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“Em ti mais do que tu…”¹
Maria Cecília Galletti Ferretti (EBP/AMP)
O contexto no qual a frase aqui comentada está inserida é o da transferência pois, como esclarece Lacan, ele está sublinhando o que o analisante fundamentalmente diz ao analista. Lacan a utiliza com a intenção de presentificar de maneira mais sincopada um objeto paradoxal, único e especificado que se chama objeto a. São citados os objetos: oral, anal e escópico.
Entendo que o verbo “mutilar” esteja sendo empregado em seu sentido figurativo, mostrando um dos momentos nos quais Lacan coteja a relação estabelecida entre o amor e o ódio. Esta maneira de abordar tal frase conhecida e instigante de Lacan, encontra igualdade de interpretação entre colegas de nossa Escola: “a agressividade do filho pode revelar-se como tentativa de fazer borda a um amor sem limites, que pode chegar à mutilação: ‘eu te amo, mas porque amo em ti mais do que tu, o objeto a minúsculo, eu te mutilo’. A frase é de Lacan, que sempre nos apontou, em diferentes momentos do seu ensino, o quanto o amor carrega, em seu bojo, o ódio”(2).
Mas, o que é o objeto a minúsculo? É preciso considerar que “o objeto causa de desejo é o que Lacan denomina objeto a, ou seja, o que do gozo resiste à significação”(3).
No Seminário 10, A angústia, há um importante desenvolvimento: o desejo é abordado não na sua intencionalidade, mas na sua causalidade. Não se trata mais de desejo de algo (como para a fenomenologia de Husserl, a consciência é consciência
de), mas do objeto que causa o desejo, isto é, vem antes dele. O desejo é causado por a.
O melhor exemplo é que consideremos o fetiche: o desejo não se dirige ao fetiche, mas é totalmente necessário que na cena ele esteja presente, pois é isto que causa o surgimento do desejo. O objeto-meta é diferente do objeto-causa na medida em que o primeiro pertence ao registro do imaginário, às “ilusões próprias à tragicomédia do amor”. O segundo é a razão de ser do desejo, relação complexa, pois o desejo é inconsciente e recalcado, resto de gozo escapando da operação de significantização.
Se, tal como afirma Lacan no Seminário 20, quando o homem aborda a mulher, trata-se da abordagem de sua causa de desejo e se, também como aí afirma, “não há amor sem ódio”, cabe perguntar qual seria uma saída para o amor.
Levemos em conta outra frase de Lacan igualmente importante: “Eu te peço que recuses o que te ofereço porque não é isso, isso é o objeto a”, através desta frase busca-se uma saída para o amor mais ligada à castração do que à fusão.
Para finalizar, duas referências: para Lacan, o amor fusão e completude, na relação da criança com a mãe, deve ser quebrado ao compreender-se que o corpo da criança não corresponda, para a mãe, ao objeto a. O ensino do passe mostra, em muitos casos, como por exemplo aquele de Veronique Mariage, os caminhos percorridos pelo objeto a. Neste, o objeto voz é alojado de uma nova forma a suplantar a relação sintomática com o analista e um específico modo de gozo.
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1 N.A.: Este texto e suas demais citações serão publicados na íntegra em “Carta de SP” impressa. N.E.: Noite “Ensino dos AMEs”, ocorrido na EBP-Seção SP em 26 de setembro de 2018.
2 ALVARENGA, E. Apresentação. In: A violência: sintoma social da época. Machado, O.M.R. e Derezensky, E. (Orgs.). Belo Horizonte. Scriptum Livros, 2013, p.10.
3 VIVAS, H. C. Causa de desejo. In: Scilicet: Os objetos a na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2008, p. 48.