Por Niraldo de Oliveira Santos EBP/AMP “Alguns sendo singulares, se ajuntam, e podem ser colocados…
#Conversa.com – Felipe Futada
Camila Popadiuk e Mirmila Musse entrevistaram Felipe Futada para o Boletim da VIII Jornadas da EBP-SP.
Para animar a discussão sobre o tema, o autor enlaça, na busca por respostas sobre questões da existência humana, uma sensível produção de poesias, não sem antes, serem vivenciadas pel(n)o corpo.
Felipe Futada, é professor de Educação Física, atua principalmente em escolas da rede particular e em cursos de formação de professores. É praticante de Yoga, Psicanálise, Poesia e outras áreas afins ao Corpo, além de autor do livro Foco no Todo (2017).
1. As VIII Jornadas da Escola Brasileira de Psicanálise da Seção São Paulo têm como tema “Amor e sexo em tempos de (des)conexões”. O que você entende desse tema e como ele pode estar relacionado com suas poesias?
Talvez uma relação possível seja o inevitável deparar-se com algum tipo de vazio na experiência com o outro. Não necessariamente o vazio como a ausência de alguém, mas um vazio como impossibilidade de ação. Afinal de contas existe uma grande diferença entre um vazio marcado pela falta do que ali já se fez presente, e um vazio que nunca foi preenchido. A poesia habita essa interface, dado que é uma materialização do nada. O Amor também.
O tema me sugere ainda que talvez se perceba urgente uma discussão a respeito da algoritmização da vida. Brinco com o termo das redes sociais pois me parece que enquanto sociedade estamos perdendo a habilidade de lidar com o diferente, com o que escapa às nossas bolhas de convicção. Temos nos fechado em nossas verdades e deixado atrofiar o músculo da percepção dos detalhes que nos unem enquanto espécie. Não há nenhuma pretensão esotérica nessa afirmação.
A panaceia da tecnologia digital, por exemplo, que nos vendeu o produto da hiperconectividade como sinônimo de felicidade, ao fim e ao cabo apenas conseguiu nos meter goela abaixo as pílulas da experiência de segunda mão. Perdemos a ancoragem real do corpo. Sem ancoragem do corpo vivemos uma não-vida. Penso que nos deparamos com uma epidemia de sedentarismo emocional e falar de amor e sexo através da poesia é uma política pública de redução de danos.
É a partir dessa perspectiva que acredito que as pessoas sempre continuarão a falar e a querer ouvir sobre tais temas. Talvez eles, mais do que outros, devolvam um pouco do que há de mais humano para o ser humano.
2. Seus poemas apresentam duas facetas do amor. De um lado, tem-se a presença do amor romântico, belo e idealizado e, de outro, a marca daquilo que não torna possível fazer estabelecer uma conexão entre os parceiros amorosos, ou seja, a impossibilidade de inscrever uma proporção entre os sexos. No poema “Real”, por exemplo, o verso seguinte carrega esta dupla face do amor:
“[…] Ainda melhor: explique-se a todos
que ao se dar pano pra manga tecendo histórias do amor eleito
criou-se a camisa de força do par perfeito.
Metáfora que nos remete a um mundo louco
no qual o amor vem pronto.
E a escolha de amar é só do outro”
Você concorda com essa leitura?
Sim, penso que em algum momento da experiência amorosa nos deparamos todos com essa dupla face. Ambos amores, o romântico idealizado e o desconexo, são estados da mesma matéria em movimento que é o ato de amar. Nesse sentido é impossível inscrever uma proporção fixa entre esses sexos.
3. Em algum de seus poemas, você coloca amor e sexo de forma disjunta e independente um do outro. Tema este, a propósito, debatido desde que o mundo é mundo. Entretanto, em alguns outros, há uma articulação intrínseca entre amor e sexo. A que se refere esta (des)conexão?
Nenhum dos meus poemas é escrito com intencionalidade explícita de se referir a um ou outro conceito. A intencionalidade que busco, por sinal, é diametralmente oposta à poesia enquanto um fazer cerebral. Busco sempre tomar como pedra de toque as percepções corporais em seu estado manifesto, a experiência direta. Nesse sentido penso que os poemas variam apenas em tonalidade, ora elaborando sensações pertinentes ao tema do sexo, ora ao amor, ou ainda à fusão (e confusão) destas sensações à medida que construímos repertório para decodificar nossos próprios sentimentos.
O processos de conexão e desconexão entre os seres, desde que o mundo é mundo, se dão nas mais variadas esferas. Do sexo ao amor, do corpo ao discurso. Se no princípio era o Verbo, e o verbo virou carne, somos todos de palavras inscritos e em palavras descritos. Uma terra fértil para a (des)conexão.