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O narcisismo ontem e hoje
Rosângela Carboni Castro Turim (associada da CLIPP)
O tema da atividade Leituras na Biblioteca da Seção São Paulo “Freud e o amor”, que aconteceu na CLIPP, no dia 13 de setembro, coordenada por Perpétua Medrado, com a convidada Marizilda Paulino, foi “Introdução ao Narcisismo”(1), texto de Freud de 1914. Marizilda resgatou o conceito trazido para a psicanálise por Freud, contextualizando na clínica das psicoses e nas parcerias (escolha objetal).
O termo narcisista atualmente faz parte do nosso vocabulário, está incluído na cultura. Derivado do mito grego de Narciso, Freud retoma o termo narcisismo utilizado por P. Näcke “para designar a conduta em que o indivíduo trata o próprio corpo como se este fosse o de um objeto sexual”, porém afirma que “o narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo”.
A partir da noção de aparelho psíquico e dualidade das pulsões (sexual e autoconservação) sob os princípios do prazer, da constância e da realidade, Freud pergunta qual seria o destino da libido retirada dos objetos nos parafrênicos. E desenvolve, a partir da dualidade libido do Eu e libido do objeto:“a libido retirada do mundo externo foi dirigida ao Eu, de modo a surgir uma conduta que podemos chamar de narcisismo”. Segundo ele, a megalomania seria a ampliação e a explicitação de um estado que já havia existido antes e o consequente abandono do interesse pelo mundo externo (pessoas e coisas).
No entanto, Freud retoma a oposição entre os instintos sexuais e os instintos do eu observadas na análise das neuroses de transferência (neurose obsessiva e histeria), para desenvolver a teoria da libido do Eu a partir do estudo das parafrenias e das neuroses narcísicas (melancolia, paranoia e esquizofrenia). Denominava neuroses atuais: a neurastenia, hipocondria e neurose de angústia. O hipocondríaco, segundo Freud, retira o interesse e a libido dos objetos do mundo exterior e concentra ambos no corpo. E relaciona a hipocondria com a parafrenia naquilo que ambas dependem da libido do Eu, enquanto as outras (neuroses de transferência) dependem da libido de objeto.
Freud, com a observação da vida psíquica das crianças, forma a ideia de um “originário investimento libidinal do Eu, de que algo é depois cedido aos objetos, mas que persiste, relacionando-se aos investimentos de objeto”. As primeiras satisfações sexuais autoeróticas são experimentadas em conexão com funções vitais de autoconservação. O bebê tem originalmente dois objetos sexuais: ele mesmo e a mulher que o cria. Na oposição entre libido do Eu e libido do objeto, “quanto mais se emprega uma, mais empobrece a outra”. No enamoramento, haveria um empobrecimento libidinal do Eu em favor do objeto.
Freud questiona “de onde vem a necessidade que tem a psique de ultrapassar as fronteiras do narcisismo e pôr a libido em objetos?” E responde: “Um forte egoísmo protege contra o adoecimento, mas afinal é preciso começar a amar para não adoecer, e é inevitável adoecer, quando, devido à frustração, não se pode amar”. A escolha objetal se dá, ou uma pessoa ama, para Freud, conforme o tipo narcísico (o que ela mesma é, foi ou gostaria de ser, ou ainda a pessoa que foi parte dela mesma) ou conforme o tipo de apoio (a mulher nutriz ou o homem protetor).
Atualmente, ao se tratar da vida amorosa dos humanos, parece improvável que as escolhas objetais se reduzam ainda a esta categorização.
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1 FREUD, S. “Introdução ao narcisismo”. In: Obras Completas, volume 12, Companhia das Legras, São Paulo, 2010. (Publicado originalmente em 1914)