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Número transfinito e final de análise¹
Cynthia Nunes de Freitas Farias (EBP/AMP)
Miller apresenta o passe como uma “transfinitização do dito”(2) a partir do que Lacan propõe como a passagem do “não sabido como marco de saber”(3), implicando uma passagem da inscrição à escritura(4).
A relação ao sujeito suposto saber permite que o inconsciente, não sabido por excelência, se inscreva na cadeia significante, como sabido. A palavra dá às suas formações o sentido do qual estavam privadas, presentificando o infinito do deciframento. Porém, não entrega a verdade do inconsciente(5). Como doadora de sentido, a palavra é sem fim e o inconsciente como não sabido é a “transfinitização da palavra”(6).
No nível dos números contáveis, Alef 0 indica que os elementos de um conjunto seguem ao infinito, independentemente da seleção que façamos desses elementos, pois um conjunto infinito de números inteiros, qualquer que seja ele, tem a mesma cardinalidade do todo. Tomar o inconsciente como transfinito indica que qualquer cadeia associativa que se organize pela palavra, reproduz o caráter de não sabido do inconsciente.
Em nome do sujeito suposto saber se coloca em marcha uma cadeia significante que por mais que avance em termos de deciframento será sempre finita (“sem fim, porém finita”), visto que será sempre inferior a Alef 0(7). O caráter transfinito do inconsciente é o que permite que se passe da inscrição à escritura.
Miller traduz Alef 0 em termos de castração: “Alef 0 é uma forma de escrever S(A/), é um significante que possui outra forma, (…) que permite designar a série como o que nunca é suficiente, como o ao menos um que falta”(8). Não pode ser incluído na série por ser o significante da incompletude mesma, pois A é eternamente barrado.
Conclui que ao se buscar a verdade pelo deciframento, se encontra um significante diferente dos demais, que nunca será encontrado numa vertente exclusiva de enumeração dos inteiros. “Só aparece se se forma um marco que encerra em seu inacabamento a série de significantes e … se passa através dele”(9). Alef 0 é um marco e, ao mesmo tempo, está fora dele, permitindo considerar como um todo a cadeia inacabada(10).
Miller toma o final de uma análise como correlato da invenção de um Alef 0, fazendo a seguinte ressalva: encontrar esse marco que fecharia esse conjunto inacabado não impede que isto siga se produzindo(11). O que determina, portanto, o fato de não prosseguir na via associativa e tomar um sonho, um significante, uma imagem ou mesmo a ausência de um significante, como fim de uma análise?
Considere-se aqui a questão da crença na decifração e no inconsciente como saber. A descrença no sujeito suposto saber ao final de uma análise é correlata da passagem do saber à verdade não-toda do sinthoma.
A possibilidade de continuar falando seria se dirigir ao passe. Mas se o passe implica a possibilidade de “falar um pouco mais” não se trata de relançar a associação livre, mas de uma fala orientada pelo Aleph 0.
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1 N.A.: Questão sustentada elaborada a partir dos capítulos XXI e XXII de MILLER, J.-A. (2011) El banquete de los analistas. Buenos Aires: Paidós, pp. 365 – 394. N.E.: Apresentada nas “Conversações da Orientação Lacaniana”. EBP-Seção SP, 19.09.2018.
2MILLER, J.-A. (2011) El banquete de los analistas. Buenos Aires: Paidós, pp. 365. Sobre os números transfinitos ver também: Conferência Miller de 1981 “El todo y el uno en más” em Conferencias Porteñas, Tomo 1, pp 33 a 64.
3 Idem, ibidem, p. 365.
4 Idem, ibidem, p. 371.
5 Idem, ibidem, p. 370.
6 Idem (2011), op. cit., p. 370.
7Idem, ibidem, p. 372.
8 Idem, ibidem, p. 373
9 Idem, ibidem, p. 374.
10 Idem, ibidem.
11 Idem, ibidem, p. 370.