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O Despertar da primavera, um musical
“Despertar da Primavera”, escrita por Frank Wedekind em 1891, não só desperta a sociedade vitoriana alemã como os leva a virar e voltar a adormecer em 1906 ao ser encenada, censurada e banida dos palcos de Berlin. Melhor assim! Dar as costas ao grande despertar e mantê-lo afastado por quase 60 anos…
Um pouco do contexto histórico para melhor compreensão do cenário social na Alemanha daquela época. A Inglaterra e demais países europeus vivem sob os efeitos e benesses produzidos pela Revolução Industrial: crescimento e investimento em educação permitem que a classe média se desenvolva e solidifique. Ingleses, entre 1837 e 1901, reverenciam a rainha Vitória, cujas raízes são alemãs. Paralelo ao boom econômico e social da Inglaterra, a generosidade vitoriana em moralismos e disciplina, pilares da formalidade que tanto prezam. Uma sociedade machista cujos homens dominadores e mulheres submissas sustentam a dupla moral clandestina, florescendo a céu aberto.
Sexo? Algo de repulsa social, somente com fins reprodutivos! Porém, a prostituição, tanto hétero quanto homo, e o adultério proliferam nos bastidores, enquanto a castidade é defendida como uma virtude a ser protegida acima de tudo. Para tanto, o regime da rainha Vitória propunha um manual, uma cartilha de regras com valores morais para serem respeitados e seguidos: um dress code, maneiras de cumprimentar na rua, nenhuma intimidade em público, regras para seduzir e namorar.
Todavia, o outro lado da rigorosa moral vitoriana mostra-se sombrio e, embora sombrio, visível nas zonas urbanas da Inglaterra: o trabalho infantil e a vida precária de crianças açoitadas pela baixa produtividade nas minas; as crianças anunciadas em jornais e vendidas pela Igreja; o abuso de menores; o livre comércio do sexo, das apostas, das orgias, dos espetáculos eróticos com menores, das drogas como o ópio esbanjado pela corte inglesa.
E é nesse contexto borbulhante de extrema criatividade intelectual que surge Frank Wedekind, na Alemanha, em 1864. O dramaturgo que segue a tendência expressionista de lidar com os sentimentos humanos e sociais, se antecipa a Freud com uma peça ousada, cujos temas – identidade, sexualidade, morte, suicídio, aborto, masturbação, perda da virgindade, homossexualismo -, confrontam a sociedade formal vitoriana alemã de forma escancarada no palco, com algo do real que não puderam suportar.
Melhor encarar o rechaço. Melhor permanecer adormecido. Melhor não despertar, mesmo que seja para a primavera, para a sexualidade, decide a sociedade berlinense. Mas, toda história tem dois lados, e o lado bom desta é imaginar que sem a rainha Vitória, não teria havido a psicanálise. Foi ela quem fez com que fosse necessário o que Lacan apelidou “despertar”. “Despertar da primavera” é absolutamente atemporal e retrata tão bem o adolescente universal, seus confrontos e soluções para lidar com o encontro com o real do sexo.
Confira em um dos links: