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Eixo 4 – “Paraíso dos amores infantis”

 Sigmund Freud

FREUD, S. (1914). Introdução ao narcisismo. In: Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). SP: Companhia das Letras, 2010.

“Um forte egoísmo protege contra o adoecimento, mas afinal é preciso começar a amar, para não adoecer, e é inevitável adoecer, quando, devido à frustração, não se pode amar”. (p. 29)

“É fácil observar, além disso, que o investimento libidinal de objetos não aumenta o amor-próprio. A dependência do objeto amado tem efeito rebaixador; o apaixonado é humilde. Alguém que ama perdeu, por assim dizer, uma parte de seu narcisismo, e apenas sendo amado pode reavê-la. Em todos esses vínculos o amor-próprio parece guardar relação com o elemento narcísico da vida amorosa”. (p. 46)

“O retorno da libido objetal ao Eu, sua transformação em narcisismo, representa como que um amor feliz novamente e, por outro lado, um real amor feliz corresponde ao estado primordial em que libido de objeto e libido do Eu não se distinguem uma da outra”. (p. 47-48)

 FREUD, S. (1926). Inibição, sintoma e angústia. In: Obras completas, volume 17: inibição, sintoma e angústia, o futuro de uma ilusão e outros textos (1926-1929). SP: Companhia das Letras, 2014.

“É lícito fazermos, em sua condição para a angústia, a pequena modificação de que já não se trata da falta ou da perda real do objeto, mas da perda do amor do objeto”. (p. 86-87)

 FREUD, S. (1930). O mal-estar na civilização. In: O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936). SP: Companhia das Letras, 2010.

“Nunca estamos mais desprotegidos ante o sofrimento do que quando amamos, nunca mais desesperadamente infelizes do que quando perdemos o objeto amado ou seu amor”. (p. 39)

 

Jacques Lacan

 LACAN, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: Escritos. RJ: Zahar, 1998.

“Mais um meio, portanto, de reduzir esse Alhures à forma imaginária de uma nostalgia, de um Paraíso perdido ou futuro, o que encontramos aí é o paraíso dos amores infantis, onde, baudelaire de Deus!, ele se abstém de coisas escandalosas.” (p. 554)

 LACAN, J. (1962-1963). O Seminário, livro 10: a angústia. RJ: Zahar, 2005.

“O problema do luto é o da manutenção, no nível escópico, das ligações pelas quais o desejo se prende não ao objeto a, mas à i(a), pela qual todo amor é narcisicamente estruturado, na medida em que esse termo implica a dimensão idealizada a que me referi. É isso que faz a diferença entre o que acontece no luto e o que acontece na mania e na melancolia.” (p. 364)

 LACAN, J. (1964). O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. RJ: Zahar, 1998.

“[…] queria simplesmente fazê-los notar o caráter clássico dessa concepção de amor, querer seu bem para si, será preciso sublinhar que é exatamente o equivalente do se chama, na tradição, a teoria física do amor, o velle bonum alicui de São Tomás, que tem para nós, em razão da função do narcisismo, exatamente o mesmo valor? Há muito tempo que sublinho o caráter capcioso desse pretenso altruísmo que se satisfaz com preservar o bem de quem? – daquele que, precisamente, nos é necessário.” (p. 181)

“[…] o campo do amor, quer dizer, do quadro do narcisismo, sobre o qual Freud nos indica em termos próprios […] que ele é feito da inserção do autoerotisch nos interesses organizados do eu.” (p. 182)

“[…] efeito de transferência. Este efeito é o amor. É claro que, como todo amor, ele só é referenciável, como Freud nos indica, no campo do narcisismo. Amar é, essencialmente, querer ser amado.” (p. 239)

“Há enigmas na identificação, e os há para o próprio Freud. Ele parece espantar-se de a regressão do amor se fazer tão facilmente nos termos da identificação. E isto, ao lado dos textos que articula que amor e identificação têm equivalência num certo registro e que narcisismo e superestimação do objeto, a Verliebtheit, são exatamente a mesma coisa no amor.” (p. 241)

LACAN, J. (1971-1972). O Seminário, livro 19: …ou pior. RJ: Zahar, 2012.

“O que vem a ser para a mulher essa segunda barra, que só pude escrever ao defini-la como não-toda? Ela não está contida na função fálica, mas nem por isso é sua negação. Sua forma de presença está entre o centro e a ausência. Centro – essa é a função fálica de que ela participa singularmente, posto que o ao menos um que é seu parceiro no amor renuncia a tal função por ela, esse ao menos um que ela só encontra no estado de ser apenas pura existência. Ausência – é o que lhe permite deixar aquilo por cujo meio ela não participa disso, na ausência que não é menos gozo por ser ausência de gozo, gozoausência [jouissabsence].” (p. 117-118)

 LACAN, J. (1972-1973). O Seminário, livro 20: mais, ainda. RJ: Zahar, 2008.

“A análise demonstra que o amor, em sua essência, é narcísico, e denuncia que a substância do pretenso objetal – papo furado – é de fato o que, no desejo, é resto, isto é, sua causa, e esteio de sua insatisfação, se não de sua impossibilidade. O amor é impotente, ainda que seja recíproco, porque ele ignora que é apenas o desejo de ser Um, o que nos conduz ao impossível de estabelecer a relação dos […] dois sexos.” (p. 13)

“A contingência, eu a encarnei no para de não se escrever. Pois aí não há outra coisa senão o encontro, no parceiro, dos sintomas, dos afetos, de tudo que em cada um marca o traço de seu exílio, não como sujeito, mas como falante, do seu exílio da relação sexual.” (p. 156)

 LACAN, J. (1975-1976). O Seminário, livro 23: o sinthoma. RJ: Zahar, 2007.

“S de A barrado é uma coisa bem diferente de F. Não é com isso que o homem faz amor. No final das contas, ele faz amor com seu inconsciente, e mais nada. Quanto ao que fantasia a mulher […] é alguma coisa que, de todo modo, impede o encontro.” (p. 123)

“O grande A é barrado porque não há Outro – não aí onde há suplência, a saber o Outro como lugar do inconsciente, esse de quem eu disse que é com isso que o homem faz amor, em outro sentido da palavra com e que é o parceiro – o grande A é barrado porque não há Outro do Outro.” (p. 123)

 

Jacques-Alain Miller

MILLER, J.-A. A teoria do parceiro. In: Escola Brasileira de Psicanálise (org.). Os circuitos do desejo na vida e na análise. RJ: Contra Capa, 2000.

“Se nos interessamos hoje pela toxicomania, que existe desde sempre, é porque ela traduz maravilhosamente a solidão de cada um com seu parceiro-mais-de-gozar. A toxicomania pertence ao liberalismo, à época em que nos lixamos para os ideais, em que não nos ocupamos de construir o Outro, em que os valores ideais do Outro empalidecem, desagregam-se frente à globalização de que ninguém está a cargo, enfim, uma globalização que prescinde do Ideal.” (p. 170)

“Gostaria de evocar a toxicomania no fio que começa a ser tecido a partir da dimensão autística do sintoma. Por que nosso interesse? A toxicomania é um modo-de-gozar em que aparentemente se prescinde do outro, que existiria para que se dispense o Outro, e no qual se goza a sós. Ponhamos de lado, sem esquecê-lo, que em um certo sentido o próprio corpo é o Outro. Creio ser possível transmitir algo se simplesmente digo, se repito que é um modo-de-gozar em que se dispensa o Outro, e que por isso o gozo toxicômano tornou-se emblemático do autismo contemporâneo do gozo.” (p. 172)

MILLER, J.-A. (1982-1983). Del síntoma al fantasma. Y retorno. Buenos Aires: Paidós, 2018.

“Tomemos o primeiro tempo do fantasma: o pai bate em outra criança. A análise de Freud é simples. Faz parte dessa comunidade de crianças. Para a criança, bater em outra criança equivale a negá-la, a ficar privada de seu amor. Afinal, bater é um significado relativamente aceito. É claro, pois se diz que quem bem ama, bem castiga.” (p. 131-132)

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