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RESENHA “Uma nova perspectiva para a criança”, de Daniel Roy
in: Une nouvelle perspective pour l’enfant | L’HEBDO-BLOG (10 abril 2016)
http://www.hebdo-blog.fr/une-nouvelle-perspective-pour-lenfant/
No artigo cujo link publicamos acima, Daniel Roy nos apresenta três obras da coleção La Petit Girafe publicadas pelas edições Navarin, que reúnem trabalhos recentes, fruto de três Jornadas de estudos sobre a psicanálise de crianças, no Instituto da Criança – UPJL. A série foi construída a partir de três textos de orientação pronunciados por Jacques-Alain Miller durante estas Jornadas conjuntamente com outros autores, não só analistas, mas também diferentes interlocutores, cuidadores, educadores, pedagogos. Estas obras nos dão uma perspectiva sobre o modo como nos situamos, hoje, frente ao sintoma da criança, sobre nossa forma de considerar o estatuto do inconsciente e sobre nossa ação no encontro e tratamento.
Esses trabalhos demonstram como se movimentar a fim de promover o espaço necessário ao sintoma da criança, ao seu saber e como abrir caminho a fim de que nem o cuidado, nem a educação, nem o aprendizado sirvam para calar a criança em sua enunciação.
O que há de novo nesta perspectiva é que ela não é declarativa, ela não pretende fundar uma especificidade da psicanálise quando aplicada à criança. Pelo contrário, trata-se de acompanhar as crianças caso a caso e em lugares destinados para esta finalidade, promovendo a escuta de suas vozes singulares, orientados pelos pontos mais vivos dos enigmas freudianos e do esforço em direção ao real que atravessa o ensino de Lacan.
Este ponto de vista é também novo por resultar de uma aplicação que se especifica tanto por ser coletiva como por se apoiar em encontros singulares. O eixo dos trabalhos se fundamentou sobre o triângulo sintoma, saber e interpretação.
Nessa oportunidade foram tratados os medos infantis, na medida em que servem de modelo, para o sintoma analítico, de como traços precisos do momento em que a língua se incorpora e de como os significantes fóbicos se isolam na angústia e adquirem valor de gozo. Conforme indica Jacques-Alain Miller: uma fobia é uma elucubração de saber sobre o medo, ou sob o medo, na medida em que ele é sua armadura significante. É quando o saber da criança vem logicamente corresponder ao sintoma. O sintoma do falasser invoca uma desordem de natureza completamente diversa daquela preconizada pelo a-teorismo de fachada reivindicado pelos defensores do DSM.
A presença concomitante entre saber e sintoma para o falasser desde sua chegada ao mundo é uma verdade sempre tão escandalosa, que faz desencadear, nos poderes constituídos em torno da criança, uma vontade feroz de substituí-la por suas verdades pré-formadas ou reduzi-la ao silêncio, tornando-se arma de destruição para a estrutura subjetiva, atingindo tanto o sujeito criança, através da culpabilidade e da angústia, quanto seus parceiros, pela perseguição e retorno do gozo sobre o corpo. Ao saber da criança reduzido a nada, restam apenas saberes a ser ingurgitados e, por vezes, regurgitados, sendo possível encontrar no cerne desta recusa, através das palavras ou letras, os vestígios de sabores antigos.
A interpretação faz compreender, em ato, o quanto o gozo é a lei do falasser, sendo imperiosa a necessidade de reconhecê-lo em seu lugar, para nomeá-lo e, se possível, localizá-lo, buscar saídas, investi-lo, dado que somos aparelhados pela palavra e pelos seus silêncios. Daí a interpretação esperada do psicanalista para permitir ao sujeito criança não ignorar esta parte perdida de seu ser, buscando identificar aí o valor de gozo, segundo a regra humana do mais-de-gozar, a regra do “quem perde ganha”.
por: Carla Audi (comissão de biblioteca)