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Vamos lá, crianças! N° 3
Daniel Roy
“Não é consertável”
Desde o primeiro encontro, Max, 4 anos, se apodera de um boneco e dos instrumentos de uma maleta médica, encontrados no armário. Ele coloca em cena e em ato a sua situação na minha presença, onde ele é ao mesmo tempo o boneco e o médico-carrasco da criança. Ele o submete a todos os desmembramentos e sevícias possíveis. Nenhuma intervenção interrompe esse processo. No dia em que tive a ideia de fazer a observação de que isso poderia, talvez, ser consertado, ele retrucou: “Isso não é consertável”. A perspectiva de uma reparação possível não é a de Max. Eu lhe disse: “Desculpa, eu não tinha entendido que isto não era consertável”. Max tem razão, há coisas que não se consertam, e isto se inscreve em sua história. Mas o fato de ter se certificado de que algo não se conserta, apazigua Max.
Max adquiriu o hábito de abrir o armário no início da sessão, esvaziá-lo de todos os objetos que contém e atirá-los ao chão. Eu não me ocupo disso e não lhe pergunto nada. Max procura assim um lugar para se alojar: ele vai de fato experimentar todas as prateleiras que esvaziou para encontrar a que melhor lhe convém. E então ele fecha a porta e, “no país do armário”, pode me chamar, pedir socorro, ou me contar o que encontrou.
O que Max nos ensina? Para ele, toda demanda é ameaça e ele responde por uma ação que faz uso das armas do outro. O dispositivo do tratamento isola a estrutura dos acontecimentos que agem sobre seu corpo, do modo como seus professores testemunham: se você fala alto, ele grita; se você fala muito, ele morde; se você quer juntar as crianças, ele as empurra para ganhar um lugar. Max nos lembra que para o pequeno homem, o significante não é sempre unificante: ele não identifica, ele despedaça; que o significante não é sempre acolhedor: ele não aloja, mas rejeita.
Alguns seres falantes, no tempo da infância, são confrontados, sem muita mediação, com esse choque do “que não é consertável”. Para todos, sinais dos mais discretos indicam a presença daquilo que não se conserta, recoberta pelas identificações ideais e as negociações com seus parceiros. Nós ganharíamos ao localizar, ao distinguir e nomear, sem angústia, com as crianças que encontramos, aquilo que para cada um deles “não é consertável”. Isso faria obra de civilização. Obrigado, Max.