skip to Main Content

ESP DE UM RISO

At the bar (1900), Maurice Vlaminck
Maria Bernadette S. de S. Pitteri
Membro da EBP/AMP

Hipócrates

“Sobre o riso e a loucura ou o riso de Demócrito”[1]

O Cartaz das Jornadas da EBP-SP, ilustrado com o quadro de Antoine Coypel [2] retrata o riso de Demócrito[3], filósofo pré-socrático, materialista, que estabeleceu as bases do atomismo a partir da ideia de que todas as coisas são compostas por partículas minúsculas e indivisíveis (átomos), além de propagar o conceito de que o universo seria habitado por infinitos mundos. Desde a antiguidade registram-se anedotas de que ele ria de tudo e de todos, o que o levou a ser conhecido durante o Renascimento, como “o filósofo que ri”.

Revisitando as produções culturais dos antigos gregos e romanos, o Renascimento recupera Demócrito e diversas representações pictóricas do filósofo e seu riso são produzidas, incluindo um auto-retrato de Rembrandt[4].

A influência de Demócrito, que se estende de Sêneca[5], passa por Giordano Bruno[6], Montaigne[7], Pe. Antônio Vieira[8], inspira La Fontaine[9], chega ao texto citado do pseudo-Hipócrates que aparece pela primeira vez em Florença, em 1486. Trata-se do encontro forjado entre Hipócrates (ἹπποκράτηςIppokráti̱s) e Demócrito de Abdera (Δημόκριτος, Dēmokritos) relatado num documento pseudoepigráfico, não escrito por Hipócrates, mas atribuído a ele.

À pergunta de Hipócrates “De que ris, Demócrito? Das coisas boas ou das más?”, Demócrito responde que, “Tu achas que há duas razões para o meu riso, uma boa e uma má, mas na verdade eu rio de uma só coisa relativa à humanidade, a falta de razão que preenche o homem, ou em outras palavras, a vacuidade que há nas suas ações corretas, nos seus desejos pueris na inutilidade de seus sofrimentos infindáveis…” (Op. Cit. p. 52/3).

O texto trava uma discussão sobre a loucura: estaria na população, que com seus vícios provocava gargalhadas em Demócrito, ou no filósofo que os denunciava demonstrando rara lucidez? E abre caminho para o estudo da forclusão generalizada, do “somos todos loucos, isto é, delirantes”.

 


[1] Hipócrates (*Cós, 460 a.C. + Tessália, 377 a.C.). Sobre o Riso e a Loucura. São Paulo: Ed. Hedra, 2011.
[2] Quadro de 1692, em exposição no Louvre.
[3] Demócrito de Abdera (séc. V a.C.).
[4] Quadro de Rembrandt, O Jovem Rembrandt como Demócrito, o Filósofo que Ri.
[5] Sêneca (sec. I d.C,) fala do riso de Demócrito em Da tranquilidade da alma.
[6] Giordano Bruno (1548/1600) acabou na fogueira por suas ideias, derivadas em grande parte das teorias de Demócrito.
[7] Montaigne (1533/1592), humanista e cético.
[8] Pe. Antônio Vieira (1608/1697). Jesuíta, filósofo, escritor e orador – influente personagem do Sec. XVII.
[9] Fábula de La Fontaine(1621/1695) “Demócrito e os Abderianos”.
Back To Top