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Falo imaginário, falo simbólico e suas consequências para o falocentrismo
Gabriela Malvezzi
Em entrevista para o site do XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – “A queda do falocentrismo. Consequências para a psicanálise” -, Marie Hélène Brousse1 diz não haver equívoco quanto a uma queda do patriarcado, poder tradicional que garantia uma estrutura hierárquica a partir da posição de exceção do pai. Daí advém uma fragilização do que ela chama de valor fálico. Em contrapartida, localizando no Seminário 5, de Lacan, o falo como poder à palavra, dissociado do pênis, considera a queda do falocentrismo como questionável. Em seu entendimento, no contemporâneo o falo segue como marcação de poder e o que ocorre é uma tentativa de tomada de poder da palavra pelas mulheres.
Parte do trabalho de Marcus André Vieira2, ao apresentar o tema do Encontro na Seção São Paulo da Escola Brasileira de Psicanálise, conversa com esta entrevista. De saída, ele nos aponta que a equação do falocentrismo – um conceito que não pertence à psicanálise – é: pênis = falo. Também direciona que a pergunta quanto à queda do falocentrismo diz respeito à queda da significação fálica. Isso implica em uma distinção entre falo imaginário e falo simbólico.
Como símbolo de poder, o falo remete ao pênis. Esse falo eterniza e oculta, imaginariamente, o real. Quando se tem como seguro e controlável o que é da ordem de um cambiante inesperado, estamos no registro do falo imaginário. Por sua vez, quando há o vacilo e o excesso retorna, um certo automatismo é perturbado e o oculto é desvelado. Marcus precisa a comédia do falo em jogo: para que se possa rir dessa surpresa, é necessário o cômico e para que a comédia ocorra, o engano de se acreditar no falo.
O falo simbólico aparece no Seminário 5, onde Lacan introduz sua função de significante. A mãe localiza o falo no pai; o falo é um lugar dado por um jogo de significantes. Por estar neste jogo, Lacan nomeia o significante fálico de significante da falta. O falo simbólico é este que marca a falta, que localiza o desejo pelo seu avesso: para que o desejo mantenha seu circuito, é necessário que haja falta.
Se há um falocentrismo na psicanálise, é o do falo que remete à falta, nesse jogo do qual participa, e não onde ele poderia estar imaginariamente. A queda do falocentrismo, portanto, põe em questão a queda da significação fálica, a queda do “jogo da falta”. Para avançar nessa questão, Marcus André segue o caminho do Seminário 10, onde algo na teoria do objeto a, resto da operação da significação fálica não recoberto pelo desejo, já diminui a força do falo: o objeto a fica fora do jogo, como causa do desejo; o gozo não pode entrar no jogo do desejo.
“Se a significação fálica está caindo, como está a função da causa do desejo”? E articulando o tema do XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano ao das VIII Jornadas da Seção São Paulo da Escola Brasileira de Psicanálise, utilizo-me de mais esta questão: “em tempos onde se está mais no gozo do que no desejo, é possível viver amorosamente com causa do desejo sem falo”?
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1 Disponível em: http://encontrobrasileiro2018.com.br/marie-helene-brousse-a-queda-do-falocentrismo/
2 N.E.: Atividade preparatória do XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano na EBP Seção SP, em 15.08.2018. Título da Conferência de Marcus André Vieira: “O teatro dos sexos e a comédia do falo”.