#06 - OUTURBRO 2023
O que faz rir na Comédia dos Sexos ?
José Wilson R. Braga Júnior
Associado à CLIPP
Participante da Comissão de Referências Bibliográficas das XII Jornadas da EBP-SP
Mas, atendo-nos à função do falo, podemos apontar as estruturas a que serão submetidas as relações entre os sexos. Digamos que essas relações girarão em tomo de um ser e de um ter que, por se reportarem a um significante, o falo, têm o efeito contrário de, por um lado, dar realidade ao sujeito nesse significante e, por outro, irrealizar as relações a serem significadas. E isso pela intervenção de um parecer que substitui o ter, para, de um lado, protegê-lo e, de outro, mascarar sua falta no outro, e que tem como efeito projetar inteiramente as manifestações ideais ou típicas do comportamento de cada um dos sexos, até o limite do ato da copulação, na comédia.[1]
No teatro grego da antiguidade, a comédia nasce de um princípio de contradição entre o real e o semblante e suas personagens são extraídas da vida comum – “o riso provém de um acontecimento triste ou desagradável. Seu papel é desdramatizar […], girar sempre em torno de um aspecto ridículo dos seres e das coisas”[2].
Na psicanálise, a comédia está sempre articulada à lógica fálica. Pela via da significação fálica encontramos a dimensão cômica nas diversas situações da vida cotidiana dos parceiros em que se manifesta algo que não anda ou que escapa. “A dimensão cômica é criada pela presença, em seu centro, de um significante escondido, mas que, na antiga comédia, lá está em pessoa – o falo.”[3].
A comédia dos sexos está na experiência amorosa entre os homens e as mulheres que, na maioria dos casos é desastrosa, cheia de desencontros e fonte de sofrimento para o sujeito[4]. Miller destaca que a comédia dos sexos obedece à diferença que há entre o ser e o ter – a mulher do lado do ser e o homem do lado do ter, no momento em que o sujeito estabelece a diferença sexual. A questão é que só existe um significante, no inconsciente, para apontar tal diferença: o falo. Ter ou não-ter o falo dependerá de como o sujeito subjetiva seu sexo, ou seja, que significação é dada ao pênis para que se torne o falo – a partir desse momento o falo é um significante. Esse fato traz aspectos subjetivos e consequências importantes na comédia dos sexos: essa diferença radical entre o ser e o ter faz com que homens e mulheres não coincidam em sua posição subjetiva e sejam diferentes – faz-se necessário fazer intervir o parecer, isto é, o semblante. Os semblantes são o que torna possíveis os laços e parcerias, mas eles não fazem a relação sexual se escrever. Não há a relação sexual, ela existe apenas como semblante. O real continua ex-sistindo e insistindo, o que faz dos semblantes soluções instáveis.
“O que faz rir na comédia dos sexos é o balé dos amantes que, fora da cena amorosa, parece falso. Mas, dentro da cena, e enquanto o amor dura, é o que pode haver de mais verdadeiro”[5]. O prazer que há no cômico pelo riso é provocado pelo desvelamento do falo. Porém, o que há por trás do véu? o nada[6].