Por Niraldo de Oliveira Santos EBP/AMP “Alguns sendo singulares, se ajuntam, e podem ser colocados…
Laços em Sampa
por Gustavo Oliveira Menezes
(Associado ao CLIN-a)
Bar Balcão
“Eu tava só, sozinho, mais solitário que um paulistano”[1]… São Paulo para muitos é a cidade da solidão, daqueles que se perdem nas ruas de concreto e que para um estrangeiro ou turista parece ser hostil e pouco acolhedora à primeira vista. Por outro lado, é uma cidade que surpreende e promove laços onde menos se espera. Há sempre um programa para se fazer sozinho, mas há também alternativas para aqueles que querem sair do isolamento.
Para quem busca um ambiente acolhedor e pretende conhecer pessoas, o bar Balcão é uma boa aposta. Localizado no Jardim Paulista, este simpático e discreto bar traz como principal atração um balcão de 25 metros que desliza sobre o salão. Com bancos altos dos dois lados, a proposta é interagir, sozinho ou em pequenos grupos, com desconhecidos que dividem o espaço. Para aqueles que preferem se manter mais reservados, há também a opção de pequenas mesas no mezanino.
O cardápio conta com uma variedade de lanches em pão ciabata, como o de carne de panela desfiada com queijo de minas, entre outros sabores, inclusive com opção vegetariana. No inverno há também a opção de sopas. A carta de bebidas inclui diversos drinks, cervejas importadas e vinhos. Destaque para o caju-amigo, bebida feita da mistura da fruta e vodka, e a marguerita.
O ambiente é todo decorado com obras de arte e nosso olhar é rapidamente captado pelo enorme quadro do artista norte-americano de pop art, Roy Lichtenstein. Além disso, é frequentado por diferentes públicos: artistas, músicos, publicitários, comunicadores, jornalistas, colegas de happy hour. Vale a pena descobrir que o paulistano, afinal, não está (tão) só.
Endereço: Rua Doutor Melo Alves, 150 – Jardim Paulista – São Paulo – SP
Horários: segunda a domingo, das 18h às 01h
Telefone: (11) 30636091
Faixa de preço: de R$36,00 a R$70,00
Formas de pagamento: cartões de crédito, débito ou dinheiro
Capacidade: 92 lugares
Indicação de leitura: “O coração é um caçador solitário”, de Carson McCullert
Este romance que se passa no final dos anos 30, em uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, traz para o leitor a imagem de um ambiente conturbado, pobre, pós-depressão e propício ao isolamento. Não à toa, o livro é considerado como um retrato social e psicológico da época.
Em “O coração é um caçador solitário”, encontramos personagens marginais, excluídos e sem voz na sociedade. Logo no primeiro capítulo somos apresentados ao personagem central, o mudo John Singer, o qual é descrito como um homem triste, enigmático e solitário. Além deste, um dono de bar em uma cidade sempre desperta, um médico negro que luta contra o preconceito racial, uma adolescente que tenta lidar com seu corpo e um agitador marxista e alcoólatra compõem o enredo. Em comum, apenas a solidão e a tentativa de encontrar em Singer uma via para se fazer ouvir.
A autora McCullers, cujo nome verdadeiro é Lula Carson Smith, é considerada uma das mais influentes do século XX. Nascida em 1917, na Geórgia, com apenas dezesseis anos lançou seu primeiro livro. Algumas curiosidades: o título, que originalmente seria apenas “O mudo”, foi sugestão de um dos editores a partir de um poema de William Sharp: But my heart is lonely hunter that hunts on a lonely hill. O livro de McCullers também ganhou uma adaptação para o cinema que foi traduzido para o português como “Por que tem que ser assim?” (1968), o qual recebeu duas indicações ao Oscar.
Apesar dos 80 anos que nos separam do contexto do livro, sua temática se mantém atual. As personagens dão voltas em busca de uma possível comunicação e depositam sua esperança no muro da linguagem, através justamente daquele que não oferece palavras, mas é apenas na solidão do Um que se recai. Jacques-Alain Miller em “Teoria de Turim” cita o romance, juntamente a uma obra de sociologia, ao propor uma teoria sobre o sujeito da Escola: The School is a lonely crow (A Escola é uma multidão solitária). Cada um está só, seja com o Outro do significante, seja com seu gozo, e por isso a Escola seria essa soma de solidões. Caberá ao leitor de Carson se deixar levar pela solidão dos personagens, da autora e de si próprio nos efeitos que a leitura pode trazer.