
Eixo 3: (a)muro “é o que aparece em signos bizarros no corpo”
Sigmund Freud
FREUD, S. (1905 [1901]). Análise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”). In: Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”) e outros textos (1901-1905). SP: Companhia das Letras, 2016.
“A incapacidade de satisfazer a exigência amorosa real é um dos traços essenciais da neurose; os doentes são dominados pela oposição entre a realidade e a fantasia. Eles fogem daquilo pelo qual anseiam mais vivamente nas fantasias, quando com ele deparam na realidade, e se entregam de muito bom grado às fantasias, quando já não precisam temer que elas se realizem.” (p. 305)
FREUD, S. (1916). A vida sexual humana (Conferência XX). In: Amor, sexualidade, feminilidade. Obras Incompletas de Sigmund Freud. BH: Autêntica, 2019.
“Foi justamente através da sintomatologia da histeria que chegamos à concepção de que aos órgãos do corpo, além de seu papel funcional, devemos reconhecer uma importância sexual – erógena -, e que eles são perturbados no cumprimento dessa primeira tarefa se a última lhes fizer exigências demasiadas.” (p. 194)
“[a sexualidade infantil] surge apoiando-se na satisfação das grandes necessidades orgânicas e se comporta de maneira autoerótica, isto é, ela procura e encontra seus objetos no próprio corpo.” (p. 201)
FREUD, S. (1915). As pulsões e seus destinos. In: As pulsões e seus destinos. Obras Incompletas de Sigmund Freud. BH: Autêntica, 2015.
“[…] a observação do uso da linguagem, certamente pleno de sentido, nos mostra outra limitação no significado de amor e ódio.” (p. 57)
FREUD, S. (1914). Introdução ao narcisismo. In: Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). SP: Companhia das Letras, 2010.
“Também o histérico e o neurótico obsessivo abandonam, até onde vai sua doença, a relação com a realidade. A análise mostra, porém, que de maneira nenhuma suspendem a relação erótica com pessoas e coisas. Ainda a mantêm na fantasia, isto é, por um lado substituem os objetos reais por objetos imaginários de sua lembrança, ou os misturam com estes, e por outro lado renunciam a empreender as ações motoras para alcançar as metas relativas e esses objetos.” (p. 15)
FREUD, S. (1915[1914]). Observações sobre o amor transferencial. In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Obras Incompletas de Sigmund Freud. BH: Autêntica, 2022.
“[…] acatar as demandas de amor por parte da paciente é tão fatal para a análise quanto a repressão [Unterdrückung] delas. O caminho do analista é outro, é aquele para o qual a vida real não fornece um modelo.” (p. 173)
Jacques Lacan
LACAN, J. …ou pior. In: Outros escritos. RJ: Zahar, 2003.
“Por conseguinte, é nos nós do simbólico que o intervalo situado por uma não relação deve ser posicionado em sua orografia, a qual, por criar um mundo para o homem, pode igualmente dizer-se muro e procedente do (a)muro [(a)mur].” (p. 546)
LACAN, J. introdução à edição alemã de um primeiro volume dos Escritos. In: Outros escritos. RJ: Zahar, 2003.
“A cifra funda a ordem do signo.” (p. 551)
LACAN, J. Estou falando com as paredes. In: Estou falando com as paredes: conversas na Capela de Sainte-Anne. RJ: Zahar, 2011.
“Quando se diz que Há um mundo, isso significa que Vocês nunca chegarão lá. Como quem não quer nada, diz-se no começo: Entre o homem e a mulher há o amor, o que significa que isso gruda. Já um mundo, flutua. Mas com Há um muro, aí vocês compreendem que entre quer dizer interposição.” (p. 91)
LACAN, J. (1972-1973). O Seminário, livro 20: mais, ainda. RJ: Zahar, 2008.
“É mesmo por isso que as outras duas paixões são as que se chamam amor […] e o ódio, que é mesmo o que mais se aproxima do ser, que eu chamo de ex-sistir.” (p. 129)
“Do Um, na medida em que ele ali está, podemos supor, apenas para representar a solidão – o fato de que o Um não se amarra verdadeiramente com nada do que pareça o Outro sexual.” (p. 137)
Jacques-Alain Miller
MILLER, J.-A. (1997-1998). El partenaire-síntoma. Buenos Aires: Paidós, 2020.
“[…] como o gozo pulsional pode admitir ser descompletado, carecer de algo, para se ver embarcado nos assuntos de desejo.” (p. 157)
“[…] a fórmula do fantasma como fórmula do casal implica que o sujeito recebe o complemento de sua falta em ser como forma de um objeto: a.” (p. 264)
“O parceiro-sintoma […] não é suficiente que a contrapartida seja a imagem, não é suficiente que seja a palavra, não é suficiente que seja o objeto do fantasma, é necessário que essa contrapartida seja, para empregar o termo, preço, um preço extraído do gozo.” (p. 266)
“A verdade da parceria imaginária é, finalmente, que “eu não sou a imagem do Outro”. A verdade da parceria simbólica é, em definitivo, a equivalência do sujeito e do significante. A verdade da parceria do desejo é a equivalência do sujeito e do objeto a.” (p. 267)
“Não se pode, de maneira nenhuma, dar conta do gozo somente a partir do funcionamento significante, é preciso agregar […] o organismo, é preciso agregar a vida, é preciso agregar a sexualidade, é preciso agregá-los como elementos próprios, é preciso agregar o vivente.” (p. 270)
“Onde há significante há gozo.” (p. 273)
MILLER, J.-A. A teoria do parceiro. In: Escola Brasileira de Psicanálise (org.). Os circuitos do desejo na vida e na análise. RJ: Contra Capa, 2000.
“O verdadeiro fundamento do casal é o sintoma. Se consideramos o casamento como um contrato legal que liga as vontades, abordarei o casal como […] um contrato ilegal de sintomas.” (p. 189)
“[…] a castração é a esperança de que o gozo torne-se parceiro, porque ela exigiria que se encontrasse o complemento de gozo necessário no Outro. Para Lacan, o tema do parceiro-falo traduz a face positiva da castração: ela é o sexo tornando os sujeitos parceiros.” (p. 193)