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Interpretar a Escola¹
Lucila M. Darrigo (EBP/AMP)
Pensar o que é interpretar a Escola implica indagar o que significa subjetivar a experiência de Escola.
Na “Teoria de Turim…”(2), Miller indica que o processo de formação de uma Escola lacaniana precisa se desenvolver a céu aberto, pois se trata de uma comunidade que só pode se constituir no próprio movimento de sua subjetivação.
Saber onde está a Escola não se deduz de uma prática contemplativa. A própria comunicação deste saber à comunidade da Escola em formação, tem um efeito de interpretação, pois modifica o sujeito em via de realização. “A vida de uma Escola deve se interpretar”.(3) Essa é a tese que Miller, então, defende.
Se a interpretação tem sempre um efeito desagregador, como se sustenta uma comunidade? Trata-se de outra lógica que, para fazer existir a Escola, precisa deste efeito disruptivo, remetendo cada um à sua solidão subjetiva, e do trabalho para sustentar essa experiência.
O passe que nomeia um AE resultará num texto escrito sobre o que se produziu quando se tocou o real em jogo na experiência analítica. Será o testemunho de um impossível de dizer. Nesse sentido, o AE interpreta a Escola pela transmissão de sua diferença absoluta. Ele o faz no mesmo sentido de Lacan no Ato de fundação.
Mas não é apenas o AE que interpreta a Escola.
Angelina Harari(4) delimita dois lugares diferentes de interpretar a experiência institucional: o do AE, por um lado, e o do Presidente e Diretor da Escola, por outro. Eles protagonizam ordens distintas do impossível. Cabe ao AE interpretar o impossível próprio à psicanálise, cernindo o ponto de real da experiência institucional; enquanto que a função de governar se faz a partir da enunciação analisante.
A prática da conversação analítica também é um dispositivo que pode ser usado como um modo da Escola ser interpretada, pois abre a possibilidade de que cada Membro se posicione em relação à causa analítica a partir de sua enunciação analisante.
Miller fala, reiteradamente, de seu lugar de enunciação como “ao menos um” que interpreta a Escola, não se deixando tomar como Um da exceção.
Na “Teoria de Turim…”, ele diz:
“Jacques-Alain Miller não é solitário, é um ao menos um que dá testemunho de sua diferença e que não economiza esforços para que haja outros que o façam. E é porque há outros que uma Escola é possível. […] Faz parte da minha felicidade que outros compreendam o que eu compreendi de Lacan, da psicanálise, da Escola e em particular da eminência deste lugar a partir do qual a Escola é interpretável e de onde se espera seus analistas”(5).
Na aula “Ponto de basta”, ele ensina sobre os dois tempos de uma interpretação:
“O encontro desta manhã nasceu de um desejo, o meu, de situar o ponto de basta do período transcorrido a partir de 1 de março deste ano. Aconteceu alguma coisa bastante marcante, bastante impactante para que eu possa dizer que, em seguida a ela, se abria para o Campo Freudiano, um ano zero”(6).
Conclui que o ponto de basta é justamente este significante “ano zero” que interpreta o período que acaba de acontecer no Campo freudiano. Explica que é justo chamar isso de interpretação, pois:
“[…] uma interpretação é, em primeiro lugar, um significante que percute, que produz ondas. […]. Uma interpretação é um significante que percute e, em um segundo tempo, é um efeito de significação a ser esclarecido, um enunciado, um texto a desenvolver. É
disto que se trata aqui”(7).
Sim, o segundo tempo é o da convocação da comunidade ao trabalho para sustentar a Escola a partir deste novo significante. E aqui estamos!
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1 N.E.: Atividade “Escola – sujeito”, realizada na EBP-Seção SP em 05.09.2018.
2Miller, J.-A. “A teoria de Turim sobre o sujeito da Escola”. In Opção Lacaniana online, n. 21, nov/2016. Disponível em: http://www.opcaolacaniana.com.br/nranterior/numero21/index.html
3Ibid., p. 2.
4Harari, A. “Entrevista”. In Correio n.74, jul/2014, p.12.
5Miller, J-.A. Op.cit., p. 15.
6Miller, J.-A. “Ponto de basta”. In Opçãolacaniana, n. 79, jul/2018 , p. 23.
7Ibid, p. 23.