Boletim Fora da Série das Jornadas da Seção SP - Número 05 - Novembro de…
Comentário sobre O inconsciente é a política. 2ª edição. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise. Primeira conferência. O analista e o político: “Alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”
Luciana Ernanny Legey (Associada ao CLIN-A)
Um ano antes do Seminário “O inconsciente é a política” proferido por Marie- Hélène Brousse em São Paulo (2002), Jacques-Alain Miller teria subvertido a ordem se manifestando – após anos de silêncio a outro público, que não a comunidade analítica – através de suas Cartas à opinião esclarecida. Discutia-se internacionalmente que era o momento de defesa da psicanálise frente ao avanço de psicoterapias e outros discursos relacionados à saúde mental. O discurso analítico deveria se tornar conhecido.
Na primeira de três conferências desse Seminário, Brousse se propõe a discutir o analista e, como ela mesma frisa, não a psicanálise e o político. Ela o faz primeiramente revendo a noção de neutralidade analítica. Quem é esse sujeito que se coloca no lugar de desvanecimento frente a pontos de horror que a psicanálise de Freud reconhece como analisáveis? “O analista não é neutro da mesma maneira como nós entendemos a Suíça como um país neutro. Trata-se de uma neutralidade muito mais complicada. Trata-se de uma neutralidade política?”
Ela responde essa pergunta nos ensinando que o discurso é o laço social que implica sempre um freio sobre o gozo, como um dique. Eis aí então o político: mesmo que não haja nada mais íntimo do que fazer análise, é nela que se pode tratar de modificar, ordenar, limitar a posição de um sujeito a partir do lugar que ele vem a ocupar no discurso do mestre.
Neutralidade analítica, segundo Brousse, poderia ser inclusive uma definição da rejeição à contratransferência. Afinal, foi o que Lacan frisou, ao longo de seu ensino, sobre o discurso analítico como sendo uma experiência ética, onde a prática do analista o compromete em seu próprio ser.