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Leituras da Biblioteca “Sobre a sexualidade feminina” (S. Freud – 1931)¹
Cristiana Gallo (EBP/AMP)
O texto “Sobre a sexualidade feminina” de Freud nos remete a uma importante questão clínica ao tratar da fase pré-edípica na menina, na qual se situa a original vinculação com a mãe.
Nestas suas últimas formulações sobre o tema, Freud considera a importância de tratar tal vinculação, sensível às “vozes do feminismo”(2) presentes ao movimento psicanalítico da época, como as de Jeanne Lampl-de Groot, Helene Deutsch e Ruth Mack Brunswick.
Da leitura destacam-se as razões que conduziriam ao desligamento da mãe, com ênfase no que Freud apresenta como a “inferioridade orgânica” da menina que, uma vez reconhecida, faz com que ela se rebele contra a mãe. A inveja fálica na menina se coloca como elemento fundamental nos destinos da sexualidade feminina, uma vez que pode determinar a detenção do “caminho evolutivo” que conduz ao pai, fazendo restar um complexo de masculinidade ao invés da realização da feminilidade.
No entanto, interessante foi notar que, a despeito das múltiplas razões que podem conduzir ao desprendimento da mãe, Freud destaca que tal vinculação está destinada a “perecer”, uma vez que estaria dominada por uma poderosa ambivalência – amor e ódio.
O “amódio” se colocou nos termos que se desprenderam do texto e conduziram às evidências clínicas do que se revela em termos absolutos na relação entre mãe e filha, em que ‘o caso a caso’ pode fazer ressaltar o que não foi cedido em termos da original satisfação aí obtida.
Pontualmente, a leitura do texto de 1931 conversou com o texto de 1932 “A feminilidade”(3), fazendo notar que a sexualidade feminina resta enigmática para Freud, não se obtendo uma final correspondência entre feminilidade e anatomia.
Neste sentido, a disposição bissexual, apontada como mais evidente nas mulheres do que nos homens, dada a existência de duas zonas sexuais dominantes (clitóris e vagina), pareceu encontrar uma nova perspectiva pela indicação de Freud de que a psicanálise
nos ensina a manejar com uma só libido, ainda que seus fins e modos de gratificação possam ser ativos e passivos.
Contudo, acrescentou-se à leitura algo das posições da mulher e do homem no amor, introduzindo-se a assertiva de Freud que aponta o que aí está separado por uma “defasagem psicológica”. Ponto que pode inaugurar uma nova conversa de Freud a Lacan.
Concluiu-se com a indicação de Freud, ao final do texto “A feminilidade”, que parece nos lançar num caminho para além do Édipo, ao falar da mulher para além da função sexual: para além ela “é um ser humano” e Freud nos convida a buscar em nossa própria experiência, na poesia ou na ciência, os meios de avançar sobre o “enigma da feminilidade”. Com Lacan, seguimos a partir de sua formulação “não-toda fálica” que nos dirige “às mulheres e seus nomes”.
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1FREUD, S. (1931) “Sobre la sexualidad femenina”. Em: Obras Completas III. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1981.
2FUENTES, M.J.S As mulheres e seus nomes:Lacan e o feminino. Belo Horizonte: Scriptum Livros, 2012, p.91
3FREUD. S. (1932) “A feminilidade. Conferência 33”. Em: O feminino que acontece no corpo: a prática da psicanálise nos confins do simbólico.Belo Horizonte: Scriptum Livros, 2012.