APRESENTAÇÃO
JORNADAS (FORA DA SÉRIE) DA ESCOLA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE
SEÇÃO SÃO PAULO
SUBVERSÕES
Valéria Ferranti (EBP/AMP) – Diretora da EBP / São Paulo
Da pena Freudiana, o inconsciente perdeu seu caráter de adjetivo e surge como conceito que abala o narcisismo da humanidade e subverte a certeza cartesiana, afinal o eu não é senhor em sua casa. “Penso onde não sou, sou onde não penso”: afirmação onde localizamos, com Lacan, o sujeito da ciência moderna, fruto da revolução copernicana, subvertido.
Formalizar rigorosamente o sujeito do inconsciente foi o esforço de Lacan em seu retorno a Freud a fim de que os desvios normativos a que a práxis estava se reduzindo fossem denunciados, e o tema para nossas jornadas nos convoca, uma vez mais, a este trabalho.
Subversão, ainda no singular, abre duas vias: de um lado, revigorar o caráter perturbador da descoberta freudiana do inconsciente e, pelo outro, a política, a política da psicanálise no campo freudiano orientada em direção ao real. Maurico Tarrab nos lembra que a política é consequência da clínica e que ambas mantêm uma relação inseparável, atadas em um nó, onde estão incluídas as incidências da época. No entanto, tal nó não está assegurado e é fundamental que se possa transmitir como este bordado se faz, como cada nó é atado, ou não, na experiência.
Ano passado, juntos dançamos “a dança da solidão”, recolhendo ao longo do trabalho as saídas frente à solidão estrutural, a solidão do ser, a solidão do Um. Onde não há nada, onde há vazio, pode se alojar uma invenção radicalmente única. E é aqui que o único encontra o subversivo pois, separar-se das amarras dos significantes mestres, amplia o campo de escolha do sujeito, tornando-o subversivo à medida que rompe com o instituído pelo discurso do mestre. Subversivo um a um, portanto Subversivos. Como nos lembra M. H. Brousse “(…) frente à orientação segregativa a psicanálise responde pela subversão, a do gozo pelo desejo, cuja causa aparece desnudada”.[1]
Eis a aposta nestas Jornadas – que se faz fora da série das Jornadas da EBP São Paulo, uma vez que precisou ser inventada diante da impossibilidade de nos encontrarmos fisicamente. Com o tema derivado das IX Jornadas Solidão, iniciamos na comissão de orientação a leitura minuciosa de Subversão do Sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano[2], onde encontramos pérolas. Em um segundo tempo, os coordenadores das comissões se juntaram a nós e trouxeram sua leitura dos mesmo artigo. Eis aqui nossa primeira subversão: o argumento das Jornadas é a soma deste trabalho, o grão de sal de cada um para o tema e que será apresentado em três encontros: no encontro de hoje, dia 26 de agosto e 02 de setembro. Nada de mestres!!!!
E assim seguiremos escutando colegas da EBP, da NEL e da EOL, Rosana Paulino, artista plástica, Ricardo Souza da Carvalho, professor de literatura brasileira falando de Lima Barreto. A conclusão das nossas jornadas fora da série se dará com as mesas simultâneas onde poderemos recolher como o trabalho em torno do tema Subversões ressoou em cada um. Cabe aqui lembrar que os cartéis – esta invenção de Lacan que nos põe à trabalho –, são um dispositivo para que cada um se ponha a investigar um aspecto da Subversão.
Em torno das perspectivas: Teoria psicanalítica: sujeito do inconsciente, pulsão e gozo; Ato, interpretação e desejo do analista; “O inconsciente é a política” e O feminino e as subversões, acolheremos os trabalhos enviados, zelando para que a clínica apareça apenas a partir dos casos da literatura psicanalítica.
Amanhã o primeiro boletim Fora da Série será publicado com todas as informações sobre o funcionamento das Jornadas, o programa completo e o procedimento para a inscrição que terá o valor de R$150,00. Parte deste valor será usado para cobrir os gastos com a infraestrutura, parte para o caixa da Seção São Paulo e parte será doado para o enfrentamento da pandemia.
O entusiasmo, a leveza e o bom humor que marcaram o trabalho até o momento do seu lançamento foi um alento para a dureza dos dias que seguem, e só tenho a agradecer aos colegas que aceitaram construir esta proposta conjuntamente. Um trabalho coletivo que traz a marca de cada um que aceitou mergulhar sem saber em que porto ancoraríamos. Mas, uma vez mais, experimentamos que deixar aberta as vias da transferência de trabalho nos leva à Escola, ao vivo da Escola!