Editorial
Perpétua Medrado Gonçalves
(Aderente EBP Seção São Paulo)
Convido os leitores a lerem esta edição da Carta de São Paulo online escrita por algumas colegas que aqui elucidam o tema “Freud e o amor”, tratado na atividade Leituras na Biblioteca da Seção São Paulo, a partir da qual o leitor poderá reconhecer a posição de Freud na trilogia Contribuições à psicologia do amor, assim como questões em torno de O banquete dos analistas, em que Jacques-Alain Miller aponta para a degradação da verdade em prol do saber no ensino de Lacan, tema tratado na Conversação da Orientação Lacaniana.
Em “Freud e o amor em leituras na biblioteca”, trabalho vivo de leitura dos textos de Freud com colegas convidados da EBP Seção São Paulo, Maria do Carmo Dias Batista foi direto ao ponto ao discutir o texto “Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor” (1912), enfatizando que há uma cisão entre as correntes terna (afetiva) e a sensual. Assim, os objetos sexuais “definitivos” são eleitos de acordo com o modelo dos objetos infantis. A manutenção das duas correntes unidas e direcionadas ao mesmo objeto ocorre, primeiro, na frustração diante do encontro real com o objeto sexual e, segundo, na atração exercida pelos objetos incestuosos infantis.
Paola Salinas discutiu “O tabu da virgindade” (1918) tratado por Freud, que o aborda a partir da hostilidade e do desejo de vingança que o defloramento provocaria. Chamou a atenção para as correlações sobre o tema, destacando a frigidez como aspecto importante na vida sexual da mulher, e também a articulação ao Édipo e ao complexo de castração, associando tal hostilidade, na base do tabu, à inveja do pênis e ao protesto de masculinidade.
Camila Popadiuk faz uma leitura atenta da Conversações da Orientação Lacaniana, ocorrida em 22/08/2018, onde as colegas Teresinha Meireles, Daniela de Camargo Barros Affonso e Milena Vicari discutiram os capítulos XIX e XX de O Banquete dos analistas de Jacques-Alain Miller. Destacou as contribuições das colegas que suscitaram questões como a diferença entre verdade e real, a distância ou a aproximação da psicanálise com a ciência e a distinção do passe logificável, cujas formulações lógicas elucidam o nome de gozo.
Ressaltou também a fala de Luiz Fernando Carrijo da Cunha enfatizando a importância deste Seminário de Miller para pensar a formação do analista e a mudança do estatuto da verdade no ensino de Lacan, apontando que houve uma degradação da verdade em prol do saber.
Esta edição se completa com uma rica resenha feita por Gabriela Malvezzi do trabalho de Marcus André Vieira, ao apresentar o tema do XXII Encontro Brasileiro na EBP Seção São Paulo. De saída, ela destaca que, como aponta Marcus André, a equação do falocentrismo – um conceito que não pertence à psicanálise – é pênis = falo. Também aponta que a pergunta quanto à queda do falocentrismo diz respeito à queda da significação fálica. Isso implicaria uma distinção entre falo imaginário e falo simbólico.
A Carta de São Paulo online se insere numa publicação de Escola em que cada autor coloca algo de singular na sua escrita, ou seja, uma elaboração coletiva do que acontece na EBP Seção São Paulo.
Boa leitura!
"Freud e o amor em leituras na biblioteca"
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Sobre a mais comum depreciação na vida amorosa
Sigmund Freud (1912)1
Maria do Carmo Dias Batista (EBP/AMP)
“Freud e o Amor” foi o tema escolhido pela EBP – Seção SP para debater os textos freudianos “Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens”, de 1910, “Sobre a mais comum depreciação da vida amorosa”, de 1912, e “O tabu da virgindade”, de 1917, reunidos sob o título “Contribuições à Psicologia do Amor”.
No dia 14 de junho discutimos a “Depreciação da vida amorosa”. O famoso texto freudiano é dividido em três pequenos capítulos, dos quais a tabela abaixo destaca os pontos principais.
(Tabela)
Freud inicia o texto fornecendo um dado muito interessante: depois da angústia, a impotência sexual masculina seria o principal fator de busca por uma análise. Impotência psíquica, diz ele, pois já teriam sido afastados todos os fatores orgânicos que poderiam causá-la.
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“O tabu da virgindade”1
Leituras da Biblioteca Freud e o amor
Paola Salinas (EBP/AMP)
O tabu da virgindade é abordado e justificado devido à hostilidade e ao desejo de vingança que o defloramento provocaria. Ao desenvolver correlações sobre o tema, Freud destaca a frigidez como aspecto importante na vida sexual da mulher, articulando ao Édipo e ao complexo de castração. Associa tal hostilidade, na base do tabu, à inveja do pênis e ao protesto de masculinidade.
A valorização da virgindade seria a extensão do direito de propriedade à mulher, incluindo seu passado, o que é natural e indiscutível para o homem da época; daí a incompreensibilidade do tabu presente nos povos primitivos, os quais, para evitar a hostilidade do defloramento, o fariam em rituais antes do casamento.
Conversações da Orientação lacaniana
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Conversação da Orientação Lacaniana
Camila Popadiuk
A Conversação da Orientação Lacaniana que aconteceu no dia 22/08/2018, na sede da EBP-Seção São Paulo, teve como eixo de discussão a relação entre o saber e a verdade, tal como ela é apresentada por Miller em suas aulas XIX e XX de seu curso “O banquete dos analistas”.
Carmen Silvia Cervelatti e Luiz Fernando Carrijo da Cunha coordenaram esta conversação que foi animada pelas contribuições de Teresinha Meirelles, Daniela de Camargo Barros Affonso e Milena Vicari. Cada uma das colegas relevou um ponto em particular destas aulas, como a despatetização da verdade por Lacan, ao tomar a lógica matemática como uma referência da verdade, reduzindo-a assim a um jogo de letras; a política da psicanálise lacaniana no que diz respeito às suas relações com a ciência, sobretudo esta ciência que, ao fazer aliança com o discurso capitalista, traz ressonâncias diretas em nossa prática clínica; a relação do saber com a verdade do inconsciente, considerando que as formações do inconsciente produzem efeitos de verdade em uma experiência analítica, e que, uma vez inscritos e depositados, estes efeitos de verdade tornam-se saber, indicando então, uma passagem da verdade para o saber, sob transferência.
XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano (Preparatória)
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Falo imaginário, falo simbólico e suas consequências para o falocentrismo
Gabriela Malvezzi
Em entrevista para o site do XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – “A queda do falocentrismo. Consequências para a psicanálise” -, Marie Hélène Brousse1 diz não haver equívoco quanto a uma queda do patriarcado, poder tradicional que garantia uma estrutura hierárquica a partir da posição de exceção do pai. Daí advém uma fragilização do que ela chama de valor fálico. Em contrapartida, localizando no Seminário 5, de Lacan, o falo como poder à palavra, dissociado do pênis, considera a queda do falocentrismo como questionável. Em seu entendimento, no contemporâneo o falo segue como marcação de poder e o que ocorre é uma tentativa de tomada de poder da palavra pelas mulheres.
Parte do trabalho de Marcus André Vieira2, ao apresentar o tema do Encontro na Seção São Paulo da Escola Brasileira de Psicanálise, conversa com esta entrevista. De saída, ele nos aponta que a equação do falocentrismo – um conceito que não pertence à psicanálise – é: pênis = falo. Também direciona que a pergunta quanto à queda do falocentrismo diz respeito à queda da significação fálica. Isso implica em uma distinção entre falo imaginário e falo simbólico.
Informamos que estão encerradas
as inscrições para as VIII Jornadas da EBP-SP – “Amor e sexo em tempos de (des)conexões”.
Agradecemos a todos(as) que se inscreveram!
Prorrogada a data de envio de trabalhos para 29/09.
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Seminário dos Membros
Seminário: INCONSCIENTE: do inconsciente transferencial ao inconsciente real
Responsável: Eliana Machado Figueiredo
Dia: Sábados Horário: 10h00 às 12h00
Datas: 15/09 – 06/10 – 01/12
Local: Rua Antônio Meyer, 228, Centro, Mogi das Cruzes
Contato: elianasoliano@hotmail.com /WhatsApp (11) 99496-5006
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