Por Niraldo de Oliveira Santos EBP/AMP “Alguns sendo singulares, se ajuntam, e podem ser colocados…
Ô Solitude – Catherine Millot
Por Veridiana Marucio
EBP/AMP
“A felicidade de viver sozinha,
quando a leveza que a acompanha vai até ao apagamento de si
na alegria contemplativa”
A solidão, abordada nesse livro – que se situa entre um ensaio e um romance – nos é apresentada de uma maneira única. Não se trata de uma ficção romântica, muito menos de uma simples anamnese, mas sim da relação da história da autora, do que chamamos em psicanálise de seu próprio caso, imbricada à história da solidão em suas múltiplas encarnações.
Abismos e vertigens solitárias, ausência e plenitude da ausência, a autora nos pega pela mão e nos faz acompanhar uma exploração de seu próprio isolamento e de suas vertigens. Pergunta-se: “A solidão absoluta, não seria aquela onde estamos nós mesmos ausentes?”[1].
Com um estilo fluído e agradável, seu texto, dedicado ao amor e às formas de relações que escapam à mediação social, provoca sensações parecidas com aquela sensação de termos acabado de sair de um mergulho no mar.
Ela, amante da arte e da literatura, confessa ter descoberto o amor com Proust, e ter se inspirado em grandes nomes como Purcell (de onde ela retira o título de sua obra e que nos foi aconselhada por Marie-Hélène Brousse na entrevista publicada no primeiro boletim), Caspar Frierich, Goethe, Poe, Rilke, Barthes, entre outros, para abordar esse continente criador da solidão. Sua busca é a de tentar compreender como esses artistas e escritores percebem o mundo a partir de seus próprios abismos.
Trata-se de um retrato de uma solitária que se dirige a outros solitários cujo destino ela nos apresenta. Para Catherine, existem tantas solidões quanto estilos de existência e de nomes próprios. Pode-se ou não fazer um bom uso da solidão, inventar, criar um estilo de vida original ao se abrir para o desconhecido de si e do mundo.
Segundo ela, nem todos os sujeitos são susceptíveis à essa espécie de felicidade paradoxal que faz preferir sua própria companhia a companhia dos outros, não por medo ou por rejeição, nem por narcisismo, mas pelo abandonamento e pelo desnudamento, pré-requisitos para o sonho, a criação e a reflexão. Sem dúvida temos aqui um material rico e que pode contribuir com nossas IX Jornadas, lançando luz às questões levantadas nos eixos de trabalho, principalmente no que concerne à solidão do gozo feminino.