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Comentário sobre Perspectivas dos Escritos e Outros Escritos de Lacan. Rio de Janeiro: Zahar.

 Entre Desejo e Gozo: Segunda Lição – p. 35.

Rubens Antônio Fogassi Berlitz (Associado ao CLIN-a)

O desejo do analista, tal como Lacan propõe na “direção do tratamento”[1], se diferencia radicalmente do conceito de contratransferência, este muito absorvido no campo do imaginário,  enquanto o desejo do analista não se restringe a ordem simbólica, mas aponta para o real em jogo na análise.

Enquanto “desejo inédito”[2], o desejo do analista – diferente do desejo de ser analista, mais voltado a uma “vontade de gozo” – é o desejo de obter a diferença absoluta. Nesta diferença absoluta, não há pureza alguma, há sim, resíduos que tomamos do Outro e dos quais nada queremos saber. Isto que resta impuro, Lacan chama de objeto a e a diferença absoluta que visa o desejo do analista é produzida em análise na separação entre o ideal e o objeto a. Há então, uma modificação da libido e da pulsão. Nesta separação, esgarçada ao longo da experiência analítica, o resultado é a inconsistência do Outro e a extração do objeto pulsional, onde o sentido já não tem sentido algum. Há um furo no saber e o que se precipita é uma certeza, um “É isso!”.

Observamos neste processo, uma “subversão” do desejo que vai do desejo em direção ao objeto para o desejo como causa, determinado pelo objeto. É então, como semblante de objeto a que o analista operará na análise. Miller adverte aos analistas praticantes: quem ainda não encontrou um “É isso”, que marca a singularidade, não deve “brincar de fazer o passe”.[3]


[1] Lacan, J. A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 1998. p. 591- 652.
[2] Lacan, J. Nota italiana. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2003. p. 313.
[3] Miller, J-A. Perspectivas dos Escritos e dos outros Escritos. Entre desejo e Gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2011. p. 35.
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