Kátia Ribeiro Nadeau - Associada da CLIPP “Minha alma tem o peso da luz. Tem o…
#Algumas Palavras – Resenha: Amor e Sexo – Camila Popadiuk
“A transferência é aquilo que manifesta na experiência a atualização da realidade do inconsciente, no que ela é sexualidade. […] Se estamos certos de que a sexualidade está presente em ação na transferência, é na medida em que em certos momentos ela se manifesta a descoberto em forma de amor. É disso que se trata”.[1]
A primazia do falo na organização da sexualidade humana produz como efeito a não inscrição da relação sexual, naquilo que concerne à proporcionalidade entre os sexos. Na experiência analítica são as incidências do significante no corpo e suas consequências na vida psíquica do sujeito que serão atualizadas.
O amor, enquanto forma de laço primário entre os seres falantes, comporta um caráter narcísico, na medida em que ele mantém à distância aquilo que há de mais estrangeiro ao sujeito. Ao obedecer às exigências do eu, ele visa a totalidade da imagem. Porém, ao mesmo tempo em que ele é uma resposta ao que não se inscreve no real da sexualidade, ele revela paradoxalmente esta não relação entre os sexos.
Em “Uma conversa sobre o amor”, Miller indica que “o amor guarda uma relação com a, e que o amor de transferência constitui um véu do estatuto de desejo de tal objeto”[2]. Em suma, o amor mantém uma relação estreita com o objeto causa de desejo. E mais a frente, Miller acrescenta: “… para poder falar de amor é necessário que a função a seja velada pela imagem, a imagem de outro ser humano, e talvez de outro ser humano e de outro sexo”[3].
O amor, enquanto endereçamento de uma pergunta fundada sobre o objeto causa de desejo do sujeito se apresenta, na transferência, pelo o que Lacan chamou de Sujeito Suposto Saber. Trata-se de um saber deslocado no Outro do analista e que, à posteriori, recai sobre o próprio sujeito. O amor é assim a questão colocada ao Outro e, a isto que ele nos responde, se liga o amor[4]. Lacan afirma que ele é a condição da transferência[5]. Neste sentido, o analista está concernido na experiência analítica, o que leva Lacan a colocar em destaque o desejo do analista como operador fundamental do tratamento, uma vez que o analista deve saber de onde, de que lugar, o sujeito se situa para se dirigir ao S.s.S.