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EIXO 01 – MetAMORfoses

Eliane Costa Dias
Membro da EBP/AMP
Participante da Comissão de Orientação das XIII Jornadas da EBP-SP

Falamos de amor, ainda.

Desde o advento da civilização, o amor vive e circula na letra e nas imagens dos filósofos e pensadores, dos poetas, dos compositores, das obras de arte mais diversas, mas, principalmente, nas palavras, nos sussurros, nos silêncios e nos estranhamentos dos (des)encontros cotidianos dos seres falantes.

Como assinala Patrícia Bosquin-Caroz, o amor é sensível aos ideais transmitidos pela cultura e pela subjetividade da época que ordena as relações entre os sexos.

Na contemporaneidade, a aliança do capitalismo avançado com a ciência e a tecnologia produz efeitos, produz mutações nos discursos e nas subjetividades. No entanto, como adverte Laurent, “Esta dimensão do novo tem dificuldades para permanecer como tal na nossa civilização, sua duração é  cada vez mais breve, de menor tempo, e, assim, é um dos nomes das formas contemporâneas da pulsão de morte”.

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EIXO 02 – Transferência é amor – que amor é esse?

Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri
Membro da EBP/AMP
Participante da Comissão de Orientação das XIII Jornadas da EBP-SP

Falar de transferência é falar de amor. Que amor é esse? Outro amor, amor diferente, novo amor? Freud diz haver, “desde sempre, uma suspensão no problema do amor, uma discórdia interna, não se sabe que duplicidade”.

Numa análise manifesta-se o curioso fenômeno da transferência, amor que, na situação analítica, nada tem a ver com as qualidades do analista, que “não tem nenhum motivo para orgulhar-se de tal ‘conquista’”.

Diante do amor de transferência seria insensato invocar a moral, a renúncia ou a sublimação das pulsões, “como se, após invocar um espírito dos infernos, mediante astutos encantamentos, devêssemos mandá-lo de volta para baixo, sem lhe haver feito uma única pergunta” .

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Eixo 3 – (a)muro “é o que aparece em signos bizarros no corpo”

Camila Popadiuk
Membro da EBP/AMP
Cristiana Chacon Gallo
Membro da EBP/AMP
Participantes da Comissão de Orientação das XIII Jornadas da EBP-SP

O tema deste eixo de trabalho é uma citação de Lacan em seu Seminário 20 – Mais, ainda, momento de seu ensino em que ele nos apresenta uma nova dimensão do amor, articulada ao saber e ao gozo. Trata-se, no entanto, de um gozo cuja causa é a iteração do significante Um sozinho e que produz marcas indeléveis, chamadas por Lacan de lalíngua, cujos efeitos se manifestam como afetos enigmáticos sobre o corpo. O saber em jogo aqui não é a articulação significante S1-S2, mas sim um saber próprio ao gozo de lalíngua, isto é, “[…] um saber que se trata apenas de decifrar, já que ele consiste em um ciframento”. Estamos, portanto, no campo do gozo não-todo fálico, o que abre as vias para a vertente do real no amor.

Situadas brevemente essas novas perspectivas sobre o gozo e o saber, abordemos o amor pela via da lógica do não-todo – distinta da vertente do simbólico no amor e da dialética do desejo, onde a falta ocupa um lugar central. Nesta perspectiva do gozo feminino, o amor tem como referência o corpo, e, portanto, o gozo do corpo do Outro, tendo como princípio de partida a inexistência da relação sexual.

A partir dessa perspectiva conceitual, na qual o Outro é o corpo próprio, o amor assume a modalidade do encontro, pois ele acontece de maneira sempre contingente, atestando, assim, a impossibilidade de escrever a relação sexual. Dito de outra forma: se a contingência é o que cessa de não se escrever, é porque isso não cessa de não se escrever, ou seja, a relação entre os sexos. Não há um saber sobre a sexualidade humana, ou seja, não há um saber prévio que diga como abordar o Outro sexo. O amor vela, portanto, a ausência da relação sexual. Ele “é, como indica Miller, a abreviação do encontro com o gozo e com o Outro, sob a forma do contingente”.

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Eixo 4: “paraíso dos amores infantis”

Carmen Silvia Cervelatti
Membro da EBP/AMP
Camila Colás
Membro da EBP/AMP
Participantes da Comissão de Orientação das XIII Jornadas da EBP-SP

“É claro que entre os sexos que sexuados são (embora o sexo só se inscreva pela não relação) existem encontros.
Existe o feliz acaso [bon heur]. Aliás, só existe isso: felicidade do acaso! Os ‘seres’ falantes são felizes, felizes por natureza, é desta maneira, inclusive, tudo o que lhes resta.”[1]

“Falar de amor, com efeito, não se faz outra coisa no discurso analítico”[2], por isso se não existissem os impasses do amor, não existiria a psicanálise. As pessoas falam muito dos encontros e dos desencontros amorosos, associando-os, de alguma maneira, ao amor objetal infantil.

A expressão “paraíso dos amores infantis” foi cunhada por Lacan[3] para nos dizer que o inconsciente são pensamentos articulados, o “Alhures”. Ele pode ser reduzido “à forma de uma nostalgia, de um Paraíso perdido ou futuro; o que encontramos aí é o paraíso dos amores infantis, onde Baudelaire de Deus!, ele se abstém de coisas escandalosas”. No paraíso dos amores infantis não há o escandaloso do encontro com o corpo sexuado, o corpo como instrumento de gozo no encontro sexual.

Em “Paraísos artificiais”, Baudelaire associa tais paraísos a um estado de espírito que se busca a transcendência, muitas vezes ligada à arte e ao uso de drogas. São artifícios para fugir da realidade humana, para fazer existir a relação sexual, lá onde não há.

Sigamos Freud com os amores infantis. O “amor feliz” está relacionado à nostalgia de um objeto perdido, o qual não passaria de uma cena fantasiada, que o sujeito busca repetir no decorrer de sua história. “O impasse sexual secreta as ficções que racionalizam a impossibilidade da qual provém”[4].

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