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Sobre a mais comum depreciação na vida amorosa – Sigmund Freud (1912)1
Maria do Carmo Dias Batista (EBP/AMP)
“Freud e o Amor” foi o tema escolhido pela EBP – Seção SP para debater os textos freudianos “Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens”, de 1910, “Sobre a mais comum depreciação da vida amorosa”, de 1912, e “O tabu da virgindade”, de 1917, reunidos sob o título “Contribuições à Psicologia do Amor”.
No dia 14 de junho discutimos a “Depreciação da vida amorosa”. O famoso texto freudiano é dividido em três pequenos capítulos, dos quais a tabela abaixo destaca os pontos principais.
Freud inicia o texto fornecendo um dado muito interessante: depois da angústia, a impotência sexual masculina seria o principal fator de busca por uma análise. Impotência psíquica, diz ele, pois já teriam sido afastados todos os fatores orgânicos que poderiam causá-la. São homens intensamente libidinosos, com bastante força e desejo, aparentemente prontos ao ato sexual, nos quais “os órgãos se recusam a perfazer o ato”.
A inibição da potência vem de características do objeto sexual, contra a vontade consciente do sujeito. Algo do inconsciente perturba a vontade consciente. Não se trata de qualquer objeto, mas daquele com certas “características” proibidoras da fruição. A fixação incestuosa na mãe e na irmã, nunca superadas, é a maior causa desse sintoma.
Para ir direto ao ponto, há uma cisão entre as correntes terna (afetiva) e a sensual. A corrente terna é mais antiga, ligada à infância, aos cuidados, ao carinho que a criança recebe, e determina a escolha primária do objeto (infantil). Depois advém a escolha sexual, resultante do investimento intenso de libido nos objetos da eleição infantil primária. Assim, os objetos sexuais “definitivos” são eleitos de acordo com o modelo dos objetos infantis. O malogro na manutenção das duas correntes unidas e direcionadas ao mesmo objeto ocorre, primeiro, na frustração diante do encontro real com o objeto sexual e, segundo, na atração exercida pelos objetos incestuosos infantis.
As fantasias sexuais também são resultado da fixação da sexualidade nos objetos primários incestuosos. A fantasia inconsciente realiza-se com esses objetos – pai, mãe, irmã – e, para chegar à consciência, é necessário que sofram substituições.
A impotência surge, diz Freud, porque o homem escolhe um objeto oposto, substitutivo, justamente para escapar da pressão do incesto.
Assim, o meio mais eficaz para proteger-se do distúrbio incestuoso e também da impotência é a depreciação psíquica do objeto sexual, com supervalorização do objeto incestuoso.
Tão logo atendida a condição da depreciação, a sensualidade pode se manifestar livremente, com intensa atividade sexual e elevado prazer.
Com o objeto depreciado, degradado, o sujeito pode fazer confluir as duas correntes, a afetiva e a sensual. Então, a plena potência só pode ser conseguida com uma satisfação sem escrúpulos, com um objeto eticamente degradado, esteticamente indiferente e desconhecido.
Para finalizar, eu diria, com Freud, neste texto, que é necessário “familiarizar-se”. Diz ele: “[…] para ser realmente livre e feliz no amor, é preciso haver superado o respeito ante a mulher, haver se familiarizado com a ideia do incesto com a mãe ou a irmã”.2
Na clínica, quando se elaboram as pulsões, podem aparecer sonhos, devaneios e fantasias sexuais incestuosos, sobretudo em sujeitos que se encaminham para o final da análise – com a mãe, com o pai, com os irmãos – exatamente como aponta Freud: uma familiaridade imaginária com o incesto.
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1 FREUD, S., Obras Completas: Psicologia Analítica. São Paulo, Companhia das Letras, vol. 9 (1909-1910), tradução de Paulo César de Souza, 3ª reimpressão, 2017, pp. 347-361.
2 FREUD, S. Op. Cit. p. 356.