Por Niraldo de Oliveira Santos EBP/AMP “Alguns sendo singulares, se ajuntam, e podem ser colocados…
Editorial Boletim #CUPID #05
Ao propor o tema das VIII Jornadas evidentemente era esperado que provocasse, conectasse as pessoas ao redor dele. Devo confessar que o trabalho de nossa comunidade se fez notar, ressoou, conectou: surpreendentemente as inscrições tiveram que ser encerradas antes mesmo que o prazo do envio dos trabalhos para as simultâneas se encerrasse. Foi uma surpresa, caso contrário, teríamos escolhido outro local que pudesse receber aqueles que não conseguiram se inscrever a tempo. Lamentamos não poder receber a todos, nossos objetos ausentes, que põem “em ato a ‘não-relação sexual’”, como disse Leonardo Gorostiza, que tão gentilmente respondeu à nossa provocação. Ele falou: “os laços virtuais fazem uso, cada vez mais, das imagens. As quais, se bem não se confundem com o objeto ‘carnal’, estão longe de produzir, como as cartas de amor o fazem, uma circunscrição, um contorno, em torno do objeto ausente.”
Também a poesia comparece nesta flecha de Cupid por este viés. Felipe Futada em “Jogo” joga com a falta da pegada e a palavra que acende o corpo. Os “amores, o romântico idealizado e o desconexo, são estados da mesma matéria em movimento que é o ato de amar. Nesse sentido é impossível inscrever uma proporção fixa entre esses sexos”, disse ele em entrevista.
Desconexões, conexões desfeitas, conexões na desconexão. Nas (des)conexões as conexões são colocadas em função, como os parênteses na matemática, quando trazem em si a possibilidade de serem feitas e desfeitas – basta que o laço se desconecte, deixando tudo (des)iludir. Essa é uma maneira de ler a (des)localização de nossos tempos. Nossa convidada das Jornadas, Christiane Alberti, não nos deixa mentir, já que a verdade é mentirosa: o Outro é de meia tigela! “Para fazer par é preciso passar pelo sintoma que em seu princípio nos isola. Neste plano, o Outro será sempre de meia-tigela. Permanece a contingência. Não dá para fazer par sem o pré-requisito do encontro. O cupido tem sempre os olhos vendados e atira suas flechas ao acaso!”.
O acaso! Mas e o apaixonamento? “Freud sublinha que frequentemente tais condições não ocorrem apenas uma vez na vida amorosa dos indivíduos, mas que tais condições para o apaixonamento se repetem, com as mesmas particularidades ‘cada uma a exata cópia da outra (…) formando uma longa série’”. It`s a match! André Antunes da Costa. Que agora associo ao texto de Niraldo de Oliveira Santos. “Cada um com seu modo de gozo … nada garante que vai “dar liga”, que vai vingar, mantendo a conjunção ’amor e sexo’, do encontro, do fazer par, no campo do mistério”.
Rômulo Ferreira da Silva também não me deixa mentir: “Por não existir vida sexual típica, há que ter coragem para colocar em prática a sexualidade que anima o corpo.” Ainda mais: “Podemos pensar que os (des)encontros sexuais e “amorosos” que ocorrem pela via da internet configuram um sintoma contemporâneo. A internet oferece ao sujeito a possibilidade de tentar driblar os impasses da vida sexual marcada pelo impossível da relação sexual… Resta à psicanálise recolher os efeitos do impossível da relação sexual.”
Leiam os textos deste (des)encontro, des(cupido) que se faz agora em conexão. Talvez você possa descobrir que “a verdade é o seu dom de iludir. Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir” (Caetano Veloso) – uma análise é um tempo de des(conectar) “a dor e a delícia de ser o que é”.