
Eixo 1 – MetAMORfoses
Sigmund Freud
FREUD, S. (1912). “Sobre a mais geral degradação da vida amorosa (Contribuições para a psicologia da vida amorosa – II)”. In: Amor, sexualidade, feminilidade. (Obras Incompletas de Sigmund Freud). BH: Autêntica, 2020.
“A corrente terna e a sensual fundiram-se adequadamente em um número mínimo de pessoas entre as instruídas; quase sempre o homem se sente limitado em sua atividade sexual pelo respeito à mulher e só desenvolve sua plena potência quando tem diante de si um objeto sexual degradado, o que novamente é justificado, entre outros motivos, pelo fato de entrarem em suas metas sexuais componentes perversos, os quais ele não ousa satisfazer na mulher respeitada.” (p.144-145)
FREUD, S. (1912). “Sobre a mais geral degradação da vida amorosa (Contribuições para a psicologia da vida amorosa – II)”. In: Amor, sexualidade, feminilidade. (Obras Incompletas de Sigmund Freud). BH: Autêntica, 2020.
“O homem infringe essa proibição, na maioria das vezes, sob a condição de degradação do objeto e, por isso, leva consigo essa condição para a sua futura vida amorosa”. (p.147)
FREUD, S. (1915). As pulsões e seus destinos. (Obras Incompletas de Sigmund Freud). BH: Autêntica, 2020.
“O amor advém da capacidade do Eu de satisfazer de modo autoerótico uma parte de suas moções pulsionais pela obtenção de prazer de órgão. Ele é originalmente narcísico e passa então para os objetos que foram incorporados ao Eu ampliado, expressando então os esforços motores do Eu em direção a esses objetos tidos como fontes de prazer”. (p.59-61)
“A história da origem e das relações de amor nos faz entender como ele tão frequentemente se apresenta como “ambivalente”, quer dizer, acompanhado de moções de ódio contra o mesmo objeto”. (p.61-63)
FREUD, S. (1916[1915]). “Sobre a transitoriedade”. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, V. XIV. RJ: Imago, 1996.
“Possuímos, segunda parece, certa dose de capacidade para o amor – que denominamos de libido – que nas etapas iniciais do desenvolvimento é dirigido no sentido de nosso próprio ego”. (p.318)
Jacques Lacan
LACAN, J. (1962-1963). O Seminário, livro 10: a angústia. RJ: Zahar, 2005.
“Só o amor permite ao gozo condescender ao desejo.” (p.197)
LACAN, J. (1968-1969). O seminário, livro 16: de um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008.
“No nível do amor, ele distinguiu a relação anaclítica e a relação narcísica. Como ocorre que, em outros pontos, ele contrastou o investimento no próprio corpo, na ocasião chamado narcísico, julgou-se poder edificar sobre isso (…) segundo o qual o investimento no objeto provaria, por si só que a pessoa saiu de si, que fez a substância libidinal passar por onde convinha.” (p.293)
LACAN, J. (1969-1970). O Seminário, livro 17: o avesso da psicanálise. RJ: Zahar, 1992.
“Que haja amor à fraqueza, está aí sem dúvida a essência do amor. Como já disse, o amor é dar o que não se tem, ou seja, aquilo que poderia reparar essa fraqueza original.” (p.54)
LACAN, J. (1972-1973). O Seminário, livro 20: mais, ainda. RJ: Zahar, 2008.
“A análise demonstra que o amor, em sua essência, é narcísico, e denuncia que a substância do pretenso objetal (…) é de fato o que, no desejo, é resto, isto é, sua causa, e esteio de sua insatisfação, senão de sua impossibilidade.” (p.14)
“O que vem em suplência à relação sexual, é precisamente o amor.” (p.62)
“Um sujeito, como tal, não tem grande coisa a fazer com o gozo. Mas, por outro lado seu signo é suscetível de provocar o desejo. Aí está a mola do amor.” (p.69)
LACAN, J. “Televisão”. In: Outros escritos. RJ: Zahar, 2003.
“Como dei a entender há pouco, é mais da sexologia que não há nada a esperar. Não se pode, pela observação do que nos chega aos sentidos, isto é, pela perversão, construir nada de novo no amor.” (p.532)
Jacques-Alain Miller
MILLER, J.-A. “A teoria do parceiro”. In: Os circuitos do desejo na vida e na análise. EBP: Contracapa, 2000.
“(…) o fim da análise não é deixar de ter sintoma – esta seria a perspectiva terapêutica – mas sim, ao contrário, amar o sintoma como se ama a própria imagem, e até mesmo amá-lo em vez de sua imagem.” (p.200)
MILLER, J.-A. “Uma conversa sobre o amor”. In: Opção Lacaniana On-line, ano 1, n. 2, julho 2010.
“O que Freud inventou foi um novo tipo de Outro ao qual dirigir o amor: um novo Outro que fornece novas respostas ao amor.” (p.3)
“Assim, há amor, poderíamos dizer, quando se trata desse e não de outro, quando se trata de algo que não se pode substituir. Essa é a ideia sublime do amor. Ao contrário, na psicologia da vida amorosa ou erótica de Freud, vemos que ele emprega a palavra amor sempre que se trata da possibilidade de alguma substituição, da necessidade de uma substituição. E, de certo modo, quando se trata do gozo não há substituição. Entretanto há uma articulação, que devemos buscar entre esse amor e algo diferente do amor, isto é, a problemática do gozo que Freud coloca claramente em “Contribuições à psicologia do amor”, de tal modo que também são contribuições à doutrina do gozo.” (p.8-9)
“Sem desenvolver essa vertente, pode-se dizer que Freud foi, na psicologia da vida amorosa, um Lévi-Strauss da vida amorosa, já que apresenta as estruturas elementares da referida vida e mostra em que o amor também obedece a regras. É o que ele chama de “condições de amor”. A condição de amor, em alemão, Liebesbedingung. Dizê-lo em alemão constata o caráter formalizado – que se perde na língua latina – dessa expressão que recobre a ideia das condições de amor sob as quais os seres humanos escolhem seu objeto. São as primeiras frases do primeiro texto das “Contribuições…” de Freud. Poder-se-ia dizer que, quando ele fala das “condições de Liebe”, se trata, efetivamente, de condições de gozo que determinam a escolha do objeto de amor.” (p.14)
“O horrível do que ensina a vida amorosa, segundo Freud – já que o amor freudiano não tem nada de “amável” – é que somente há substitutos.” (p.17)
“Desse modo, pode-se falar em três metáforas: a famosa metáfora paterna, a metáfora da metapsicologia e a própria metáfora do Outro. Assim, ao mesmo tempo, isso – se é como acredito – constitui a base da lógica da vida amorosa: fundada sobre um gozo proibido ao qual não se pode aceder e, no nível superior, o Outro do desejo com sua metonímia infinita. Isso pode ser a lógica. Contudo – e como indica o plural que colocamos em nosso título do próximo ano – há várias lógicas. Há várias lógicas do vínculo do gozo com o Outro, com o Outro do significante, com o Outro do amor. Porque no nível do gozo como tal, não existe o Outro: no nível do gozo como tal há a Coisa, das Ding. Essa é a antinomia destacada e trabalhada por Lacan e que já se encontra em Freud.” (p.19)
“Seria interessante – isso poderia ser uma conferência – diferenciar a fala de amor e a carta de amor. Agora não se escrevem tantas cartas de amor, fazem chamadas telefônicas… Nesse ponto Lacan era de outra época…” (p.20)
“O que Freud chama de “o insubstituível eficaz dentro do inconsciente” é o gozo como inesquecível, e a questão que se pode anunciar é a de que nível são as condições de amor, que há condições no nível significante e condições propriamente de gozo.” (p.22)
“O interessante nisso seria diferenciar fala e escritura, já que a escritura permite filtrar o gozo de outra maneira. A letra e a carta de amor, na medida em que é escrita, permitem separar o gozo de maneira precisa, mas diferente da fala.” (p.26)
MILLER, J.-A. “O amor entre a invenção e a repetição”. In: Opção Lacaniana On-line, ano 1, n. 2, julho 2010.
“O amor é um modo de se dirigir ao a, a partir do Outro do significante. Na teoria do amor, esse é o papel das palavras de amor, das cartas de amor. Amor é o esforço para dar um nome próprio a a, encontrar o a no olhar de uma mulher e poder dar a isso, como Dante fez, um nome próprio e construir em torno disso uma obra literária.” (p.15)