Boletim Fora da Série das Jornadas da Seção SP - Número 05 - Novembro de…
Editorial Boletim Fora da Série #03
Camila Popadiuk
Esse terceiro número do Boletim Fora da Série traz novos aportes e horizontes sobre a temática das Subversões, no plural, tal como o título de nossas Jornadas nos indica. Os quatro textos na rubrica Sub-versões, destacam, cada um deles, um ponto essencial para demonstrar o que há de subversivo no discurso da psicanálise.
Oscar Reymundo salienta que o caráter subversivo da psicanálise sempre esteve presente desde Freud, uma vez que a “vida instintual dos mamíferos” deslocou-se em direção à entrada do humano no mundo da linguagem. Por conseguinte, o “indizível do sexo e o furo da inexistência da relação sexual” inauguraram, no campo da sexualidade, uma relação singular do sujeito com sua posição sexuada. Ele ressalta a importância de nos servirmos da ética, da clínica e dos avanços conceituais da psicanálise para entrarmos no debate atual sobre as questões de gênero, uma vez que “um setor da militância acadêmica do gênero” ataca a psicanálise de forma violenta.
Gabriela Camaly apresenta “um breve panorama da explosão feminista” e as questões políticas que estão em jogo nos debates sobre gênero, identidades sexuais, diversidade, normatividade, despatriarcalização, dentre tantos outros significantes mestres que marcam o contemporâneo. Ela precisa que “o impasse da feminilidade”, bem como “o mal entendido sexual” não podem ser solucionados por estes discursos, pois eles estão inscritos na lógica fálica. Já o feminino, “… [ele] opera certa subversão da ordem simbólica que tem que fazer as contas com o real da sexualidade”.
É sob o prisma da verdade e do saber em psicanálise que Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri elucida o aspecto subversivo do discurso analítico. Ela situa a ignorância como o ponto que marca a diferença entre os discursos do mestre e da psicanálise, afirmando que a “Ignorância, única paixão que cabe ao analista na condução da experiência, é uma posição diametralmente oposta ao discurso do mestre, avessa a este…”.
A partir das questões e impasses suscitados pelos usos da internet e das tecnologias no dispositivo analítico, Cláudia Regina Reis reestabelece “a imagem de si” e “o uso do divã” como dois pontos importantes da ética e da política da psicanálise. Segundo ela, perde-se alguma coisa “quando os corpos não estão presentes na sessão analítica […]. Temos escutado, no entanto, que têm sua utilidade, que são uma forma de fazer acontecer algo, em lugar de uma paralisação”.
Além dessas valiosas contribuições, vocês poderão se debruçar sobre as Pontuações da Subversão realizadas pelos colegas Raquel Degenszajn, Gustavo Menezes, Jovita Lima e Rosângela Turim, que ocorreram no dia 2 de setembro e, a partir das quais Eliane Costa Dias promoveu um minucioso debate. Textos densos, cuja leitura pós escuta é muito bem-vinda, pois permite ter um melhor alcance do percurso que cada um dos autores realizou para colocar à trabalho um ponto específico do texto de Lacan “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”.
Em Invenção <> Subversão somos convidados por Janaina de Paula Costa Veríssimo e Atanásio Mykonios a entrar no terreno das artes e da criação. Através do monólogo de Mateus Nachtergaele, “O processo do conscerto do desejo” (2015) e de sua nova nomeação, “Desconcerto” (2020), Janaína de Paula Costa Veríssimo traz à cena tratamentos dado às perdas e aos lutos, não sem fazer um paralelo com a situação que nos assola: “Em um momento tão delicado como o atual, em que o luto atravessa os dias, e o somatório das mortes beira números, até então, inimagináveis, avançar na companhia subversiva e sensível dos artistas pode ser mais do que bem-vindo, é vital”.
Atanásio Mykonios estabelece uma diferença entre a reprodução e a criação diante do que ele chama de “a verdade de todas as coisas”. Enquanto a primeira repousa sobre a repetição dos prazeres da vida, a segunda “… inverte algo, pode abrir um buraco naquilo que aparentemente é vivido e significado como normal”, e, justamente onde ele situa o aspecto subversivo do “fazer-criar”.
Fernanda Otoni Brisset (EBP/AMP), juntamente com a autorização da revista La Libertad de pluma, disponibilizou, gentilmente, seu texto O povo e a peste para publicá-lo na rubrica Fora da Série de nosso Boletim. Texto que traz a marca de um Brasil que sofre a crise político-sanitária, escancarando as fragilidades e desigualdades sociais e onde o “discurso da banalização da morte” se faz presentes em diversas facetas. Fernanda Otoni restitui um saber às pessoas em situação de vulnerabilidade e marginalidade, apostando que ele é a bússola para “a emergência do laço social”. E segue: “Como transmitir aos governantes a política desse saber fazer que, há séculos, com seu gingado num corpo de poucas palavras, extrai alguma alegria do infinito de sua falta a ser?”
A Comissão de Referências Bibliográficas, através de um trabalho de pesquisa minucioso e fino sobre o tema das Jornadas, nos alimenta com novas referências bibliográficas que, certamente, contribuirão com as investigações e os aprofundamentos acerca das subversões. Os marcadores de textos, realizados por colegas de São Paulo, trazem novos breves comentários de referências bibliográficas do Boletim precedente e que também nos servem de inspiração para nos lançarmos ao trabalho de escrita. As orientações para o envio de trabalhos, bem como as Versões do Tema estão comtempladas nesse Boletim, lembrando que a data limite para submeter um trabalho às mesas simultâneas é o dia 25 de outubro de 2020.
O programa das Jornadas, as informações para a formação de cartéis relâmpagos e para a realização da inscrição única (caso você ainda não tenha feito o pagamento no valor de R150, 00) também se encontram disponíveis nesse número.
Boa leitura, bom trabalho e boas Jornadas!