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O QUE EM NOSSA PRÁTICA TEM SE APRESENTADO COMO PRELIMINAR[1]?

Camila Colás
Associada ao CLIN-a
 Imagem – Instagram: @franckgerardart
Imagem – Instagram: @franckgerardart

Nas X Jornadas da EBP-SP “Psicanálise em Ato” (2021) Anna Aromí levantou questões importantes em sua conferência[2] sobre como entendemos e praticamos as entrevistas preliminares nos tempos de hoje: “o mínimo que podemos dizer das entrevistas preliminares é que são o tempo necessário e variável em cada caso, para que o discurso do inconsciente se estabeleça e o sintoma se apresente”[3]. Com o ato de entrada “começara a se gozar de outra maneira, se autorizará a gozar do inconsciente ao invés do sintoma”[4].

Com o tema das XI Jornadas “Ⱥ verdade e o gozo que não mente” temos agora a oportunidade de articular o amor à verdade e as entrevistas preliminares através do tema de trabalho proposto pelo Eixo1. Seguindo com essa proposta, no sentido de provocar a produção e envio de trabalhos que possam incluir o vivo da prática clínica, trago algumas questões sobre esse tempo preliminar quando se demanda um tratamento. Será a busca pelo amor à verdade o que o sujeito apresenta como preliminar ao procurar um analista? Se não for o amor à verdade, de que amor se trata nesse tempo das entrevistas preliminares, já que toda demanda inclui o amor?

Miller[5], em relação ao procedimento analítico, nos questiona sobre o tempo do consentimento da verdade para o sujeito, o que nos “conduz a interrogar sobre a dose de verdade que um sujeito pode suportar, assimilar num dado momento, mas também a dose de verdade que lhe resta insuportável sem, contudo, um desconforto excessivo. Sem fazer desmoronar ou ameaçar desmoronar o que lhe vale como mundo”. Assim “não tão depressa”, “não tão forte” seria uma questão de dosagem no que concerne a uma interpretação ou outro manejo que poderia levar o sujeito a fugir do que assim lhe fora revelado e abandonar o dispositivo analítico.

Nesse ponto de poder interrogar a dose de verdade que um sujeito pode suportar, quais os impasses do analista em relação a direção do tratamento nas entrevistas preliminares nos casos de toxicomania, onde o que se apresenta é uma nova modalidade do sintoma? Jésus Santiago[6] nos ajuda a avançar com essa questão quando diz que “o maior impasse do psicanalista ao lidar com esse paciente estrutura-se assim: por não se revelar uma verdade decifrável e interpretável, a toxicomania não favorece a complementação do sintoma pelo ser de saber do analista e não se exprime, consequentemente, por uma relação de dependência com o sujeito suposto saber.” Assim, como manejar a dose da verdade para esses sujeitos que demandam uma análise, muitas vezes em situação de urgência subjetiva, para que a busca do amor à verdade se instaure e algo possa perturbar o modo de gozo do sujeito ao invés da repetição do sintoma?


[1] Trecho do Eixo 1: O amor à verdade e as entrevistas preliminares. Disponível em: https://ebp.org.br/sp/jornadas/xi-jornadas-%e2%b1%a5-verdade-e-o-gozo-que-nao-mente/eixos-xi-jornadas/
[2] AROMÍ, A. O ato analítico, entre consentimento e consequências: com o que o tratamento lacaniano contribui para a civilização. Carta de São Paulo, Lugar e Laço. Revista da EBP-SP. Ano 29.n.1 abril, 2022.
[3]Idem, ibidem. P. 122 e 113.
[4] Idem, ibidem. P.113.
[5] MILLER, J.-A. Perspectivas dos escritos e outros escritos de Lacan. RJ: Zahar, 2011, p.16 e 17.
[6] SANTIAGO, J.A droga do toxicômano: uma parceria cínica na era da ciência. 2ª ed. rev. – BH: Relicário Edições, 2017, p.11.
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