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AQUARIUS
Maria Veridiana S. Paes de Barros*
Aquarius é um filme brasileiro escrito e dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho. A belíssima Sonia Braga vive a protagonista Clara, 65 anos, jornalista e crítica de música aposentada.
O filme nos envolve no cotidiano de Clara que mora há muito tempo em seu apartamento, no prédio Aquarius, localizado em frente à praia de Boa Viagem em Recife. Após criar seus filhos, ficar viúva e aposentar-se, vive com seus livros e discos. Sua rotina começa com um banho de mar e conversas na praia com pessoas que tem laço há longo tempo. O território em que vive é marcado de inúmeras lembranças, e por laços sociais e afetivos bastante fortes.
Não está em seus planos mudar-se, porém, uma construtora tem interesse em fazer um
“novo Aquarius” no terreno. Deste modo, a construtora começa por comprar todos os apartamentos do prédio e Clara é surpreendida com uma proposta de compra de seu apartamento. Ao ser a única moradora a recusar-se a vender, a protagonista sofre assédios, ameaças e pressões de todo tipo.
Aquarius é um filme que trata, entre outras questões, das memórias e do valor delas, das marcas deixadas pelo tempo e pelas histórias na singularidade do sujeito. Testemunhamos, no filme, festa de família, lembranças envolvendo móveis, histórias de discos, situações afetivas, conferindo sentido e significado àquele apartamento, àqueles objetos e àquele território. Clara está diante do discurso capitalista, cujo único interesse é o lucro financeiro, onde o valor e a ética são de outra ordem e os laços são fugazes, líquidos e sem memória.
Em alguns momentos do filme é possível ver como muitas vezes pode ser tênue a diferença entre o valor e a importância das memórias e um apego exagerado ao que passou, ao que já não existe mais, impedindo um caminhar adiante e para o novo, algo mais da ordem da melancolia. Porém, o filme destaca o contraponto do valor das memórias versus o discurso capitalista do homem moderno sem tradição.
Clara diante do traumático da violência, com sua subjetividade e com o seu corpo marcado por um câncer vivido quando ainda era jovem, personifica a resistência à opressão capitalista e ao poder corporativista da elite.
Aquarius ganhou prêmios em diversos festivais. Teve indicação e foi ovacionado no Festival de Cannes, onde a equipe do filme protestou contra o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, que estava em andamento, mostrando cartazes que referiam um golpe no Brasil. O que, talvez, tenha resultado em certo boicote ao filme, pois apesar de ter sido muito elogiado, saiu do festival sem nenhuma premiação. Aquarius é um filme polêmico e vale conferir!
*Associada do Clin-a