skip to Main Content

ACONTECE NA CIDADE

Fonte: (José Luiz Pederneiras/Divulgação)
Fonte: (José Luiz Pederneiras/Divulgação)

A cidade futurista de David Cronenberg, em Crimes of the future (2022), é uma cidade de vazios pontuados por algumas performances. Por um lado, uma burocracia estatal nada opressiva, mas curiosamente interessada naquilo que é o tema do filme – o que é o humano no momento em que estes evoluem para não sentir a dor orgânica? Por outro, performances artísticas nas quais este mistério – o que é o humano? – encontra seu limite biopolítico: nestes neocorpos, os prazeres que associamos às pulsões – comer, tocar, transar – são substituídos pelas cirurgias a céu aberto, em um evento em que o esburacar torna-se o ato erótico por excelência. Afinal, surgery is the new sex.

O filme, em exibição no espaço Itaú de cinema na cidade de São Paulo, e em outros pontos do Estado, é uma obra anti-kafkiana. Isto porque em Kafka o mistério oprime. Já em Cronenberg, o mistério produz – novos órgãos, aos quais não se sabe atribuir função, bem como novos erotismos. Por fim, produz uma reposição da questão biopolítica que interessa à psicanálise: qual o limite dos acontecimentos de corpo? Quão fundo no abdômen do indivíduo tem-se que cavar em busca da verdade do sujeito?

Das intervenções no corpo vamos para a entrega do corpo como um instrumento para expressão do belo pela dança.

O Grupo Corpo, na abertura da Temporada de Dança do Teatro Alfa 2022, presta  homenagem a  Gilberto Gil e Caetano Veloso, que completam 80 anos em 2022 , trazendo os espetáculos Gil, Refazendo e Onqotô.

Este último, criado em 2005, com trilha sonora por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, traz uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e poéticos em torno das cenas de origem e do sentimento de desamparo inerente à condição humana, em virtude de sua inexorável  pequenez diante da infinitude do Universo.

Onqotô? Pronqovô? Quemqosô? Em “mineirês”, são as três indagações existenciais que perpassam todo o espetáculo com muitos movimentos de chão, no qual os corpos dos bailarinos parecem se fundir com o espaço cênico, como uma massa anônima, tragados pela força invisível da gravidade. Sugados pelo não-espaço, pelo nada ou a anterioridade de tudo. Segundo Paulo Pederneiras, Onqotô é uma das peças mais fortes do Grupo Corpo.


Crimes of the future – espaço Itaú de cinema e também no serviço de streaming Mubi.

Temporada de Dança Teatro Alfa 2022

Informações: www.teatroalfa.com.br/temporada2022

Back To Top