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A Escola e o Coletivo
Cynthia Freitas Farias (EBP/AMP)
Parto da seguinte afirmação de Miller: “A Escola é uma formação coletiva na qual se sabe a verdadeira natureza do coletivo”1. Ao esclarecer de que se trata a “verdadeira natureza do coletivo”, Miller nos remete à referência que Lacan faz a Freud em “O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada”2, interrogando se a solução do novo sofisma que apresenta poderia ser atingida na experiência. O que podemos extrair desse escrito de 1945 para pensarmos hoje o coletivo da Escola?
Freud em “Psicologia das Massas”3 demonstra que o que está em jogo na criação ou surgimento dos grupos e na sua manutenção são os laços libidinais, assim como se evidenciam nas análises. A estrutura mínima presente nessas formações é a seguinte: “indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de Ideal do eu e, consequentemente, se identificaram uns com os outros em seu eu”4.
Lacan em seu escrito de 1945 resume a análise freudiana dos grupos assim: “o coletivo não é nada senão o sujeito do individual”5. No sofisma dos três prisioneiros, Lacan apresenta uma lógica coletiva que não se forma em torno de um líder, tampouco engendra o fenômeno da identificação. Três indivíduos estão envolvidos em uma questão cuja solução resultará na liberdade do primeiro que encontrá-la e puder justificá-la logicamente. Tal solução é o resultado de um “movimento de verificação instituído por um processo lógico em que o sujeito transforma três combinações possíveis em três tempos de possibilidade”: instante de ver, tempo de compreender e momento de concluir. A solução enunciada é sustentada no movimento de precipitação e hesitação que uns observam nos outros, desconhecendo a realidade uns dos outros. No movimento se produz a certeza da solução encontrada por cada um. “A verdade se manifesta nessa forma como antecipando-se ao erro e avançando sozinha no ato que gera sua certeza”. Lacan afirma que a asserção subjetiva antecipatória é a “forma fundamental de uma lógica coletiva”6. O tempo de compreender é o momento em que o eu se apoia nos outros, mas numa determinada relação de reciprocidade em que eles se tornam, por um momento, “outro uns para os outros”7. Miller observa que são três indivíduos enganchados por uma “subjetividade prisioneira”, realidade transindividual do sujeito8, mas o que os liga é sua relação solitária com aquilo que ocupa para ele o lugar de ideal.
Freud traz à luz a verdade das formações grupais que consiste em uma multiplicidade de relações individuais com seus S1 e a identificação vem recobrir a solidão radical do sujeito com a causa que o anima. Miller localiza duas formas de ocupar esse inevitável lugar de ideal nas formações coletivas: ou orientando o grupo pelo engodo da identificação, resultando na polarização entre os iguais e os diferentes, ou interpretando o grupo, separando os sujeitos dos S1 que os coletivizam, “isolando sua diferença absoluta e o objeto a que se sustenta deste vazio e o tampona ao mesmo tempo”9, remetendo cada um à solidão de sua relação com o ideal. A causa que nos move é a Escola colocada em posição de ideal, mas cabe a cada um medir o “salto entre a causa particular de seu desejo e a causa freudiana como significante ideal”10.
Poderíamos aproximar a realidade transindividual do sofisma lacaniano e a Escola? Enquanto coletivo, constituímos uma “subjetividade prisioneira” se nossas causas particulares se articulam em algum ponto à Escola como ideal?
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1. MILLER, J.-A. “Teoria de Turim: sobre o sujeito da Escola”. OpçãoLacaniana online nova série. Ano 7, no. 21. Novembro 2016, p. 7.http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_21/teoria_de_turim.pdf
2. LACAN, J. (1945/1998) “O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada”. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, p. 213.
3. FREUD, S. (1921/1966) “Psicologia das Massas e Análise do eu”. In: ObrasCompletas, vol. 18.
4. Idem, Ibidem, Cap. 8, p.
5. LACAN, J. (1945/1998), ibidem, p. 213.
6_______. (1945/1998) idem, p. 211.
7_______, ibidem
8. MILLER, J.-A.. Curso de psicoanálisis, classe de 24 de junio de 2017. EOL Postal.
9_______ (2016) Idem, p. 8
10______, ibidem, p. 10.