#06 - OUTURBRO 2023
Editorial Boletim Gaio #01

EDITORIAL
Maria Célia Reinaldo Kato
Membro da EBP/AMP
Coordenadora da Comissão de Boletim das XII Jornadas da EBP-SP
É com entusiasmo que apresentamos o primeiro Boletim Gaio das XII Jornadas da EBP – Seção São Paulo!
Gaio foi um termo utilizado por Lacan em “Televisão”[1]: “No polo oposto da tristeza existe o gaio issaber [gay sçavoir] o qual, este sim, é uma virtude. Uma virtude não absolve ninguém do pecado — original, como todos sabem. A virtude que designo como gaio issaber é o exemplo disso, por manifestar no que ela consiste: não em compreender, fisgar [piquer] no sentido, mas em roçá-lo tão de perto quanto se possa, sem que ele sirva de cola para essa virtude, para isso gozar com o deciframento, o que implica que o gaio issaber, no final, faça dele apenas a queda, o retorno ao pecado”.
Ele utiliza esse termo para fazer oposição à tristeza, porém, refere que está para além do entusiasmo, do humor e do cômico. Trata-se de um saber alegre que toca o real. De que forma? Miller[2] nos esclarece ao colocar que “[o] gaio saber admite a extimidade do gozo…..que o saber alegre não é o saber onipotente, mas aquele que faz passar da impotência ao impossível. A tristeza é a impotência [do saber], ao passo que o gaio saber é o impossível do saber”.
Essa orientação de Lacan toca a clínica psicanalítica no que diz sobre a interpretação, não compreender, mas roçar o sentido sem nele se apegar, incluindo aí a dimensão do impossível.
Neste número, Niraldo de Oliveira Santos, diretor da Seção São Paulo, nos apresenta os meandros por onde passaram a escolha deste tema para nossas Jornadas. Nos propõe a pensar quais possíveis relações podemos estabelecer entre o riso e o objeto a, tema de trabalho proposto pela diretoria que se inicia. E como, a partir do riso podemos verificar os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica, incluindo aí o corpo em sua vertente de gozo.
Gustavo Oliveira Menezes, coordenador geral destas Jornadas, ao estabelecer uma conexão com as Jornadas anteriores, nos escreve da verdade ao riso, tomando como orientador o sinthoma na sua dimensão de real e qual uso o psicanalista pode fazer do riso para pensar essa dimensão na clínica. Não há um universal que possa dizer do riso, só a cada um cabe dizer sobre o que lhe afeta o corpo, mas não de tudo, há algo que escapa.
O argumento das Jornadas elaborado por Rômulo Ferreira da Silva, coordenador da Comissão Científica, nos traz o fio condutor que servirá de balizas para nossas investigações, e o que dessas investigações poderemos estabelecer relações com os temas do próximo Congresso da AMP “Todo mundo é louco” e do ENAPOL “Começar a se analisar”. Contamos também com os eixos temáticos propostos pela Comissão Científica que são: 1) Só riso?!; 2) O riso e a política; 3) Manual do riso em uma análise ou Riso – ‘modos de uso’ na clínica.
Lançando a rubrica “Estão fazendo arte”, Élida Biasoli, uma das coordenadoras da Comissão do Boletim, nos convoca a pensar o riso em seus diversos aspectos e inclui a arte como forma de expressão do riso ao longo de sua história.
A Diretoria de Cartéis e Intercâmbio, sob a responsabilidade de Eduardo César Benedicto, convida nossa comunidade analítica a formar cartéis tomando como orientadores o tema como também os eixos das nossas Jornadas.
Por fim, convido a todos tomarmos o Boletim Gaio como uma das ferramentas para este percurso de investigação até o encontro dos corpos nos dias 27 e 28 de outubro!