BOLETIM ELETRÔNICO DAS XI Jornadas da EBP - Seção São Paulo Local das Jornadas: Meliá…
Editorial #01
EDITORIAL – BOLETIM INTER-DITO #1
Jovita Carneiro de Lima
Membro da EBP e da AMP
Está no ar o primeiro boletim Inter-dito, nome inspirado pelo tema das XI Jornadas, que já nos colocou a trabalho. Era preciso encontrar um nome que estivesse à altura de um tema tão complexo e caro para a psicanálise de orientação lacaniana.
Inter-dito, o dito que se lê entre palavras, entre linhas. O que se pode aceder do saber impossível por estrutura. Trata-se de circunscrever o que pode ser dito de verdadeiro sobre o que é para cada um esse encontro com um certo não-saber-fazer com o real.
Alessandra Pecego, Diretora da EBP-SP, diz sobre o fio que enlaça o tema das XI Jornadas Ⱥ verdade e o gozo que não mente, ao das X Jornadas Psicanálise em ato, ao lançar as seguintes questões: “Se no início de uma análise a questão da verdade se coloca necessariamente e, ao final, depreende-se a verdade mentirosa, o estatuto da verdade segue sendo um orientador clínico. Como podemos problematizar esse orientador a partir do que avançamos em relação à clínica do real e do gozo? Há algo a ser atualizado ou renovado, para usar o termo de Miller, em relação à dimensão da verdade, a partir da nossa prática na clínica do falasser”?
Milena Vicari Crastelo, Coordenadora geral das Jornadas, ressalta que o tema de trabalho proposto faz o enlace de duas dimensões: clínica e política e a partir daí, convoca a nossa comunidade a responder, mais ainda, ao que se apresenta como impasses da civilização sob a forma do empuxo ao gozo. Lembra que a psicanálise é guardiã da singularidade e é dando consequências a isso que pode seguir como uma alternativa viva para o tratamento do mal-estar no século XXI.
Neste Boletim, o leitor tem acesso também ao argumento, produzido por uma comissão coordenada por Angelina Harari, que ao apostar na novidade, orienta e convoca ao trabalho a partir da própria escrita do texto. A estrutura preserva o estilo de cada um, na apresentação de um percurso que ressalta o parentesco entre a verdade e o gozo ao longo da obra de Freud e do ensino de Lacan. Parte do amor à verdade, marca da entrada da psicanálise no mundo com Freud, passa pelo regime da verdade variável, que livre das paixões é inscrita em uma proposição lógica, e segue para, no final, em consonância com a mudança de estatuto do inconsciente, extrair em Lacan o sintagma “verdade mentirosa”, que é o testemunho da aliança da verdade com a mentira.
O texto do argumento propõe várias questões que nos servirão de ponto de partida para o trabalho, dentre as quais extraímos as que se seguem: Qual a verdade em jogo na experiência analítica, uma vez que a verdade é variável e a busca de sentido não tem fim, embora o seu fim só possa ser a mentira? No regime da verdade mentirosa, como se articulam verdade e o gozo que não mente?
Finalmente, lançamos o convite para a leitura deste primeiro boletim, com os votos de que cada um possa se inspirar a dar testemunho dessa tecitura que é a experiência de uma análise, onde se lê entre-linhas, entre-palavras, inter-ditos, o que se escreve e se reescreve dos destinos de uma vida, na época que nos cabe viver.
Boa leitura!