BOLETIM ELETRÔNICO DAS XI Jornadas da EBP - Seção São Paulo Local das Jornadas: Meliá…
URGÊNCIA E SATISFAÇÃO NAS ENTREVISTAS PRELIMINARES
Sílvia Sato
Membro da EBP e da AMP
Podemos dizer que ao considerar o empuxo à satisfação no início do tratamento, é preciso repensar o lugar do amor à verdade nas entrevistas preliminares?
Alberti[1] retoma Lacan[2] ao dizer que “Dar essa satisfação é a urgência que a análise preside” e propõe que, desde seu início, a direção do tratamento seja orientada pela urgência de satisfação, que se distingue do contexto contemporâneo, já que a urgência que a análise preside se liga à descarga de tensão que implica o corpo, onde ele é empurrado, aquém de uma subjetivação. Com isso, pode-se dizer que numa análise do falasser trata-se da urgência intrínseca ao modo de satisfação de cada um e que implica seu corpo próprio.
Nessa perspectiva, Alberti propõe que para além do amor de transferência, a causalidade do retorno à sessão analítica é a satisfação. O que permite considerar como no mundo contemporâneo é comum àquele que chega ao analista estar menos causado pelo amor à verdade e mais pela satisfação perdida? O falasser chega sem saber que algo dessa satisfação está perdida para sempre e retorna pela abertura do inconsciente na relação com o objeto a como causa.
Causa que logicamente precede à entrada em análise e nessa medida seria preliminar desde sempre, sendo localizada a posteriori na relação com o objeto a na instalação do discurso analítico, fazendo surgir o sujeito dividido.
Nas entrevistas preliminares a fala passa à queixa, se torna demanda e atrela o sintoma ao analista. Contudo, como diz Laurent[3] ao falar sobre o ponto onde a demanda se corta, não se pode pedir o que não se quer, ou seja, o peso do seu gozo ligado ao pulsional que está em jogo.
Se por um lado esse gozo se atualiza no próprio ato da fala, Alberti[4] cita Lacan ao dizer, “nada há na urgência que não gere sua superação na fala”, convocando a interpretação do gozo, mais além da comunicação, onde a palavra serve ao gozo.
Ainda segundo Alberti[5], “fala-se sob o empuxo de uma exigência imperiosa de satisfação” de modo que a transferência fica relativizada e acabando por se desfazer sob esse empuxo.
Nesse plano a urgência supera a demanda, o que significa dizer que a urgência de satisfação supera a demanda de amor, do amor à verdade?
Como diz Miller[6] “O que do ponto de vista do simbólico chamávamos demanda é, na verdade, um pedido de urgência. E esse pedido é o que se avalia durante as entrevistas preliminares: há ou não urgência de satisfação? O sujeito chegou ao ponto de já não saber lidar bem com o seu sintoma?”
Deste modo, pode-se dizer que as entrevistas preliminares servem para criar um vão no saber, onde o falasser localiza que não sabe lidar bem com seu sintoma, o que produz para além de uma demanda dirigida ao Outro, um Outro que acusa recebimento de sua urgência de satisfação? Nessa perspectiva parece que nos cabe verificar hoje as consequências para o lugar do amor à verdade.