BOLETIM ELETRÔNICO DAS XI Jornadas da EBP - Seção São Paulo Local das Jornadas: Meliá…
A FALA PLENA NÃO EXISTE
Élida Biasoli
Associada ao CLIN-a
Eixo 2: Transferência: paradoxos entre saber, amor e gozo
Miller, em seu curso Os paradoxos da pulsão, explora o que ele chama “a mola da invenção conceitual de Lacan”[1], que é traduzir a pulsão freudiana na ordem da linguagem. Seguindo o fio de seu raciocínio, ele coloca dois pontos dessa investigação. Ponto 1: é o ponto de partida em uma análise em que o que se visa é um dizer verdadeiro, e para que ele advenha, é preciso liberar a verdade do sintoma. Nesse ponto há uma desvalorização do gozo. Ponto 2: aqui gozar ganha a importância e é ele, o gozar, que fornece a própria razão de dizer. E assim se opõe, então, valor de verdade e valor de gozo, criando o problema da sua conciliação: é “o problema do ensino de Lacan”[2].
Então, uma das faces do tratamento analítico consiste em encontrar o recalcado, isto é, o significado, e devolvê-lo ao significante: isto é o sintoma! O recalque é o que separa o significante do significado no sintoma. Existiria, então, uma fala sem o recalque, uma fala plena em que o sujeito converte a verdade de seus sintomas? É Lacan quem conclui: “A fala plena não existe”[3]. Nessa fala, o significado do sintoma deixaria de ter o suporte do corpo e do imaginário, sendo apenas simbólico. “E o que chamamos o ensino de Lacan talvez não seja outra coisa senão o ensino do impossível da fala plena”[4]. E justamente a impossibilidade de dizer na fala a verdade da fala é o que Lacan chamou de S(Ⱥ), ou seja, a verdade não é toda.
Esses momentos da análise, momentos em que se topa com um impossível “é a emergência de um traço que se dirige ao analista, por vezes de maneira mal-intencionada, um momento de agressividade”[5]. Então, quando a elaboração simbólica se encontra com um impossível a dizer, pode ocorrer do sujeito deslizar para o eixo imaginário, e, nesse preciso momento, ele se dá conta da presença do analista como pequeno outro, assim experimentando uma tensão agressiva. Aqui, a recomendação de Lacan não segue na via de alguns pós-freudianos que visam interpretar a defesa, a resistência. “É preciso fazer a volta e interpretar ao nível simbólico”[6]. Mas a prática evidencia que nem sempre é possível esse relance ao simbólico. Às vezes, tudo que resta ao analista é bater em retirada. Quais saídas diante dessa encruzilhada?