintoma já está articulado à metáfora paterna, “portanto plenamente envolvido nas substituições e as intervenções do analista podem prolongar o circuito e fazer com que essas substituições prossigam”. Já na relação mãe/criança, “o sintoma é bem mais simples se ele diz respeito, essencialmente, à fantasia da mãe; mas, nesse caso, ele também é maciço e, no limite, apresenta-se como um real indiferente ao esforço para mobilizá-lo pelo simbólico”.
Miller apresenta uma série de exemplos de sintomas da criança e seus efeitos de maior angústia na mãe quanto mais ela preenche o seu desejo e destaca que, se Lacan situou a posição da criança em relação ao falo, transcrevendo a equivalência freudiana da criança e do falo em termos de metáfora: “é preciso dizer que a metáfora infantil do falo só é bem sucedida ao falhar”. Somente assim o sujeito não fica fixado à identificação fálica, possibilitando o acesso à significação fálica, à castração simbólica e preservando o não-todo do desejo feminino. “O Nome-do-Pai e o respeito pelo Nome-do-Pai não bastam; é preciso, ainda, que seja resguardado o não-todo do desejo feminino e que, portanto, a metáfora infantil não recalque, na mãe, seu ser mulher”.
Acrescenta que, se na relação mãe/criança deve ser preservado o ser mulher para o sujeito feminino, esta relação para o sujeito masculino também “é motivo de angústia para o pai, desta vez, segundo a outra fórmula da angústia, que relaciona o incômodo da angústia à emergência do desejo do Outro como enigma do ser… é o nascimento da criança que provoca o retorno de angústia sobre o pai: ‘Que quer ela então? Quem sou eu, pois, para ela?’. Um homem, eu diria, só se torna pai se aceitar o não-todo que constitui a estrutura do desejo feminino”.
Se o homem não puder admitir o particular do desejo no outro sexo, exercerá a função paterna de forma patógena, identificando-se “ao Nome-do-Pai como universal do pai, para tentar constituir-se o vetor de um desejo anônimo, para encarnar o absoluto e o abstrato da ordem”. Desta forma, em vez de mediar o Nome-do-Pai e o particular do desejo da mãe, “pressiona essa criança, cada vez mais, a encontrar refúgio na fantasia materna, a fantasia de uma mãe negada como mulher”.
Miller conclui com Lacan, que “dizia que é preciso que o pai humanize o desejo…, que o desejo não seja anônimo, nem universal, nem puro…que é bom que o desejo seja dividido, que o objeto não seja único”.