Kátia Ribeiro Nadeau - Associada da CLIPP “Minha alma tem o peso da luz. Tem o…
Love Rat, de Banksy – sobre a imagem do cartaz das Jornadas
Banksy, artista anônimo britânico[1], que assim como o rato do cartaz das VIII Jornadas da Seção S. Paulo, se lança na arte a partir do que faz furo na cidade, estilhaçando a ideia de intervenção artística e estabelecendo novas conexões e desconexões a partir da pintura do grafite.
No lugar da moldura, enquadramento do ideal romântico que vela o objeto e que almeja fazer suplência à não existência da relação sexual, o grafite de Banksy invade os (a)muros e brechas da cidade, fazendo sua arte existir em qualquer parte sem permissão, sem uma ordem ou norma estabelecida. Suas intervenções expõem e interpretam os furos da cidade, da política, das relações e do laço, sendo esses o seu suporte, sua “moldura”. A partir desse enquadre sem tela, suas obras mostram e criam novas e antigas conexões e desconexões que, ao serem interpretadas, reinventam a cidade e o laço.
Love rat, que ilustra o cartaz das Jornadas, faz parte de uma série. Banksy espalhou seus rats por várias cidades por mais de três anos, tocando em múltiplas questões desconcertantes e instigantes. Em uma declaração sobre os rats publicada no livro “Guerra e Spray”, Banksy sentencia: “Eles existem sem permissão. São odiados, caçados e perseguidos. Vivem no lixo em um desespero silencioso. E, mesmo assim, são capazes de fazer com que civilizações inteiras caiam de joelhos”[2]. A partir deste ponto de causa, ele faz explodir seu rat(anagrama de art) pela cidade em cenas, temas, questões e lugares que desalojam e despacificam os olhares e os corpos.
Os rats encarnam algo daquilo que não se escreve, mas que se apresenta como um índice (cifra) do retorno de um real, que, ao mesmo tempo em que incomoda e desconserta, expõe e agalmatiza o objeto em jogo nas mentes e nos corpos dos falasseres contemporâneos, que se procuram, se perdem, se encontram e se desencontram em seus (a)muros/amores.