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Breve comentário sobre o texto “A subversão feminina[1]” – ou por que lê-lo

Flávia Machado Seidinger Leibovitz (Associada ao CLIN-a)

Por obra deste boletim[2], temos a sorte de ler traduzido o texto de Gabriela Camaly (EOL/AMP). Venho reiterar a indicação, buscando que singular ele agrega às subversões plurais no litoral em que traça entre a política dos feminismos e a política da psicanálise.

Partindo de exaustiva pesquisa, a autora analisa “uma certa subversão da ordem simbólica” (p.107) operada pelo movimento feminista, ao destacar o que sua “explosão” moveu na cultura dos últimos 40 anos. “O discurso feminino introduziu um obstáculo à homogeneização fálica do mundo mudando as regras do jogo.” Inclui aí questões de identidade e reconhecimento da diversidade que parecem ganhar relevo, apontando uma subversão provocada pelo “dizer feminino” no discurso universal. (p.107) E nesse ponto se ancora algo que importa ao nosso debate: para além das lutas sociais a sustentar, e seus legítimos efeitos, inclusive na lei, e de seus êxitos (vale lembrar, isso é ratificado em nossas bolhas laicas, de valores democráticos e de direitos; chocantes estatísticas da violência revelam o vetor contrário), vale assinalar, com a autora: A psicanálise sabe que esse mal-estar não depende dos modos sociais de opressão de gênero (…)(p.106), e (não cessa de) enodar-se a um impossível de suportar. Aponta a “dignidade da diferença feminina” como boa maneira de nomear o saber sobre o impossível de saber do gozo.

Despertar da inércia do que tenta silenciar a diferença; sempre é tempo de apontar incansavelmente para a desproporção sexual. Os gêneros efetivamente não coincidem, anedótico notar: Die Psychoanalyse, la psychanalyse, a psicanálise[3] -, ao passar pela língua e cultura “castelhanas”[4] – seja a palavra “psicanálise”, seja “análise” -, sofreu alguma mutação, e se trans-formou em el psicoanálisis, gênero masculino. Nem na linguagem nem nos corpos, não há relação… Lacan, subversivo.


[1] Camaly, G. (2018) La subversión femenina in Feminismos – variaciones, controversias, Buenos Aires, 2018, Grama Ed., p.99-108.
[2]Boletim Fora da série, 23/09/2020: https://ebp.org.br/sp/a-subversao-feminina/
[3] na palavra originária do grego que chega às línguas modernas via língua latina
[4]  dialeto românico desenvolvido na região noroeste da Espanha (Castilla), dando origem ao espanhol moderno
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