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Sexualidade: Intervenção de Freud sobre O Despertar da primavera
“[…] Podemos pensar que Wedekind tem uma profunda compreensão do que é a sexualidade. Para nos convencer é suficiente verificarmos como no texto explícito dos diálogos passam constantemente subentendidos de caráter sexual. […]”
“Para retornar a O Despertar da Primavera* direi, e sublinho isso, que as teorias sexuais das crianças constituem um tema que merece ser estudado como tal, ou seja: como as crianças descobrem a sexualidade normal? No fundo de todas as concepções equivocadas que elas podem fazer, há sempre um núcleo de verdade. […]”
“Considero como uma notação muito fina por parte de Wedekind a de mostrar entre Melchior e Wendla um empuxo ao amor objetal sem escolha de objeto, dado que não estão de modo algum apaixonados um pelo outro. O fato de Wendla, a masoquista, não ter sido espancada por seus pais, prova igualmente que Wedekind não se deixa enganar pelos clichês habituais – caso contrário ele a teria apresentado como tendo sido espancada na sua infância. Em vez disso, ela se queixa de não o ter sido de forma suficiente. Isto é verdade: geralmente os que foram espancados severamente na sua infância não se tornam masoquistas. […]”
“A ênfase que Wedekind dá à última cena, aquele humor mordaz, é perfeitamente justificado do ponto de vista poético. O que ele quer dizer é: tudo isso é só infantilidade, um absurdo. Podemos certamente, com Reitler, ver nos dois personagens, Moritz e o homem mascarado, as duas correntes que dividem a alma de Melchior, que é ao mesmo tempo atraído pela morte como pela vida. Também é verdade que o suicídio é o ápice do auto-erotismo negativo.”
“E, a esse respeito, a interpretação de Reitler é exata: negar o amor a si mesmo é suicidar-se. Durante essa última cena, não há nada mais que o humor no interrogatório a que é submetido o homem mascarado. Encontra-se atrás dos pensamentos mais profundos. O demônio da vida é ao mesmo tempo o diabo, ou seja, o inconsciente. Tudo se passa, efetivamente, como se a vida estivesse submetida à questão. Esse tipo de exame é um traço característico que reencontramos regularmente nos estados ansiosos. Num acesso de angústia, por exemplo, um sujeito começa por se interrogar supostamente para verificar se ele ainda mantém sua razão.”
“Porque, por trás, a Esfinge ronda a angústia (“Esfinge” significa o “Estrangulador” – (“étrangleur”). A questão que está na base de todas essas interrogações é, indubitavelmente, a que surge da curiosidade infantil sobre a sexualidade: de onde vêm as crianças? A Esfinge apenas coloca a questão inversamente: o que é, portanto, que vem depois? Resposta: o ser humano. […]”
Tradução: Maria Rita Guimarães