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Conversação da Orientação Lacaniana – EBP – Seção SP
Niraldo de Oliveira Santos
“Como se articulam as três ordens de relação que um analista mantém: com seus analisantes, com a psicanálise e com os analistas?”. Esta é uma das perguntas que moveram Jacques-Alain Miller em seu Curso “O banquete dos analistas”, proferido em 1989-1990. A Seção São Paulo da Escola Brasileira de Psicanálise, atenta às questões atuais, convida seus membros para a conversação em torno deste Curso, não sem deixar as portas abertas para os analisantes e demais interessados no Ensino de Lacan.
Coordenada por Carmen Silvia Cervelatti e Luiz Fernando Carrijo da Cunha, a conversação, que teve início no dia 18 de abril deste ano, convidou Cássia Guardado, Cláudia Reis e Sandra Grostein para trazerem suas questões e provocarem a abertura para uma conversa em torno das aulas “O banquete de Lacan” e “Clínica e política”.
Já em seu comentário de abertura, Carmen Cervelatti retoma o trecho onde Miller enfatiza, a partir do Ensino de Lacan, que para a direção da cura em psicanálise é necessário diferenciar o que depende da estratégia e o que se liga à tática: “A estratégia, que coordena as operações a longo prazo, se localiza na cura psicanalítica na transferência. (…) a interpretação é do registro da tática e depende, pois, do momento, do terreno, de uma conjuntura favorável, do kairós”1. Em continuação, podemos retomar que Miller retoma também, além da estratégia e da tática, “uma política do analista”, uma política que convida o analista a localizar-se na sua “falta a ser” e não em seu ser. E esta política, nos diz Miller, refere-se às condições mesmas da ação psicanalítica sobre o paciente e se articula diretamente com as condições de uma análise.
As questões trazidas por Cláudia Reis, Sandra Grostein e Cássia Guardado convocaram ao debate a partir dos conceitos da transferência, supereu e política. Todas elas articuladas à formação do analista, à relação estabelecida entre os próprios psicanalistas da Escola, entre eles e seus analisandos e, principalmente, qual o lugar que cada um destes ocupa no banquete da Escola.
Se, de acordo com Miller, o que alimenta o banquete é a associação livre2, tivemos na conversação uma participação viva dos presentes, animada pelo texto e pelas questões expostas. A “festa da pulsão”.
Um dos pontos centrais da conversação desta data, e provavelmente também dos demais encontros, é a própria Escola. Colocar o Psicanalista da Escola em posição de se questionar a respeito de sua inserção e trabalho institucional, era exatamente a intenção de Miller em seu curso: “Minha intenção (…) é fazê-los voltar a esse momento crucial de 1964, e ao Seminário “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”, quando se produziu, três dias antes da última aula de Lacan, a criação de sua Escola, na qual ainda estamos”3.
Portanto, vale a pena destacar a acertada escolha do Curso de Miller para a conversação, bem como a maturidade da Seção SP para debater este tema em um banquete aberto aos interessados. Testemunhamos, pois, um momento onde a clínica, a política e a Escola são objetos de discussões. Fundamental para um momento onde é o próprio estado de direito que está sob ameaça em diversos países.
A conversação deste primeiro encontro foi encerrada com uma questão posta por Luiz Fernando, retomando uma discussão marcante na história da EBP: “a Escola Brasileira de Psicanálise é uma Escola de analistas ou de analisantes?”. Para além do número expressivo de Analistas da Escola (AE) que a EBP possui, não seria próprio de uma comunidade de analistas por em questão o ideal e a causa que os ligam à própria Escola?
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1. Miller, J.-A. El banquete de los analistas. Buenos Aires: Paidós. 1989, p. 31.
2. Ibid., p. 13.
3. Ibid., p. 24.