BOLETIM ELETRÔNICO DAS XI Jornadas da EBP - Seção São Paulo Local das Jornadas: Meliá…
O QUE EM NOSSA PRÁTICA TEM SE APRESENTADO COMO PRELIMINAR[1]?
Camila Colás
Associada ao CLIN-a
Nas X Jornadas da EBP-SP “Psicanálise em Ato” (2021) Anna Aromí levantou questões importantes em sua conferência[2] sobre como entendemos e praticamos as entrevistas preliminares nos tempos de hoje: “o mínimo que podemos dizer das entrevistas preliminares é que são o tempo necessário e variável em cada caso, para que o discurso do inconsciente se estabeleça e o sintoma se apresente”[3]. Com o ato de entrada “começara a se gozar de outra maneira, se autorizará a gozar do inconsciente ao invés do sintoma”[4].
Com o tema das XI Jornadas “Ⱥ verdade e o gozo que não mente” temos agora a oportunidade de articular o amor à verdade e as entrevistas preliminares através do tema de trabalho proposto pelo Eixo1. Seguindo com essa proposta, no sentido de provocar a produção e envio de trabalhos que possam incluir o vivo da prática clínica, trago algumas questões sobre esse tempo preliminar quando se demanda um tratamento. Será a busca pelo amor à verdade o que o sujeito apresenta como preliminar ao procurar um analista? Se não for o amor à verdade, de que amor se trata nesse tempo das entrevistas preliminares, já que toda demanda inclui o amor?
Miller[5], em relação ao procedimento analítico, nos questiona sobre o tempo do consentimento da verdade para o sujeito, o que nos “conduz a interrogar sobre a dose de verdade que um sujeito pode suportar, assimilar num dado momento, mas também a dose de verdade que lhe resta insuportável sem, contudo, um desconforto excessivo. Sem fazer desmoronar ou ameaçar desmoronar o que lhe vale como mundo”. Assim “não tão depressa”, “não tão forte” seria uma questão de dosagem no que concerne a uma interpretação ou outro manejo que poderia levar o sujeito a fugir do que assim lhe fora revelado e abandonar o dispositivo analítico.
Nesse ponto de poder interrogar a dose de verdade que um sujeito pode suportar, quais os impasses do analista em relação a direção do tratamento nas entrevistas preliminares nos casos de toxicomania, onde o que se apresenta é uma nova modalidade do sintoma? Jésus Santiago[6] nos ajuda a avançar com essa questão quando diz que “o maior impasse do psicanalista ao lidar com esse paciente estrutura-se assim: por não se revelar uma verdade decifrável e interpretável, a toxicomania não favorece a complementação do sintoma pelo ser de saber do analista e não se exprime, consequentemente, por uma relação de dependência com o sujeito suposto saber.” Assim, como manejar a dose da verdade para esses sujeitos que demandam uma análise, muitas vezes em situação de urgência subjetiva, para que a busca do amor à verdade se instaure e algo possa perturbar o modo de gozo do sujeito ao invés da repetição do sintoma?